Factoides

HUMOR: Leave Mandela alone

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Pobre Mandela. O cara passa décadas lutando contra o apartheid, 27 anos preso, descobre que a mulher (também acusada de envolvimento em assassinato e corrupção) o trai, suporta brigas em família, é homenageado com um monte de música ruim e confundido com o Morgan Freeman. Como se tudo isso não bastasse, nem depois de morto ele consegue descansar: diria até que ele morre de novo a cada vez que uma cavalgadura de direita ou de esquerda o cita na internet, esse lugar onde não há limites para o chorume.

Do lado direito, alguns comedores de alfafa REVELAM que Mandela "não era santo" (cêjura?) e fazem boquinhas de nojo: "ui, comuna, terrorista", "olha lá ele com o Fidel, eca". No máximo, admitem que pois é, tinha isso de apartheid e tal (só um DETALHE, como o gol para o Parreira). E amigos lembram que, na época em que o regime racista o prendeu, ele pregava a violência, inclusive contra negros considerados traidores --o que é verdade.

Mas, para esse pessoal, parece que a história parou em 1963 --é como se Mandela não tivesse feito exatamente o oposto de pregar a violência 30 anos depois, quando se viu livre e com poder pra insuflar um banho de sangue se quisesse (a expressão "banho de sangue" é clichê, mas o risco de que houvesse um na África do Sul era de fato altíssimo). Diferente de Fidel Castro, hoje igualzinho ao que era há 50 anos, apenas mais decrépito.

(E, como bem disse o amigo Mário Vilela no Facebook, "você precisaria ser um ET ou um invertebrado pra não abraçar em alguma medida o marxismo e/ou a violência se fosse preto na África do Sul dos anos 50 e 60". Mas sei que hoje a empatia é uma arte perdida.)


Do lado esquerdo, também alimentados com alfafa, estão aqueles que não suportam que se veja Mandela como velhinho bonzinho --não, ele era mauzão, apavorava geral, fiquem vocês sabendo etc. (de novo, como se aqueles 30 anos não tivessem existido). Um deles chegou a dizer que não gostaria que o líder fosse lembrado por uma "paz burguesa". Deve ser o tipo de idiota lambedor de tampa de iogurte grego que consegue no máximo R$ 0,20 a menos na passagem de ônibus e acha que chegar à paz naquele caos foi MOLEZINHA.

A grandeza de Mandela, incluindo suas falhas e suas contradições, está na história toda. Alguns preferem focar só num pedaço dela e apagar ou distorcer todo o resto. É normal: a própria palavra "grandeza" recende a naftalina hoje. Em 140 caracteres ou nos posts do Facebook a gente não consegue ser grande, mas há espaço de sobra pra ser mesquinho.


E o Tubby, hein? No fim, era trollagem e eu também caí (bem-feito pra mim, que tirei sarro de otários aqui e acabei renovando minha carteirinha vitalícia do sindicato da categoria). Talvez o pior seja reconhecer que um aplicativo como esse poderia ser 100% verdade. Ou vocês esperam algo do cerumano que não seja o pior?


RUY GOIABA nunca viu três coisas: cabeça de bacalhau, enterro de anão e filme em que o Morgan Freeman não interprete o Personagem Velho e Sábio que Dá Lições de Vida. Pensando bem, quatro: podem pôr "filme argentino sem o Ricardo Darín" nessa lista.

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