Celebridades

Mordidas de Suárez podem ter ligação com infância, dizem especialistas

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Jogador mais importante do Uruguai, Luis Suárez está fora da Copa. O jogador foi punido pela Fifa após, pela terceira vez em seu passado recente, morder um adversário –no caso, o zagueiro italiano Giorgio Chiellini.

Comportamentos violentos no futebol não são novidade, mas a mordida de Suárez chamou atenção da imprensa e torcida internacionais.

Perguntada sobre o porquê da "escolha" recorrente de Suárez de agredir com uma mordida, Ana Bock, professora da PUC-SP (Pontífícia Universidade Católica), diz que seria necessário avaliar o jogador, mas que o comportamento pode ter origem em sua infância.

"Cada pessoa se constitui com certas 'manias', digamos assim, ele provavelmente tem alguma coisa com a boca, alguma tensão", diz. "Nas escolas, sempre têm crianças que são 'as que mordem'. Provavelmente ele era assim e nunca foi reprimido por isso, aí o comportamento continuou –pode ver que os próprios companheiros de time não o recriminaram pelo que aconteceu".

Apesar disso, Bock diz não acreditar que as mordidas indiquem que Suárez sofra de algum problema psicológico.


"[A mordida] é só a maneira de Suárez manifestar uma intolerância (...) tem gente que xinga, dá cabeçada, soco, tem gente que dá tapa, puxa o cabelo; ele morde" diz Bock. "Não acho que sofra qualquer distúrbio –além de talvez ter 'pavio curto'–, nem acho que seja necessariamente mais violento que outros jogadores".

Para Patrícia da Silva Sampaio, doutora em pedagogia pela USP, a agressão mostra uma falta de habilidade para lidar com situações de conflito e pode mesmo ter raízes na infância do jogador.

"Esse tipo de comportamento acontece com quem não desenvolveu uma real percepção dos sentimentos e direitos do outro, o que se dá da infância para a adoslescência", diz. "Crianças que cresceram em relações cooperativas e democráticas têm muito mais chances de se tornar adultos mais colaborativos, justos e pacíficos."

Em entrevista à "BBC" –em abril, comentando outra mordida de Suárez– o psicólogo esportivo Thomas Fawcett, da Universidade de Salford, também atribui o temperamento de Suárez a questões de sua infância. "Olhando para sua biografia, Suárez teve uma criação difícil, teve que lutar pela própria sobrevivência", tentou explicar.

IRRACIONAL
Outro ponto apontado pelos especialistas é que a agressão de Suárez a Chiellini e a outros jogadores não partiu de uma decisão racional feita pelo jogador.

"[A mordida] é uma resposta muito espontânea, emocional" para uma situação de tensão, "Ele faz isso por impulso", disse Fawcett.

Cláudio Meneghello Martins, diretor da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) rejeita fazer qualquer diagnóstico, mas tem opinião parecida com a de Fawcett.

Para ele, Suárez pode ter passado por um episódio que chamado de "descontrole de impulso, quando uma situação leva a alguém a sair de seu estado de racionalidade e fazer algo que pode lhe causar um grande prejuízo, como aconteceu com ele."

REPERCUSSÃO
Ao defender seu colega de time, o zagueiro Diego Lugano citou outros episódios supostamente mais violentos na Copa e que receberam punição mais branda.

"Eu tenho visto nesta Copa cotovelada no nariz, afundando adversário (...). Isso sim é perigoso. Isso é violência. Neste Mundial teve briga entre companheiros e cabeçada no adversário, e não vi ninguem falar disso", disse.

Um dos exemplos indiretamente citados por Lugano foi protagonizado pelo zagueiro português Pepe, que agrediu com uma cabeçada o atacante Thomas Muller no jogo entre Portugal e Alemanha. Pepe foi punido com um jogo de suspensão.

Para os especialistas a mordida de Suárez em Chiellini de fato pode ter causado mais comoção –e punição mais severa– do que outros atos de violência no esporte por ser incomum.

"Morder choca mais porque foge do padrão, é uma coisa primitiva, associada à infância", diz Cláudio Martins.

"A mordida não é mais violenta que outros atos, como um tapa ou até mesmo um xingamento. Talvez seja só mais incomum", concorda Bock.

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