David Harbour, astro de 'Viúva Negra', diz que adora ser perdedor na telona
Ator vive super-herói fracassado da Marvel: 'Todos nós fracassamos'
Ator vive super-herói fracassado da Marvel: 'Todos nós fracassamos'
Nunca é boa hora para ser o perdedor, mas o momento é excelente para ser David Harbour, 46, que em seus filmes mais recentes tem personificado personagens infames com grande competência.
Harbour, talvez mais conhecido como o relutantemente heroico chefe de polícia Jim Hopper, em “Stranger Things”, da Netflix, está em cartaz no momento em “Viúva Negra”, filme da Marvel dirigido por Cate Shortland que estreou no final de semana nos Estados Unidos. Nele, o ator interpreta Alexei, um soldado de elite russo que no passado levava uma vida de aventuras como o herói mascarado Guardião Vermelho.
Agora, encarcerado em uma prisão gélida onde ele ganhou muito peso e perdeu completamente o controle de seu temperamento, tudo que consegue fazer é lembrar os bons e velhos dias que talvez não tenham acontecido da maneira que os recorda. Isso até ser resgatado por Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) e Yelena Belova (Florence Pugh), as duas espiãs que criou como filhas.
Alexei é o mais recente em uma série de tipos esquisitos mas de alguma maneira fascinantes que Harbour interpretou. Ele também aparece em “Nem Um Passo em Falso”, um novo thriller de Stephen Sondheim para a HBO Max, como Matt Wertz, um contador pacato atraído a uma empreitada criminal muito mais perigosa do que ele está disposto a encarar.
E esses personagens são exatamente o tipo de trabalho que Harbour ama fazer. Como explicou em uma entrevista recente, “vencedores são ótimos, e gostamos deles bla-bla-blá. Mas para mim, a beleza dos seres humanos está na carne e no erro. Todos nós fracassamos”.
Ele trabalhou ao longo dos anos nas versões para a Broadway de “Glengarry Glen Ross” [“O Sucesso a Qualquer Preço”] e “The Coast of Utopia”, e em filmes como “O Segredo de Brokeback Mountain” e “Foi Apenas um Sonho”. Harbour classifica seus novos sucessos como “só mais um passo em uma trajetória equilibrada e lenta, o que me agrada”.
Casado com a cantora pop Lily Allen, Harbour disse que fica mais feliz por ter encontrado o sucesso só a esta altura de sua vida. Ele disse que se tivesse recebido tanta atenção quanto era mais novo, “meu Deus, seria péssimo. Demorei muito a cultivar uma voz artística. Se houvesse pessoas me julgando tão cedo sobre gostarem ou não do que faço, eu não teria conseguido sobreviver”.
Conversando por vídeo de Nova Orleans, Harbour falou mais sobre a produção de “Viúva Negra” e “Nem Um Passo em Falso”, suas influências excêntricas, e sobre o conforto de trabalhar com Soderbergh durante uma pandemia. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.
Há uma história sobre como você veio a ser escalado para “Viúva Negra”?
É bem sem graça. Tenho amigos que fizeram testes para “Guardiães da Galáxia” e falaram sobre um esconderijo e de receber ordens para queimar as páginas de diálogo que eles receberam para as audições. No meu caso, meu agente disse que Cate Shortland queria conversar comigo sobre um filme que ela ia dirigir. Ele não sabia que filme. Eu conversei com ela e ela disse que ia fazer um filme, “Viúva Negra”, para a Marvel, com Scarlett Johansson.
E aí me falou de meu personagem, um cara grande, violento, com tatuagens e dentes de ouro, mas que ao mesmo tempo se magoa se as pessoas não gostam de suas gracinhas. Ela me falou dessas incríveis contradições, e conversamos sobre diversas comédias dramáticas quanto a famílias de pessoas desesperadas, sobre filmes como “A Família Savage”, e sobre o trabalho de Ricky Gervais em “The Office”. E eu respondi que, claro que sim, e sim em todos os níveis imagináveis.
Por favor, fale mais sobre a conexão com Ricky Gervais.
É que [meu personagem] é um cara desesperadamente inseguro, e essa insegurança se manifesta em gabolice. Amo pessoas assim. Ele sofre de imensos arrependimentos e culpa emocional, mas são coisas que não pode sentir. Por isso, o que faz é viver de seu charme sociopático e de sua necessidade de validação. Alguém como Hopper (de “Stranger Things”) tem culpa, mas é muito interna, enquanto ele é ruidoso de todas as maneiras. Malcheiroso, suarento, grandalhão e cabeludo. Ou seja, um nojo, como a garotada diz.
É lisonjeiro ouvir uma diretora dizer que o vê como esse personagem?
Eu tenho um ego esquisito. Fico sempre lisonjeado, mas quando penso no assunto anos depois, fico questionando o que fez com que eu me sentisse lisonjeado. Eu sou um proscrito, de alguma forma. Era isso que eu era quando jovem, com certeza. E sempre quis ser ator porque queria que as pessoas se sentissem menos sozinhas.
Mesmo quando interpreto vilões, as pessoas dizem que “de alguma maneira você humanizou a experiência, de forma que compreendemos aquela figura, em vez de julgá-la”. É isso que me parece lisonjeiro –me usar como artista a fim de permitir a compreensão de um indivíduo profundamente problemático, confuso, que um ator menos capaz poderia transformar em caricatura. Eu talvez faça as duas coisas. Mas com sorte posso oferecer à audiência alguma compreensão sobre o personagem.
Você já tinha trabalhado com Johansson, Pugh ou Rachel Weisz, que interpretam as demais integrantes de sua família postiça?
Não, nem mesmo as conhecia. Mas passamos cerca de duas semanas ensaiando, o que é raro em um filme desse tamanho, e realmente assumimos uma dinâmica de família, desde o primeiro passo. Minha sensação era de que Rachel era a mulher com quem eu devia estar –sem ofensa a Lily Allen, porque ela é a pessoa real com quem estou destinado a viver—, mas a sensação era a de que havia algo de belo entre Melina e o Guardião Vermelho. Scarlett parecia a filha mais velha; comecei a vê-la como rígida, de alguma maneira, e a zombar dessa rigidez. E Florence parecia mesmo o nenê da família; eu só queria pegá-la no colo e fazê-la rir.
O que vocês filmaram primeiro: as cenas do prólogo, nas quais seu personagem está em forma e bem arrumado, ou as sequências principais, em que ele tinha decaído?
Eu tinha deixado a barba e o cabelo crescerem para “Stranger Things”, e propus: “Vamos usar o peso”. Por isso comecei a comer ainda mais. Cheguei aos 127 quilos, e adorei. Disse ao primeiro assistente de direção que “vamos ter de filmar as cenas de background no final, depois que eu perder peso e ficar magro”. E ele respondeu que eu nunca seria magro. (Risos) Eu rebati que seria, sim. Perdi 27 quilos durante as filmagens. As primeiras cenas que filmamos foram as da prisão, e por isso a barriga que você vê te atacando é uma barriga real. E aí ao longo da filmagem eu fui perdendo peso. Passei fome por boa parte do trabalho.
Você se casou há pouco tempo, como é que sua transformação física foi recebida em casa?
(Com humor seco) É uma verdadeira prova de meu carisma inegável que eu possa dizer que conheci minha mulher pesando 127 quilos e usando aquele cabelo e aquela barba. Fomos jantar no Wolseley (um restaurante de Londres) e ela realmente entrou na minha quando eu estava na minha pior forma, fisicamente e em termos capilares. E aí, quando nosso namoro começou a avançar, eu estava perdendo peso e me exercitando. E ela honestamente tem restrições a isso. O que é bacana em um relacionamento. É bom começar o relacionamento daquele ponto em que você está mal, em lugar de quando você é jovem, bonito, e aí a pessoa ter de ver sua degeneração ao longo dos anos.
Você fez muitas das suas cenas de ação no filme?
Eles querem que você faça essas cenas. Encorajam muito. Mas sou o anti-Tom Cruise, nessas coisas. Não quero pilotar o helicóptero. Prefiro que Alexei seja o produto de oito pessoas. Eu sou o rosto. Gosto de colocar os dublês para trabalhar. Mas as cenas de queda de braço eu mesmo faço. Não permitiria que outra pessoa me substitua no braço de ferro.
Seus personagens mais conhecidos, agora, são homens que, sob um exterior desalinhado, têm ao menos o potencial de se redimir. Como é que isso se tornou seu território mais frequente?
E o que eu amo em Alexei e Hopper. Vem de minha visão sobre Walter Matthau. Em “O Sequestro do Metrô”, o personagem principal é um cara gorducho de meia-idade, e ele precisa enfrentar Robert Shaw, o mais malvado dos vilões britânicos de todos os tempos. Você acha que não há chance de o sujeito derrotar o bandido. Mas há alguma coisa no coração americano dele que desejamos amar, e adoro personificar isso. Quando Hopper surgiu, minha ideia foi levar o personagem ao máximo. Que ele fosse gordinho, que fumasse, que fosse um cara aparentemente imprestável.
Poucos anos atrás, você costumava interpretar bandidos durões, vilões escancarados. Como deixou isso para trás?
Era interessante ser percebido como vilão. Eu interpretava os capangas parrudos, mas às vezes também os verdadeiros psicopatas, perigosos. Há alguma coisa na liberdade mental do psicopata que de alguma maneira funciona para mim. Foi Carmen Cuba, a diretora de elenco de “Stranger Things”, que na verdade disse que “eu sei que esse cara vem interpretando vilões há muito tempo, e que ele sempre faz o quinto ou sexto papel, mas acredito que ele seja o Harrison Ford”. Ninguém tinha percebido isso. Acho que a culpa é da mandíbula, ou da sobrancelha, não sei. E preciso um olhar sofisticado para perceber que não importa o queixo duplo: o coração de que o personagem precisa está lá.
Como você conseguiu o papel em “Nem Um Passo em Falso”?
A filmagem foi parada durante a Covid, e por isso eles reorganizaram o filme, regravaram a música. Dois dos atores não puderam retomar o projeto e foram substituídos, e um deles fui eu. O processo de trabalho de Steven Soderbergh é muito simples. Ele me mandou o roteiro. Perguntou se eu queria fazer o papel. E fui apresentado a ele no primeiro dia.
Considerando só o roteiro, como você entendeu os personagens?
Matt vive em uma prisão que ele mesmo criou. A tragédia de Matt é que ele não pode ser quem é, vem vivendo uma mentira há muito tempo. Mas há uma coisa que é usada para espicaçá-lo e, como diz um dos personagens do filme, ele um dia esteve por cima, mas perdeu o lugar. É essa a verdadeira tragédia de Matt Wertz. Há alguma empolgação com a possibilidade de que ele crie uma vida para viver, enfim, depois de tanta batalha. E ele nos desaponta. (Risos)
Foi o primeiro filme que você fez durante a pandemia?
Foi minha primeira filmagem pandêmica. “Stranger Things” voltou para a temporada quatro em setembro, e eles só precisariam de mim de novo em janeiro. Fiquei maluco. Amo minha mulher e filhos, mas também preciso trabalhar, porque perco a cabeça em casa tentando servir de professor. O trabalho apareceu e aceitei. Passamos dois meses e meio ou três meses em Detroit, trancafiados em um hotel. Mas, por sorte, era Soderbergh. Ele filmou “Contágio”. Por isso, todos os caras do Centro de Controle de Doenças (CDC) com quem ele trabalhou naquele filme estavam no set. Conversamos muito sobre vacinas. Eu procurava Soderbergh e perguntava “quando é que isso vai acabar?” E ele respondia, “no começo do ano que vem vamos ter vacinas”. E eu queria saber qual delas era a melhor. Ele respondia que “a da Pfizer está indo bem –duas doses”. Foi incrível. Estávamos fazendo o filme mas sabíamos o que estava acontecendo no CDC.
O que você pode dizer sobre a nova temporada de “Stranger Things”?
Ugh. Vou lhe dizer uma coisa. Tenho uma resposta predefinida de que a temporada será muito empolgante. Vamos chegar a um novo lugar. Na primeira temporada, era a história do chefe de polícia de uma cidadezinha, e agora temos essa coisa enorme, uma prisão russa, um monstro. Os irmãos (Matt e Ross Duffer, criadores da série) gostam de videogames, mangá e animê, e isso tudo tem parte na temporada. Falamos sobre “Fugindo do Inferno” e “Alien 3” como influências. No caso de Hopper, veremos mais sobre seu passado, coisas que não tínhamos visto e só haviam sido mencionadas. Antes de ser o pai que se tornou, comendo batatinhas e gritando com a filha adolescente, veremos um pouco mais do guerreiro que ele foi.
Depois de fazer um filme de orçamento enorme para a Marvel, você levou alguma coisa dessa experiência para o set de “Stranger Things”?
Faço mais cenas de ação nesta temporada do que já tinha feito antes. E –mesmo que seja eu que o afirme– algumas delas são impressionantes. Isso veio de eu ter passado vergonha no set de “Viúva Negra” por não ser capaz de fazer aquelas coisas. Meu ego está crescendo. Quando eu chegar aos 55 anos, vou fazer uma cena pendurado de um helicóptero, minha versão de “Missão Impossível”.
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