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Descrição de chapéu The New York Times beleza

Cirurgias plásticas de luxo atingem outro nível e superam R$ 1 milhão

Médicos usam suas técnicas, sensibilidade e experiência para justificar valores

Cirurgias plásticas de luxo atingem um outro nível e superam R$ 1 milhão

Cirurgias plásticas de luxo atingem um outro nível e superam R$ 1 milhão Vanessa Saba/The New York Times

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Tatiana Boncompagni
The New York Times

Como diz a famosa citação de F. Scott Fitzgerald, os ricos são diferentes de você e de mim –e o mesmo vale para suas plásticas faciais, aparentemente.

Pergunte a Hilda Back, 63, que viajou de sua casa em The Woodlands, Texas, a Nova York e desembolsou US$ 230 mil (R$ 1,1 milhão) para uma cirurgia estética facial realizada por Andrew Jacono, um cirurgião plástico talvez mais conhecido pela recente plástica facial do estilista Marc Jacobs.

Back disse que o custo de sua intervenção, que incluiu correções na testa, na porção inferior e superior dos olhos, ajuste facial, correção dos lábios, correção do pescoço, reconstrução dos lóbulos e rinoplastia, "foi um pouco mais alto do que eu esperava", mas ela está feliz com os resultados.

"Eu tenho um Rolls-Royce, tenho três casas, tenho tudo que possa desejar, mas ainda assim me sentia deprimida", disse Back. "Minha forma de interpretar a situação é a seguinte: este é o meu rosto, e irá comigo aonde quer que eu for".

Assim, por que não uma plástica facial de US$ 200 mil (R$ 995 mil)? O custo de uma cirurgia estética realizada por um dos cirurgiões plásticos de elite —cujo trabalho é divulgado astutamente e que em geral se especializam em trabalho facial e têm prazos de espera de meses de duração, a despeito de seus honorários– disparou nos últimos anos, assim como aconteceu com os preços dos imóveis, arte, carros e outros objetos colecionáveis de luxo.

"É um pouco como a grife em uma roupa ou a ideia de que quanto mais alto for o preço de um vinho, melhor ele será", disse Jonathan Sykes, cirurgião plástico em Beverly Hills e antigo presidente da Academia Americana de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Facial. "Uma cirurgia facial vale o preço altíssimo que está sendo cobrado? Só o consumidor pode decidir quanto a isso". (As cirurgias faciais de Sykes custam entre US$ 40 mil e US$ 50 mil —R$ 200 mil a 250 mil— , ele disse.)

Embora as pressões inflacionárias, que incluem o custo dos suprimentos médicos e os salários do pessoal de apoio, e a alta na demanda –algo que o setor apelidou de "o boom do Zoom"— tenham levado muitos cirurgiões a aumentar seus preços, o custo médio de uma cirurgia facial nos Estados Unidos cresceu apenas marginalmente, para US$ 9.127 (R$ 45,4 mil) em 2021, um aumento de 3% ante 2020, de acordo com a Aesthetic Society, que congrega cirurgiões plásticos certificados.

Os médicos que promovem cirurgias faciais "padrão designer" insistem em que suas técnicas avançadas, sensibilidade estética aguçada e ampla experiência os autorizam a cobrar esses preços. Lara Devgan, cirurgiã plástica em Nova York, comparou o que ela faz a "encomendar a um artista um quadro muito bonito". Devgan, cuja conta no Instagram tem 690 mil seguidores, cobra até US$ 200 mil (R$ 995 mil)por uma plástica facial.

"À primeira vista, a soma pode parecer alta, mas penso no que faço como uma questão de valor e não de custo", disse Devgan. "O rosto de uma pessoa é seu emprego, sua vida amorosa, sua identidade".

Julius Few, cirurgião plástico em Chicago e Los Angeles, cobra US$ 50 mil (cerca de R$ 250 mil) por uma "cirurgia facial básica", disse, "e chego aos seis dígitos" no caso de procedimentos mais extensos. Ele falou de seu amor pela pintura e fotografia, e de seus 22 anos de concentração no trabalho facial.

"Para os pacientes afluentes de que trato, a experiência é mais parecida com adquirir uma obra de arte do que com solicitar um procedimento técnico", disse Jacono, que é um dos pioneiros de uma técnica conhecida como cirurgia facial de "plano profundo estendido", que ele ensinou a outros cirurgiões em todo o mundo.

A diferença chave entre uma cirurgia facial de plano profundo e uma cirurgia SMAS (sigla para "sistema músculo aponeurótico superficial", que se refere à camada de tecidos e fáscias entre a pele e os músculos do rosto), é que a cirurgia de plano profundo permite manter a adesão entre a pele e o SMAS, preservando os capilares e o fluxo sanguíneo para a pele, enquanto a técnica SMAS os separa. A cirurgia de plano profundo funciona ao reposicionar ligamentos faciais que se distendem com a idade e o efeito da gravidade, permitindo movimento da face, para que ela não pareça estirada, como costumava acontecer em plásticas faciais do passado.

Muitos cirurgiões realizam cirurgias faciais de plano profundo e não pedem que seus pacientes paguem quase um quarto de milhão de dólares pelo procedimento. "Eu entendo esse tipo de trabalho como um item de luxo, e tem um grande valor, mas não deveria ficar restrito ao 1%", disse o médico Matthew White, cirurgião plástico em Nova York que faz cirurgias faciais complexas de plano profundo.

White disse que o procedimento certamente merece ter preço mais alto, porque requer muita técnica, mas que, moral e eticamente, uma gama maior de pacientes deveria ter acesso a esse tipo de trabalho.

Para as pessoas endinheiradas –apesar dos sentimentos expressados pelo cirurgião—, a ideia de gastar um dinheiro que bastaria para pagar por quatro anos de educação universitária a fim de fazer uma cirurgia eletiva mal causa estranheza.

Steven Levine, um cirurgião plástico de Nova York, se recorda de uma visita de acompanhamento a uma paciente que estava para experimentar um vestido que ela usaria no Met Gala, e pelo qual ela disse ter pago US$ 425 mil (R$ 2,1 mi). "Eu pensei comigo mesmo que a cirurgia dela tinha sido uma pechincha", disse Levine, que cobra de US$ 50 mil (R$ 250 mil) a US$ 110 mil (R$ 550 mil) por uma cirurgia da face, testa e pescoço, com correções nas pálpebras superiores e inferiores.

Assim, presumindo que uma quantia como essa esteja dentro de seu orçamento, o que exatamente um paciente compra por US$ 200 mil (R$ 995 mil)?

Os preços de cirurgias são determinados com base em diversos fatores, entre os quais seu grau de complicação e o número de áreas do rosto que precisam de tratamento. Uma cirurgia facial pode incluir trabalho na testa, nas pálpebras superiores e inferiores, rinoplastia, correção labial, correção da porção central do rosto, correção do pescoço e diversos outros itens adicionais –enxertos, remoção de bolsões de gordura, tratamento da pele com lasers–, e cada uma dessas coisas eleva o preço final em alguns milhares de dólares.

É preciso também considerar o custo do cuidado pós-operatório, que pode incluir acesso permanente ao cirurgião e serviços de enfermagem em domicílio. Chia Chi Kao, um cirurgião plástico de Beverly Hills conhecido por suas endoscopias faciais que não deixam cicatrizes —o chamado "ponytail face-lift", o que significa que as incisões são feitas por sob a linha do cabelo— mantém um centro de cuidados pós-operatórios, com suítes nas quais os pacientes podem se recuperar com a ajuda de uma câmara de oxigênio hiperbárica.

"Parece um hotel de luxo", disse Lily Bell, 48, executiva do setor de beleza em Beverly Hills, que passou cinco dias e quatro noites no centro de tratamento de Kao e gastou US$ 212 mil (R$ 1 milhão) em sua cirurgia facial e de pescoço e na recuperação pós-operatória.

Diane Pizzoli, 68, estilista de moda em Roseland, Nova Jersey, fez diversas consultas sobre cirurgia facial com médicos, e alguns deles lhe ofereceram estimativas de custo próximas dos seis dígitos; ela escolheu White para fazer sua cirurgia, que aconteceu no começo do ano.

"Alguns dos outros médicos passavam o tempo todo se promovendo e vangloriando sobre as celebridades que tinham operado", disse Pizzoli, que terminou gastando US$ 50 mil (R$ 250 mil) em sua cirurgia —um procedimento que envolveu trabalho no rosto, pescoço e pálpebras— e recuperação.

"Continuo a parecer eu mesma, só que muito mais jovem", disse a paciente. "Um custo mais alto nem sempre quer dizer um resultado de mais sucesso".

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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