Saída de Marcos Mion da Record mostra que era dos apresentadores está chegando ao fim
Não é coincidência que Fausto Silva também esteja deixando a Globo
O reality A Fazenda levou dez temporadas para acertar o apresentador. As sete primeiras foram comandadas por Brito Jr., vindo do jornalismo da Record. Apesar de simpático e esforçado, ele nunca caiu nas graças do público e da crítica. Depois, o empresário Roberto Justus, com sua folclórica falta de traquejo, ajudou a tornar esquecíveis as safras 8 e 9 do reality.
Foi só em 2018, com quase uma década no ar, que o programa encontrou seu melhor condutor: Marcos Mion, que estava sob contrato, mas sem nenhum projeto na emissora. Forjado por anos na extinta MTV Brasil e, mais tarde, à frente de Legendários, na própria Record, Mion trouxe uma irreverência e uma intimidade com o espectador que combinaram perfeitamente com A Fazenda.
A audiência e a repercussão do reality cresceram, e Mion foi melhorando a cada uma das três temporadas que apresentou. A ponto de, na mais recente, encerrada há pouco mais de um mês, ele ser apontado por alguns jornalistas como o maior vitorioso da competição, oficialmente vencida pela funkeira Jojo Todynho.
A cúpula do canal não concordou. O colunista Flávio Ricco, do portal R7 – que pertence ao Grupo Record – informou nesta quarta (27) que o contrato de Marcos Mion, válido até dezembro de 2021, foi rescindido.
A notícia repercutiu imediatamente. Ricco fala que A Fazenda precisaria ser “oxigenada”, mas o consenso entre os internautas é que a Record deu um tiro no próprio pé. Afinal, não se mexe em time que está ganhando, e a 12ª edição do programa foi um fenômeno. Ganhou diversas vezes da Globo no ibope, e atraiu dezenas de anunciantes.
Acontece que Mion fez por merecer. No episódio exibido em 30 de outubro de 2020, o apresentador chorou ao vivo e reclamou da pressão exercida pelo diretor da atração, Rodrigo Carelli. Em diversas outras ocasiões, deixou claro seu descontentamento com a direção e a produção do programa, que, de fato, teve uma temporada bastante acidentada.
De fato, A Fazenda tem muito o que melhorar para garantir um andamento mais suave, e as críticas de Marcos Mion parecem justas para um observador de fora. Mas, em qualquer canal de TV do mundo, quando um apresentador reclama ao vivo de seu próprio programa, a corda arrebenta para um dos lados. Neste caso, arrebentou para Mion.
Ainda faltam detalhes e as visões de todos os envolvidos, se é que eles irão se manifestar. Mas já dá para suspeitar que a saída abrupta de Marcos Mion, depois de uma temporada histórica de A Fazenda, se insere em uma tendência maior: o fim da era dos apresentadores.
Marcos Mion deixa a Record na mesma semana em que vazou a notícia do desligamento de Fausto Silva da Globo, a ocorrer no final de 2021. Como se sabe, a emissora decidiu encerrar o Domingão do Faustão e ofereceu um programa nas noites de quinta para o apresentador. Ele recusou e preferiu deixar a casa onde trabalha há mais de 30 anos.
É sintomático que tanto Faustão quanto Mion não tenham prevalecido em seus embates. Talentosos, tarimbados e fortes chamarizes tanto de público como de patrocinadores, nenhum dos dois teve suas pretensões atendidas neste momento. Suas emissoras decidiram que passam bem sem eles, obrigado.
Há um possível “plot twist” nesse imbróglio, que seria a ida de Marcos Mion para o lugar de Fausto Silva. Se isto acontecer, a tese da decadência dos programas de auditório se enfraquece um pouco. Mion rejuvenesceria o gênero, talvez revivendo com Rodrigo Faro a épica rivalidade entre Faustão e Gugu Liberato.
Por enquanto, tudo isso é conjectura. O que vimos nesta última semana de janeiro foi o afastamento de dois grandes apresentadores de suas respectivas emissoras. Não é coincidência, não é acidente de percurso. É mais um sinal de que a TV aberta brasileira está mudando, e mais rápido do que se pensava.
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