Classificação indicativa gera apreensão para o lançamento do filme "Shame"

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Na segunda-feira, os apreensivos mini-estúdio Fox Searchlight e o cineasta inglês Steve McQueen receberam uma ótima notícia.

A revista semanal Newsweek escolheu para sua reportagem de capa o tópico do vício pelo sexo, um problema que, segundo a publicação, atinge números recordes nos Estados Unidos e pode até ser visto como uma epidemia. O tema da matéria de seis páginas da revista está atrelado ao lançamento do filme "Shame", dirigido por McQueen, estrelado pelo ator alemão Michael Fassbender (uma das grandes revelações de 2010-2011) e cuja trama acompanha a vida de um "yuppie" nova-iorquino que não consegue conter sua obsessão sexual, e a concretiza via encontros sexuais anônimos.

O filme recebeu o prêmio de interpretação masculina (para Fassbender) no último Festival de Veneza e é esperado que o alemão também seja um dos cinco finalistas para a corrida do Oscar de melhor ator. A capa da "Newsweek" não só dá uma grande visibilidade ao trabalho de Fassbender como um grande impulso para este pequeno filme que custou menos que US$ 6,5 milhões para ser rodado. O burburinho em torno do filme também é grande.

O grande problema de "Shame", que estreia amanhã, e que tem deixado produtores e diretor apreensivos é a qualificação etária que o filme recebeu do órgão que regula a censura cinematográfica nos Estados Unidos: a NC-17, reservada a filmes com cenas de sexo ou extrema violência. Pior que está classificação etária, que proíbe a entrada de menores de 17 anos sem a presença de adultos nos cinemas, só o X dos filmes pornôs. "Shame" é repleto de cenas de sexo e existe uma polêmica cena de nu frontal do ator Fassbender, com o pênis do ator semi-ereto.

Um filme que recebe a classificação etária NC-17 geralmente ganha grande destaque na mídia americana, mas, do ponto de vista comercial, ele é considerado como uma grande dor de cabeça para seus distribuidores, devido a limitação de sua campanha publicitária e a quantidade de salas que o filme pode ser exibido. Algumas redes de cinemas dos Estados Unidos têm regras estritas de não exibirem filmes com censura NC-17; emissoras de TV não veiculam trailers do filmes em suas inserções comerciais durante o horário nobre; e vários jornais se recusam a publicar pôsteres de publicidade (com os horários do filme) em suas páginas. E, quando o filme for lançado em DVD (geralmente seis meses depois de seu lançamento nos cinemas), grandes cadeias de lojas como o WalMart se recusam a vender o filme. E também difícil alugar um filme NC-17, uma vez que cadeias de locadoras como a Blockbuster não estocam o filme em seu acervo.

Em 2004, por exemplo, vários jornais vetaram anúncios do filme "Os Sonhadores", do cineasta italiano Bernardo Bertolucci, que recebeu a classificação NC-17 por causa de uma cena de sexo entre os personagens interpretados por Michael Pitt e Eva Green. Sem publicidade, o filme teve uma bilheteria tépida (US$ 2,5 milhões). O cineasta Ang Lee também não escapou do estigma que ronda os filmes NC-17 e sua produção "Desejo e Perigo", lançada em 2007, só arrecadou um total de US$ 4,6 milhões.

A classificação NC-17 foi criada em 1990 depois de uma grande polêmica criada no ano anterior, com o lançamento dos filmes "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante", estrelado por Helen Mirren, e o ultra-violento "Henry - Retrato de um Assassino", sobre o assassino serial Henry Lee Lucas. Os estúdios que lançaram os dois filmes tiveram dificuldades de encontrar cinemas para exibi-los e veículos de imprensa para fazer seus anúncios. Pressionada, a MPAA, que regula a censura cinematográfica nos Estados Unidos, surgiu com a NC-17, classificação intermediária, com nome mais cosmético, mas que livrava os filmes do estigma da classificação X. Até hoje, somente dois filmes NC-17 conseguiram arrecadar mais do que US$ 10 milhões na bilheteria. São eles as produções americanas "Showgirls" (US$ 2,3 milhões) e "Henry & June" (US$ 11.5 milhões), este o primeiro título a ser lançado sob a classificação X-17.

Com uma campanha de marketing salientando que "Shame" é o novo "O Último Tango em Paris", o estúdio Fox Searchlight está tomando todo o cuidado no lançamento de seu filme, criando uma ênfase na publicidade feita na internet. Na página do filme no Facebook, o trailer de "Shame" salienta as cenas de sexo do filme, mas também aponta todos os prêmios que a produção ganhou nos festivais internacionais de cinema. Nancy Utley, presidente da Fox Searchlight, diz que a campanha do filme é focada em três temas: "o filme é provocante, explícito e de grande qualidade artística".

Crédito: Alberto Pizzoli/France Presse Michael Fassbender posa com o prêmio de melhor ator na festa de encerramento do Festival de Veneza
Michael Fassbender posa com o prêmio de melhor ator na festa de encerramento do Festival de Veneza

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