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Pornô deepfake: 'As imagens falsas com a minha cara ainda me dão pesadelos'

Helen Mort foi informada de que nenhuma ação poderia ser tomada em relação às imagens pornográficas falsas com seu rosto
Helen Mort foi informada de que nenhuma ação poderia ser tomada em relação às imagens pornográficas falsas com seu rosto - BBC News/Emma Ledwith
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Sara Royle
BBC News Brasil

Uma mulher no Reino Unido que foi vítima de pornografia deepfake —imagens em que se usa computação gráfica para falsificar o rosto de uma pessoa no corpo de outra— está pedindo uma mudança na lei britânica.

No ano passado, a poetisa Helen Mort descobriu que imagens suas, sem nenhum conteúdo sexual, haviam sido enviadas para um site pornô. Os usuários do site passaram a editar as fotos, mesclando o rosto de Helen com imagens sexuais explícitas e violentas.

Helen Mort disse para a BBC que quer criminalizar a criação e distribuição desse tipo de imagem. "Este é um crime que, em muitos casos, ocorre de forma invisível", disse Helen. "Essas imagens minhas já existiam há anos e eu não sabia sobre elas, e ainda estou tendo pesadelos com algumas delas agora. É uma forma incrivelmente séria de abuso."

Deepfakes são imagens ou vídeos realistas gerados por computador, baseados em uma pessoa real. Helen, uma poetisa e escritora da cidade inglesa de Sheffield, foi alertada sobre as imagens falsas por um conhecido.

As imagens originais foram copiadas de suas redes sociais e incluíam fotos de férias e fotos de sua gravidez. Ela disse que embora algumas das imagens tenham sido claramente manipuladas, havia mais alguns exemplos "assustadores" que eram "muito mais plausíveis".

"Você passa por diferentes fases com coisas assim", disse ela. "Houve um ponto em que eu estava apenas tentando rir sobre a natureza quase ridícula de algumas coisas."

"Mas, obviamente, o sentimento subjacente era de choque e, na verdade, inicialmente me senti bastante envergonhada, como se eu tivesse feito algo errado. Foi uma coisa bastante difícil de superar. Por um tempo, eu ficava extremamente ansiosa até mesmo para sair de casa." Ela alertou a polícia sobre as imagens, mas foi informada de que nenhuma ação poderia ser tomada.

A LEI

A professora de direito na Royal Holloway University de Londres, Aislinn O'Connell, explicou que o caso de Helen não se enquadra na lei atual. "Na Inglaterra e no País de Gales, de acordo com a seção 33 da Lei de Justiça e Tribunais Criminais de 2015, é crime distribuir ou ameaçar distribuir sem consenso uma fotografia ou filme sexual privado com a intenção de causar aflição à pessoa retratada", disse.

"Mas isso só se aplica aos casos em que a foto ou vídeo original era privado e sexual. Na situação de Helen, onde fotos não sexuais foram mescladas com fotos sexuais, isso não é coberto pela lei criminal."

"Além disso, como as fotos não foram compartilhadas diretamente com Helen, nem parecia ser a intenção de causar aflição a Helen, o segundo elemento não foi cumprido —embora tenha, evidentemente, causado aflição. A outra ofensa criminal potencial seria assédio, mas dado que o perpetrador aqui não dirigiu o vídeo contra a própria Helen, isto também não se aplica. "

Uma comissão independente está atualmente revisando a lei no que se refere a tirar, fazer e compartilhar imagens íntimas sem consentimento. O resultado da consulta deve ser publicado ainda este ano. No entanto, O'Connell diz que o processo de mudança da lei levaria anos, o que ela diz ser "tempo demais".

Helen espera usar sua experiência para aumentar a conscientização sobre pornografia falsa e lançou uma petição pedindo uma mudança na lei, que recebeu mais de 3.400 assinaturas. Ela também escreveu um poema em resposta às imagens.

"Sou escritora por profissão", disse ela. "E pensei que a única coisa que me permitiria recuperar qualquer sentido aqui seria dizer algo sobre isso usando minha forma de arte. Esse é o único poder que tenho."

O governo britânico disse que está tomando medidas para lidar com novas e emergentes formas de violência contra mulheres e meninas, incluindo abuso de imagens íntimas, "seja por cyber-flashing (em que uma pessoa manda fotos pornográficas para outras sem o consentimento de quem as recebe), pornografia de vingança ou vídeos deepfake".

"Atualmente, estamos prestando consultoria sobre o desenvolvimento de nossa nova estratégia para enfrentar a violência contra mulheres e meninas e encorajamos as pessoas a darem suas opiniões", disse um porta-voz.

"Esta nova estratégia irá garantir que as vítimas e sobreviventes sejam apoiados e que os perpetradores sejam identificados e levados à justiça".

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