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Cinema e Séries

Damian Lewis se despede de 'Billions' e encerra era de vilões audaciosos

Ator deixa série no final da quinta temporada após morte da esposa

Damian Lewis - Jeff Neumann/Showtime
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Jeremy Egner
The New York Times

Este artigo contém spoilers sobre o episódio final da temporada cinco de “Billions”.

Um dos últimos anti-heróis grandiosos da televisão se despediu no último domingo (3) da série “Billions” e dos fãs que o acompanhavam nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, a despedida aconteceu neste sábado (9), com a disponibilização do episódio final da quinta temporada pela Netflix.

Bobby Axelrod, o orgulhosamente venal magnata dos fundos de hedge interpretado por Damian Lewis, se despediu da história embarcando em um jatinho e fugindo das garras da lei e de seu maior inimigo, Chuck Rhoades (Paul Giamatti), a caminho, agora definitivamente, de um futuro menos punitivo na Suíça.

Embora a cena final do personagem aparentemente deixe algumas questões em aberto, se considerarmos a recepção acolhedora que as autoridades da Suíça oferecem a Axe (o nome pelo qual ele é mais conhecido), Lewis confirmou em uma entrevista recente por vídeo que estava deixando a série.

“Existe uma oportunidade para que eu talvez retorne”, ele disse, falando de sua casa no norte de Londres. “Mas, por enquanto, devemos considerar que Axe foi derrotado, por assim dizer”.

A saída de Lewis põe fim a “com certeza o maior período que já passei interpretando o mesmo personagem”. O ator era mais conhecido anteriormente por sua passagem de três temporadas por outro sucesso da rede Showtime, “Homeland”.

E a ocasião surge apenas alguns meses depois de uma tragédia pessoal. A mulher de Lewis, a aclamada atriz Helen McCrory, morreu em abril, aos 52 anos, não muito depois que “Billions” voltou à produção depois de um hiato causado pela pandemia. Lewis filmou boa parte de sua passagem final pela série remotamente, da Inglaterra.

Ao longo de cinco temporadas de uma história melodramática sobre mercados financeiros e pessoas arrogantes, Axe personificava os sentimentos muitas vezes contraditórios que a cultura moderna abriga sobre as pessoas imensamente ricas.

Ele se descreve como “um monstro capitalista” e fez fortuna do zero, mas desavergonhadamente destrói qualquer coisa –carreiras, vidas, cidades inteiras– que se interponha entre ele e o seu próximo bilhão. No entanto, o faz com uma audácia e carisma invejáveis, desfrutando plenamente de um estilo de vida que o leva de apartamentos de cobertura a jatinhos executivos e vice-versa.

“Quando caminho pela rua em Nova York, costumo ouvir que ‘Axe, você é o cara’”, disse Lewis. “Ele é um ser humano realmente desprezível, mas ninguém parece se incomodar”.

E isso se deve em grande medida a Lewis, que desde o começo imbuiu o personagem que facilmente poderia ter se tornado uma caricatura de arrogância, de uma profundidade emocional e de uma presença física predatória notáveis. (Ao desenvolver o personagem, os exercícios de atuação de Lewis incluíam se mover pelo chão como um leopardo).

Da mesma forma que Jon Hamm e Bryan Cranston transformaram Dan Draper e Walter White em figuras irresistíveis mesmo nos momentos em que eles eram horríveis, Lewis fez da devastação financeira causada por Axe um passatempo divertido de assistir.

“Damian Lewis não é um ator que tenha medo de que a audiência não goste dele”, disse Brian Koppelman, um dos showrunners da série (com David Levien). “Está disposto a interpretar o papel da maneira cáustica que o personagem requer, e tem fé em que, caso se mantenha firme em sua postura, isso vai gerar uma conexão com a audiência”.

Mas depois de 60 episódios de tramas complicadíssimas e às vezes inescrutáveis, e de confrontos entre Chuck e Axe em diferentes configurações, Lewis estava pronto a seguir em frente. “É difícil continuar minerando o mesmo veio em termos criativos”, ele disse. “Todos já sabem quem ele é”.

E depois de seis anos de estadias que duravam meses em Nova York para as gravações de “Billions”, ele planeja ficar mais perto de casa e de seus dois filhos adolescentes depois “da tristeza que tivemos em nossa família”, ele disse, se referindo à morte de McCrory, vítima de um câncer.

É um assunto sobre o qual ele reluta em falar e seus modos expansivos habituais terminam substituídos por respostas bruscas. Lewis deseja ficar em Londres pelo futuro previsível, “por motivos óbvios”, disse. “Não precisam de explicação”.

Lewis disse que a morte de McCrory não é o motivo de sua saída de “Billions”. Ele tinha assinado inicialmente para gravar cinco temporadas “e sempre presumi que isso seria o suficiente”, afirmou. Koppelman disse que a série, que estreou em 2016, vinha tomando o rumo da saída de Axe já há alguns anos.

Mas a morte de sua mulher explica por que Lewis trabalhou remotamente na maior parte de seus últimos episódios. Atores e membros da equipe viajavam a Londres a fim de gravar cenas que foram enquadradas dentro da série como um período de quarentena que Axe teve de passar por conta da Covid. (Lewis voltou a Nova York para gravar parte do episódio final.)

“Não pediríamos que ele viajasse para os Estados Unidos naquela situação, logo depois que o amor de sua vida morreu –uma mulher notável, uma artista incrível e um ser humano maravilhoso”, disse Koppelman.

“É a vida privada de Damian e por isso não cabe a nós comentar”, ele prosseguiu. “Nós todos sentimos que foi uma sorte incrível podermos contar com Damian Lewis e Paul Giamatti trabalhando juntos por cinco anos”.

Desde o começo, a dinâmica de gato e rato entre Axe e Chuck foi o principal fator que define a série. (Em segundo lugar, por pouco, vem as abundantes participações especiais de financistas e luminares reais da elite nova-iorquina.)

Quando a série voltar ao ar em 23 de janeiro (previsão para os EUA) para sua sexta temporada, Mike Prince, interpretado por Corey Stoll, um personagem que apareceu na temporada cinco, será o mestre do universo que se contraporá a Giamatti, um defensor da lei eticamente ambíguo. O episódio final da quinta temporada viu Prince literalmente ocupar o lugar de Axe depois de adquirir sua empresa com uma daquelas ofertas que é impossível recusar.

Com sua imagem cuidadosamente cultivada e sua retórica de salvador do planeta, o personagem de Stoll tem mais em comum com a leva atual de bilionários que viajam ao espaço do que com os mercenários criadores de fundos de hedge que Axe canalizou, nos anos posteriores à Grande Recessão. (Andrew Ross Sorkin, editor e colunista do The New York Times que acompanhou o crash do mercado em 2008 e o retratou em seu livro “Grande Demais para Falir”, é um dos criadores e produtores executivos de “Billions”.)

“Uma série que fica muito tempo no ar precisa evoluir”, disse Levien. “Por isso, é como se estivéssemos recarregando a história de uma maneira ótima e na hora certa”. O Showtime ainda não assinou para uma sétima temporada do programa, mas Gary Levine, presidente de entretenimento da companhia, disse que “pelo que vi da temporada seis, estou muito entusiasmado”.

Para Lewis, que está se preparando para gravar a série britânica “A Spy Among Friends”, que se passa na era da Guerra Fria, a saída da televisão americana acontece quase 20 anos depois que ele foi apresentado aos telespectadores dos Estados Unidos como astro da minissérie “Band of Brothers”, sobre a Segunda Guerra Mundial, lançada em setembro de 2001.

E também representa o fim de uma década de trabalho quase constante para o Showtime, com sua passagem por “Homeland”, na qual ele interpretava o soldado transformado em agente infiltrado Nicholas Brody. (“É a segunda vez que tenho de me despedir de Damian”, disse Levine.)

Ator britânico educado em Eton, Lewis demonstrou talento notável para interpretar personagens americanos de origens humildes. (Axe faz questão de ostentar suas origens em Yonkers, ainda que seus “hoodies” agora sejam de cashmere.) Mas ele não sabe quando, ou mesmo se um dia, vai procurar trabalho em outra série americana.

“Não gosto de encerrar capítulos”, disse. “Mas a sensação é de que chegamos ao fim de um deles, agora”. Lewis diz que não sentirá falta de interpretar Axe. Mas está orgulhoso de que ele e os roteiristas tenham conseguido capturar parte tanto dos atrativos quanto da influência corrompedora da riqueza extrema.

Embora continue a haver muita gente rica horrorosa na televisão, o estilo especial de vilania audaciosa de Axe se tornou mais raro, em uma era definida por figuras como a de Ted Lasso. “De alguma forma conseguimos fazer dele uma coisa importante na cultura”, disse Lewis. “E isso é algo que é sempre divertido realizar”.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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