'Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate' estreia em São Paulo
Musical havia sido suspenso na véspera de entrar em cartaz, há um ano e meio
O musical “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate” deveria ter estreado em 19 de março do ano passado, no Teatro Alfa. Dois dias antes, porém, o produtor Carlos Cavalcanti teve que anunciar ao elenco e à equipe, no que ele classifica como "um dos dias mais tristes da minha vida", que o espetáculo estava suspenso por "talvez um mês".
Começava ali uma longa espera de um ano e meio que, finalmente, acaba nesta sexta-feira (17), quando a peça vai fazer sua estreia ao público, desta vez no Teatro Renault, na Bela Vista (região central de São Paulo).
"É uma emoção gigante ver esta sala [de espetáculo] gloriosa novamente como ela sempre foi, cheia de gente. Porque a glória não está no palco, e sim na plateia, porque tem que tocar o coração de cada um", disse Cavalcanti sobre o retorno aos palcos durante entrevista coletiva na quinta-feira (16).
O diretor-geral do espetáculo, John Stefaniuk, responsável pelas montagens no Brasil de musicais como “O Rei Leão” e “Billy Elliot”, também ressalta a alegria em poder colocar a peça em cartaz após tantos obstáculos. “É um prazer estar em São Paulo para estrear 'Charlie' após longos 18 meses. Finalmente, esta noite chegou.”
Os impactos da pandemia fizeram com que a produção realizasse várias mudanças estruturais, como a troca do Teatro Alfa pelo Renault, e a renovação de cenários e figurinos. "Não é só pegar o cenário e trocar de palco, tivemos que recriar o espetáculo. Foram feitas mudanças em muito pouco tempo. Cinco semanas entre desmontar do Alfa, que tem outra programação no segundo semestre, e trazer para o Renault, que nos recebeu com muito carinho. A equipe trabalhou arduamente", afirma Cavalcanti.
O produtor conta que o design de luz foi impedido de vir de Londres a São Paulo para acertar a marcação no Renault porque teria que fazer quarentena de 15 dias. "Não ia dar tempo", explica Cavalcanti. Então foram feitos trabalhos remotamente.
Sara Sarres, que interpreta a Sra. Bucket, mãe de Charlie, lembrou que os ensaios foram feitos com elenco usando máscaras. "Isso trouxe uma dificuldade para cantar e respirar, mas fomos guerreiros e esse retorno vai ser triunfal."
O elenco mirim também sofreu com os impactos da pandemia. No ano passado, Pedro Sousa era um dos atores que interpretaria Charlie Bucket. Mas, como explica Stefaniuk, ele espichou, a voz mudou e ele não poderia mais interpretar o papel mais inocente e infantil.
"Uma pena, mas Pedro cresceu muito em poucas semanas nesse retorno, ficou mais alto que eu", brinca Stefaniuk. "Então, tivemos que trocar papéis. Mas ele assumiu outro e se saiu muito bem. A pandemia foi um desafio, como um quebra-cabeça que fomos construindo juntos. Uma vez que se encontra a resposta, tudo se acerta e o resultado final é até melhor."
Pedro, agora, interpreta o divertidíssimo e insolente Mike Tevê, uma espécie de mini hacker que faz de tudo para conhecer a fábrica. Atualmente, o papel de Charlie é revezado entre Felipe Costa, Davi Martins e Leonardo Freire.
A trama gira em torno de Charlie, um garoto de família humilde que vive com a mãe, sra. Bucket (Sara Sarres), e os avôs em uma pequena casa. Um deles, Vovô Joe (Rodrigo Miallaret), está doente, mas não esquece dos dias em que trabalhou na famosa fábrica da cidade, há anos fechada.
A família tem uma tradição juntar as mirradas economias que consegue para comprar uma barra de chocolate para Charlie em seu aniversário. Com coração puro, o garoto costuma fazer o doce durar por meses, já que a família mal tem dinheiro para se alimentar.
Isolado há anos após o fechamento da fábrica, o excêntrico Willy Wonka (Cleto Baccic) reaparece e lança um concurso: vai distribuir cinco bilhetes dourados em barras de chocolate ao redor do mundo. Quem encontrar, vai ganhar um ingresso com acompanhante para conhecer a famosa fábrica de chocolates Wonka. É aí que a magia começa.
Baseado no livro "A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Roald Dahl, a história já ganhou duas versões em filmes, uma em 1971, com Gene Wilder (1933-2016) como Willy Wonka, e a de 2005, com Johnny Depp no mesmo papel.
Mas para o musical, Cleto Baccic afirma que não se inspirou nos filmes para compor seu Willy Wonka. "Não me inspiro no Johnny Depp. Não olho para a montagem do cinema, porque temos outra linguagem aqui. Tenho como hábito a busca da construção do personagem pelo entendimento do texto junto aos diretores. Até relembro o que já vi de outras versões e faço uma salada, uma mistura de todos."
ELENCO EMOCIONADO
Durante a coletiva de imprensa, o elenco de “Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate” demonstrou muita emoção e alguns atores até choraram ao falar da alegria de retornar aos palcos.
O ator Rodrigo Miallaret, que interpreta Vovô Joe, foi às lágrimas. "Para nós artistas ficar sem os palcos é como se tirassem um pedaço da gente, um órgão muito vital, e depois falassem para vivermos sem esse pedaço", afirma emocionado.
Os três artistas mirins também falam dos desafios de dar vida à Charlie e explicam o que o personagem lhes ensinou.
"A mais importante mensagem dele é nunca perder a esperança. Mesmo quando os quatro bilhetes são achados, ele persiste. Ele acha dinheiro no chão e consegue comprar a barra certa de chocolate", afirma Leonardo Freire.
Felipe Costa, que entrou no elenco "nos 45 do segundo tempo", teve três semanas para ensaiar. "Mas já aprendi muitas coisas com Charlie. Ele é um menino humilde que não quer o bilhete por fama, como os demais, ele quer apenas conhecer o Willy Wonka e trazer alegria para a família dele. Então aprendi a valorizar mais a minha própria família."
“Eu gosto muito do Charlie porque ele é um menino como qualquer outro, e ele pensa na família em primeiro lugar, porque é ela que nos incentiva e nos dá poder para fazer as coisas", afirma o caçula Davi Martins.
A peça segue todos os protocolos de segurança sanitária e tem capacidade reduzida para manter distanciamento social.
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