Por que Johnny Depp perdeu julgamento no Reino Unido mas ganhou nos EUA
Especialistas dizem que estratégia dos advogados do ator e presença de júri nos EUA podem ter propiciado resultados diferentes.
Em 2020, o ator Johnny Depp, 58, perdeu um processo no Reino Unido que ele moveu contra o jornal Sun. Mas, na quarta-feira (1º), ele venceu um processo similar contra sua ex-mulher Amber Heard numa corte dos Estados Unidos.
No início do julgamento mais recente, muitos analistas do direito afirmaram que Depp tinha uma chance de ganhar menor do que no caso do Reino Unido, porque os EUA têm fortes proteções à liberdade de expressão.
O fato de que o júri considerou Heard culpada por difamação por conta de um artigo em que ela disse ter sido vítima de violência doméstica significa que eles não acreditaram no depoimento dela.
Mark Stephens, um advogado especializado em mídia, disse à BBC que é "muito raro" que um mesmo caso julgado nos dois países tenha resultados diferentes.
Ele acredita que o principal fator a influenciar a vitória de Depp nos EUA foi o fato de que seu julgamento no país foi decidido por um júri. Já o julgamento no Reino Unido, por causa de um artigo no qual ele foi chamado de "agressor de esposa", foi decidido por um juiz.
"Amber Heard foi fortemente derrotada no tribunal da opinião pública e no júri", ele disse.
Tanto no julgamento no Reino Unido quanto nos EUA, os advogados de Depp afirmaram que Heard havia mentido –para defender esse ponto, eles atacaram sua personalidade e disseram que ela, na verdade, era a pessoa abusiva da relação.
Essa é uma tática de defesa comum em julgamentos sobre assédio sexual e violência doméstica, conhecida como "negar, atacar e inverter vítima e agressor" ou "Davo" (iniciais das palavras em inglês), diz Stephens.
A estratégia tenta virar o jogo em cima da suposta vítima, mudando o debate de "o acusado cometeu abusos" para "a suposta vítima é credível?".
"Eles negam ter feito qualquer coisa, eles negam terem sido os perpetradores, e eles atacam a credibilidade do indivíduo que denunciou o abuso, e então eles invertem os papéis de vítima e agressor", diz Stephens.
No julgamento do Reino Unido, Stephens diz que o juiz reconheceu a estratégia e rejeitou várias provas que não respondiam diretamente se Depp tinha cometido a violência ou não.
"Advogados e juízes não costumam cair, mas é muito, muito eficiente contra júris", ele disse. Homens tendem a acreditar mais nos argumentos da estratégia, mas juradas também são suscetíveis.
"Pessoas têm um modelo na cabeça de como uma vítima de abusos pode ser e se comportar, e claro que nós sabemos que isso muitas vezes é falso."
Hadley Freeman, um jornalista do jornal Guardian que cobriu ambos os casos, disse à BBC que outra grande diferença foi o fato de que o julgamento nos EUA foi transmitido na TV, o que transformou o caso "quase num jogo esportivo".
Cada reviravolta do julgamento foi assistida por milhões de pessoas –muitas das quais foram às redes sociais expressar apoio a Depp.
No TikTok, a hashtag #justiceforjohnnydepp (justiça para Johnny Depp) teve cerca de 19 bilhões de visualizações. O júri foi instruído a não ler sobre o caso na internet, mas eles não estavam isolados e puderam manter seus celulares.
Freeman pensa ainda que as críticas do público geral contra Head foram um efeito colateral do "#MeToo" (movimento pelo qual mulheres relataram ter sofrido abusos).
"'Acredite nas mulheres' (lema divulgado pelo movimento "#MeToo") parece algo muito antigo quando se trata de Amber Heard", ela diz.
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