A segunda fase de 'Velho Chico' ou a polêmica peruca do Fagundes
Há uma semana, “Velho Chico” passou para a sua segunda fase. É uma das maravilhas do mundo das novelas: elencos inteiros que saem para que outros atores vivam os mesmos personagens, e a gente possa se divertir na comparação.
Os noveleiros mais velhos não vão esquecer duas lembranças de Benedito Ruy Barbosa: o belíssimo capítulo em que os personagens de “Pantanal” (1990) envelhecem, com Paulo Gorgulho dando lugar a Cláudio Marzo como o Coronel Leôncio e Carolina Ferraz como Irma, quase garota, cavalgando até se transformar em Elaine Cristina (por onde anda? Um beijo, Elaine Cristina).
E em 1993, o carismático Coronelzinho de “Renascer” (Leonardo Vieira) passando o bastão para o mais velho Coronel Zé Inocêncio (Fagundes).
Se a primeira fase de “Velho Chico” fosse um filme de Hollywood, merecia umas dez indicações ao Oscar. Uma direção espetacular, aquela fotografia toda no bronze, Rodrigo Santoro no melhor papel da carreira (não tô falando só de TV), Rodrigo Lombardi e Fabiula Nascimento ótimos em curtas aparições, uma série de novos atores com muito potencial (Renato Góes, Julia Dalavia, Pablo Morais).
Para segunda fase, a coisa complicou um pouco, principalmente quando o assunto é o protagonista, o Coronel Afrânio, ou Saruê. Santoro fazia um Afrânio trágico, que foi tornando-se amargo com o tempo. De repente, entra Fagundes com uma peruca ridícula, figurinos pomposos emprestados de um mestre-sala de escola de samba ruim, e —o pior— atacando num registro meio cômico, em cenas sem muita graça.
Talvez o problema todo seja um só: Fagundes já viveu coronel demais nas novelas, incluindo "O Rei do Gado" que acabou de reprisar —e aos 67 fica muito difícil não se repetir.
Cristiane Torloni, como a nova Iolanda, e Marcelo Serrado como o genro Carlos, não conseguem agregar valor à trama. Ela ainda muito meiga e dramática para uma mulher já há tantos anos com o Coronel; ele querendo fazer uma coisa pitoresca e pseudo-engraçada que não cola.
Camila Pitanga, que há menos de um ano apanhou do público como a heroína Regina de “Babilônia”, já voltou ao papel de mocinha. Como o registro aqui é mais romântico, ela dá conta do recado —mas já tem gente reclamando...
É preciso dizer que a direção de Luiz Fernando Carvalho, apesar de um pouco diluída em relação à primeira fase —afinal, não dá para fazer cinema 50 minutos por dia, seis dias por semana—, continua com momentos de inspirada beleza. E um casal já mostrou toda a sua química: Irandhir Santos (o vereador Bento) e Dira Paes (a professora Beatriz).
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