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Nikolaj Coster-Waldau jogou futebol no Lower East Side de Manhattan

Nikolaj Coster-Waldau jogou futebol no Lower East Side de Manhattan Cait Oppermann/NYT

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Alexis Soloski
Nova York
The New York Times

A bola de futebol estava voando e Nikolaj Coster-Waldau saiu correndo atrás dela pelo gramado artificial, na direção da meta de seu time. Mas não chegou a tempo. Seus adversários marcaram um gol. "30 anos atrás, eu teria chegado na bola", ele disse, tentando minimizar o gol adversário enquanto corria para o meio de campo.

Isso aconteceu em uma tarde recente em um campo de futebol no Sara Roosevelt Park, no Lower East Side de Manhattan. Coster-Waldau, ator mais conhecido por seu trabalho em "Game of Thrones" e futebolista entusiástico desde que era criança, tinha encontrado um jogo amistoso de nove contra nove jogadores do qual participar, usando um app chamado Just Play.

"Continuo a jogar, mas já não corro tanto", ele disse, observando os demais jogadores, 16 homens e uma mulher –da Albânia, Bósnia, Itália, Áustria, Holanda, México– enquanto eles calçavam as chuteiras e vestiam os uniformes. "Reynaldo?", ele disse, vendo o nome na camisa de um colega de time. "Esse cara confia em seu jogo".

Perguntei se ele estava nervoso. "Não", respondeu Coster-Waldau. Mas depois qualificou sua resposta. "Um pouquinho. Eles estão de chuteira". Ele não tinha levado chuteiras, e por isso teria de jogar de tênis, calças de agasalho Adidas, um moletom, e uma camiseta que leva o logotipo de sua produtora, Ill Kippers.

A temperatura estava alguns graus acima de zero. Sob um céu cinza escuro, a sensação era de muito mais frio. Mas para Coster-Waldau, que passou boa parte do segundo trimestre de 2021 filmando "Contra o Gelo", um filme para a Netflix, na Islândia e Groenlândia, onde as temperaturas chegavam a 28 graus negativos, a sensação era agradável. Ele tirou o agasalho.

Coster-Waldau cresceu em Tybjerg, uma cidadezinha rural na Dinamarca com cerca de 40 moradores. Depois de se formar na Escola Nacional de Artes Cênicas, ele interpretou um papel importante no filme dinamarquês "Nattevagten", e passou as duas décadas seguintes se alternando entre grandes papéis em filmes dinamarqueses e pequenos papéis em filmes de Hollywood ("Falcão Negro em Perigo", "Cruzada").

Depois surgiu "Game of Thrones". Os criadores da série precisavam de um ator para o papel de Jaime Lannister, um espadachim bad boy cuja complicada história de redenção, de violento agressor a herói trágico, abarca as oito temporadas da série.

Como disse David Benioff, um dos criadores de "Game of Thrones", à revista Details, "ele tinha de ser o homem mais bonito de Westeros". E Coster-Waldau –longilíneo, loiro, com uma estrutura óssea impecável e um másculo nariz quebrado– com certeza era bonito. "Eu nunca imaginei que trabalharia em uma série com dragões", disse o ator. "Mais uma prova de que você nunca sabe".

Desde que a série terminou, com um final controverso, em 2019, Coster-Waldau vem se concentrando principalmente em projetos pequenos mas ambiciosos, entre os quais "Contra o Gelo". É um filme biográfico baseado em uma expedição de 1909 liderada pelo explorador dinamarquês Ejnar Mikkelsen, cujo objetivo era o de confirmar que a Groenlândia era uma massa de terra contínua. Depois de se ver separado de sua equipe, ele termina encalhado na Groenlândia com apenas um companheiro, Iver Iversen (Joe Cole). Eles conseguem sobreviver até serem resgatados três anos mais tarde.

Uma crônica sobre heroísmo extraordinário e história de sobrevivência em condições extremamente punitivas, "Contra o Gelo" também é, de certa forma, uma comédia sobre amizade. Bem, uma comédia sobre amizade na qual um urso polar ataca e diversos cachorros morrem. "Juro que nenhum animal foi ferido na filmagem", disse Coster-Waldau.

O filme também é uma celebração da impressionante beleza natural da Groenlândia, que o ator veio a conhecer por intermédio de sua mulher, Nukaka Coster-Waldau, antiga Miss Groenlândia. "A natureza é de tirar o fôlego", ele disse. "O lugar é tão grande que coloca nossa existência em perspectiva –de um jeito saudável".

As filmagens foram muito árduas, em diversas ocasiões. Algumas das locações só eram acessíveis de helicóptero e snowmobile, e os atores que iam a esses lugares tinham de usar roupas de couro de rena e revestidas de pele para se manterem aquecidos. Em determinado momento, membros da equipe tiveram de ser resgatados em uma geleira, no meio de uma tempestade. Ao assistir a algumas das cenas, um executivo da Netflix comentou que aparentemente o departamento de maquiagem tinha colocado neve demais na barba de Coster-Waldau. Mas tanto a neve quanto a barba eram reais.

Na hora de entrar em campo para seu jogo de futebol, Coster-Waldau já tinha passado pelo degelo. Ele e alguns dos jogadores se aqueceram, trocando passes —a bola era branca, com detalhes em forma de flor—, com os pés, joelhos e cabeças. Um pombo, que parecia estar guardando um dos gols, observava interessado. Um dos organizadores passou distribuindo coletes amarelo neon aos jogadores, e a partida começou.

Ainda que Coster-Waldau fosse meio-campista, na época em que jogava na escola, ele jogou principalmente como lateral, na partida amistosa, com os cabelos loiros fluindo ao vento e pedindo a bola ocasionalmente. "Pressão, pressão, pressão", ele gritou. Por fim, Coster-Waldau deu um chute ao gol. E errou, por muito. O outro time marcou. Ele chutou em gol mais uma vez, acertando a trave. O outro time voltou a marcar.

A partida parou por um breve momento quando um 19º jogador, que não estava inscrito, entrou em campo. Coster-Waldau encarnou Jaime Lannister, por um breve momento: "Qual é a punição?", ele perguntou em voz grave e rouca. O jogador adicional foi autorizado a sair ileso.

Poucos minutos mais tarde, o ator, talvez de novo canalizando Lannister, tirou outro jogador do caminho com uma ombrada. "Estou velho", ele disse. "Preciso usar a força".

Ele finalizou de novo na direção do gol –errando por muito, outra vez–, e depois conseguiu chutar a bola para a quadra de basquete vizinha. Coster-Waldau correu rapidamente até lá para recuperá-la. Seus colegas de time não pareciam tê-lo reconhecido, mas quando a equipe enfim marcou um gol, um deles ergueu o punho e gritou: "Casa de Lannister!". Todo mundo aplaudiu.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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