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Música
Descrição de chapéu The New York Times

Como Conan Gray passou dos vídeos no YouTube a estrela pop em ascensão

Cantor assinou primeiro contrato após vídeo explodir na internet

Conan Gray posa em Pasadena, na Califórnia Simone Niamani Thompson/The New York Times

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Jeremy Gordon
The New York Times

A primeira canção que Conan Gray compôs na vida, chamada "Those Days", era sobre o período em que ele morou em uma pequena cidade do Texas chamada Rockdale (5.505 moradores).

"O lema da cidade era ‘a uma hora de distância de tudo’, e a principal atividade era ir ao Walmart", ele recordou em uma recente entrevista por vídeo.

Gray citou alguns dos versos melancólicos da canção, de seu apartamento em Los Angeles, com os cabelos longos e revoltos presos em um rabo de cavalo firme, e franzindo os olhos como se não tivesse certeza da letra. "E eu sei que você na verdade não gostou da maneira/ Pela qual chamei teu nome/ Mas espero que meu jeito de ser naqueles dias não tenha te incomodado".

Depois ele fez uma pausa, para admitir o melodrama da letra: Gray tinha 12 anos quando compôs a canção, e sete quando morou em Rockdale, e a ideia de que tivesse assumido uma perspectiva tão contemplativa, em idade tão precoce, o levou a cair na risada.

"Naquela época, quando eu tinha sete anos", ele disse, com um floreio exagerado.

Que Gray, 23, tivesse sentimentos tão fortes em uma idade tão tenra não surpreende. Nos últimos anos, ele construiu uma audiência ampla nas plataformas de mídia social ao falar com franqueza sobre sua vida e ao cantar sobre as emoções mais sofridas que os jovens conhecem –ou seja, amor não correspondido, e a angústia muito especial de contemplar de longe a pessoa a quem você poderia amar. ("Heather", uma de suas canções mais populares, é sobre a inveja que ele sente da mulher que está saindo com o seu "crush".) Nesse modelo, ele não é muito diferente de diversos cantores e compositores da Geração Z que usaram a internet a fim de superar as barreiras tradicionais ao ingresso na indústria da música, e o fizeram expondo seus corações.

Mas além de seu tenor ascendente e de sua aparência de galã de boy band, Gray se diferencia da concorrência pelo distanciamento reflexivo que suas composições exibem. Em lugar de simplesmente destilar seus sentimentos, ele tem o instinto necessário a compreender o quadro mais amplo, e a aceitar o período melancólico de desaquecimento que se segue às decepções amorosas. Em uma canção chamada "Yours", de seu novo álbum, "Superache", que foi lançado no último dia 24, sua voz atinge uma nota aguda e dolorosa quando ele canta sobre o armistício forçado imposto por um romance no qual não existe equilíbrio entre as duas partes: "Quero mais/ Mas não sou seu/ E não tenho como te fazer mudar de ideia/ Mas você continua minha".

"Parte do que faz de Conan aquilo que ele é está em sua conexão direta com toda uma geração de jovens que cresceram com a internet", disse Eddie Wintle, empresário de Gray desde 2016 (com sua sócia Colette Patnaude). "Desde que continue a fazer isso, acho que o céu é o limite em termos do que ele pode realizar".

A intensidade das emoções do compositor às vezes é esmagadora, e Gray disse que seu novo disco "não foi divertido de fazer".

"Meu primeiro álbum foi muito mais fácil, porque eu estava só me apresentando –oi, meu nome é Conan, tenho 19 anos e alguém partiu meu coração", ele disse. "Já o segundo disco, meu Deus, agora preciso dizer às pessoas quem eu realmente sou".

Nascido em Lemon Grove, Califórnia, filho de um pai caucasiano e mãe japonesa que se separaram quando ele tinha três anos, Gray teve uma infância perambulante; passou alguns anos no Japão, e depois viveu em diversas cidadezinhas até enfim se radicar em Georgetown, Texas.

A existência dele na cidade, como uma das poucas crianças de origem asiática na escola, era "brutal", em muitos momentos. A música oferecia uma oportunidade de se expressar. Ele compôs "Those Days" depois de ver um vídeo no qual Adele cantava em seu quarto, e de ficar imaginando se seria capaz de fazer a mesma coisa. O YouTube foi outra inspiração. Quando adolescente, ele começou a gravar vídeos sobre sua vida, com títulos como "50 fatos a meu respeito" e "rotina escolar", além de gravar covers, se acompanhando no violão.

"Era algo que eu fazia porque, bem, o que mais se pode fazer quando você mora em uma cidade aleatória no meio do Texas?", disse Gray. "Eu não tinha como avaliar que havia pessoas reais assistindo àqueles vídeos."

Quando chegou ao final do segundo grau, seu canal do YouTube tinha cerca de 200 mil assinantes, mas foi em 2017 que as coisas mudaram drasticamente, quando ele lançou uma composição independente, "Idle Town", um esforço por antecipar a nostalgia com que se lembraria de sua vida naquela cidade pequena, uma vida da qual ele tinha aprendido a gostar. O vídeo que acompanhava a canção combinava imagens de Gray e seus amigos a cenas que o mostravam correndo por uma comunidade de aposentados local, gravado "com um tripé preso com fita adesiva ao Toyota da minha mãe". O vídeo explodiu na internet e o sucesso o levou a abandonar a Universidade da Califórnia em Los Angeles ainda no primeiro ano, e a assinar um contrato com a Republic Records.

"Eles viram a mesma coisa que nós vimos", disse Wintle, "ou seja, acreditaram em que ele poderia se tornar um grande astro. E estavam muito abertos a garantir que não houvesse um esforço para tentar moldá-lo, e fazer dele alguma coisa que ele não é".

"Kid Krow", o disco de estreia de Gray, foi lançado em março de 2020, imediatamente antes que a pandemia forçasse uma paralisação mundial. A turnê que ele estava planejando foi cancelada e, como muitas outras pessoas, Gray se viu passando muito tempo trancado em casa, sozinho.

"Passei dois anos pensando muito mais do que deveria", ele disse.

"Superache" foi gravado aos poucos, durante um período de 18 meses, com canções escolhidas de um repertório que inicialmente tinha 250 músicas.

"Demoramos um pouco para descobrir o que estávamos fazendo", disse Dan Nigro, o produtor de "Superache", que trabalhou com Gray em quase todas as suas composições pós-YouTube.

Um ponto de inflexão veio em fevereiro de 2021, quando eles completaram os singles "Astronomy" e "People Watching".

"Aquilo parecia um novo desenvolvimento para Conan, uma persona mais madura do que a de ‘Kid Krow’", disse Nigro, também produtor de "Sour", o primeiro álbum de grande sucesso de Olivia Rodrigo. "Isso nos deu a confiança de que precisávamos para acreditar que tínhamos o começo de alguma coisa muito especial, ali".

"People Watching", na qual Gray admira e anseia por um relacionamento como o do casal que ele observa, foi inspirada por um casal de pessoas que ele costumava espiar durante sua breve passagem pela universidade. "Quero sentir todo aquele amor e emoção/ Ser assim ligado à pessoa que estou abraçando", ele canta em voz embargada, enquanto a música cresce ao fundo.

"Sempre fui muito mais um observador da vida do que um participante", disse Gray. "Especialmente nos últimos anos, vivo vicariamente por meio das vidas que outras pessoas levam, e que posso observar".

No entanto, nos últimos meses muitos ouvintes certamente vêm cobiçando a vida em rápida transformação que o cantor está levando. Quando a indústria da música emergiu dos lockdowns, ele ganhou destaque, se apresentando no Coachella e participando do Met Gala, vestido em calças prateadas com detalhes em vidro e sapatos brancos com saltos plataforma. Fã ardoroso de Taylor Swift, quando era mais jovem, ele agora foi convidado a promover pessoalmente a música dela, e é muito amigo de Rodrigo.

Nigro disse que os dois cantores "fazem o que querem com sua música", e enfatizou que muitos outros artistas jovens se deixavam influenciar desnecessariamente por outras vozes.

Gray falou sem hesitar sobre a dificuldade de lidar com a dúvida e com o questionamento a si mesmo, ao percorrer seu caminho na indústria da música.

"Nos últimos anos, eu realmente vim a perceber que preciso me autorizar a cometer erros, se desejo crescer e não me transformar em um ser humano atrofiado", ele disse. "Precisei que Dan e meus amigos me dissessem que isso não importa, e que é melhor sentir tristeza do que sentir coisa alguma".

"Superache" registra esse complicado processo. O título [superdor] pretende brincar um pouco com a situação, ressaltando os sentimentos grandiosos que surgem quando uma desilusão amorosa se torna obsessiva.

"Se o sentimento é genuíno, é impossível que seja dramático demais, porque é um retrato acurado do que está acontecendo", disse Gray. "Tudo que realmente quero é que as pessoas se vejam como um pouco menos insanas, nas emoções todas que estão sentindo agora".

Tradução de Paulo Migliacci

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