Filme narcisista de Kanye West passa despercebido em Cannes
O rapper Kanye West aproveitou o Festival de Cannes para lançar seu projeto multimídia "Cruel Summer", uma mistura de música, cinema e instalação artística. Mas a iniciativa está passando despercebida na Croisette.
A assessoria do filme hypou o evento como se fosse a ressurreição de Luis Buñuel. Enviou e-emails para jornalistas do mundo inteiro que estão cobrindo Cannes, dando a oportunidade de assistir à obra. Quem se interessasse precisaria preencher um formulário de confirmação em um site especial. Preenchemos assim que recebemos o aviso.
A pompa toda era em vão. A Folha visitou a tenda em forma de pirâmide na distante Palm Beach, e o local estava vazio, apenas com as simpáticas atendentes e os técnicos responsáveis pela projeção.
Não existia sinalização nenhuma no estacionamento onde a instalação foi montada. Nada indicava que ali havia algo especial.
Ninguém pediu convite impresso --como a assessoria dizia no e-mail-- e nem confirmação em alguma lista, nem fomos na hora marcada. Qualquer pessoa podia entrar em sessões que passavam de hora em hora.
Escolhemos a sessão das 14h, em um raro intervalo das entrevistas e sessões de filmes em Cannes. Até dois minutos antes de começar a exibição, não havia mais ninguém na tenda com assentos de carpete vermelho para cerca de cem pessoas. Quando a projeção começou, sete corajosos estavam na plateia, inclusive dois membros da equipe técnica com um controle remoto.
O esquema de "Cruel Summer" é o seguinte: são cinco telas separadas formando um semicírculo lateral, mais uma tela no chão e outra no teto. É uma versão modernosa do extinto cinema 180° do Playcenter.
O filme de 30 minutos, com raros diálogos e muita música (o remixe de "Paradise", do Coldplay, fecha a brincadeira), começa com o rapper abrindo uma escotilha na tela superior como se fosse a abertura da série "Lost". Enquanto Kanye West desce uma escada, as outras projeções são acionadas. O efeito não é ruim. Existe a imersão. Mas não há novidade, e o calor na tenda atrapalha.
"Cruel Summer" é um videoclipe alongado que reflete a personalidade narcisista de Kanye West. Imagens épicas, codirigidas por Alexandre Moors --responsável por "N** in Paris", do próprio West--, mas jogadas como um documentário da National Geographic.
Há cavaleiros árabes, sultões e dançarinas do Oriente Médio, mostrando que West não é idiota: a brincadeira foi feita com o apoio do Instituto de Cinema de Doha, capital do Catar.
A instalação fica aberta ao público apenas até essa sexta-feira (25). Mas ninguém está correndo.
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