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Pias, fogões e bancadas cobertos de gordura, insetos circulando pela geladeira, tapetes sujos e panelas abandonadas com restos de comida. Em vídeos no Instagram e no TikTok, esses cenários e objetos, mostrados da maneira repulsiva possível, são limpos, varridos e polidos por "cleanfluencers", os influenciadores da limpeza, que transformam tudo em superfícies limpas e reluzentes.
Os cleanfluencers visitam locais insalubres e mostram o passo a passo para deixá-los tinindo, um brinco. Às vezes, são chamados por seguidores em desespero ou indicados por outros. Há também aqueles que pagam para que limpem banheiros de estranhos, apenas pela satisfação que isso proporciona.
Os vídeos chegam a 5 milhões de visualizações, a depender do perfil. Um deles é o da Clean Girl, que brinca com o nome da estética feminina popular em 2024. Ao invés de maquiagens simples e cabelos bonitos, esta Clean Girl faz seu conteúdo com banheiros químicos, tapetes imundos e até lápides de cemitérios que não veem uma escovinha há anos. Quanto mais insalubre, mais público atrai.
Outro perfil de sucesso é o de Guilherme Gomes (@diariasdogui). Natural de Manaus, ele tem 3 milhões de seguidores no Instagram e limpa, de graça, a casa de acumuladores compulsivos, recrutando voluntários e garantindo milhões de visualizações.
Há também os perfis que fazem limpezas menos drásticas em seus apartamentos e aproveitam para dar dicas. De forma muitas vezes sutil, eles aproveitam para faturar: eles estão fazendo publicidades e vendendo produtos enquanto os espectadores se deliciam com o prazer de ver a casa sendo limpa.
É fácil ficar 20, 30 minutos rolando o feed, já que, a cada corte, espectadores chegam a uma forte sensação de satisfação —um fenômeno com explicação científica. Yulla Christoffersen Knaus, neurocientista e analista do comportamento pela USP e professora na Universidade Estadual de Londrina (UEL), informa o que acontece com o corpo ao ver uma faxina sendo feita.
SATISFAÇÃO E ESTRESSE
Segundo a pesquisadora, ao assistir a um vídeo de limpeza, vemos uma coisa ruim indo embora, o que ativa nosso sistema neurológico. O corpo, então, produz dopamina, o hormônio que dá a sensação de satisfação e felicidade e que é responsável pela motivação.
Além disso, os vídeos também ajudam a inibir o estresse, já que são calmos, rápidos e relaxantes. "Eles são previsíveis, você já sabe o que vai acontecer. Quando o resultado chega, o que não demora muito, nossos batimentos cardíacos diminuem e a ansiedade é controlada. Se estamos em um dia ruim, é uma maneira de deixá-lo bom", explica Knaus.
"Há um público enorme para esses vídeos porque o Brasil é o país mais estressado do mundo", lembra ela. O Brasil ficou no topo da lista de países com maior nível de estresse no relatório global World Mental Health Day 2024, divulgado no último mês de outubro.
ESCAPISMO E CONSUMISMO
Embora os vídeos possam ajudar a controlar o estresse e a ansiedade, eles também podem facilmente prender o espectador em um ciclo interminável, afastando-o de suas responsabilidades reais.
"Funciona como uma forma de escapismo. Sua casa está bagunçada, mas você não a limpa. Em vez disso, passa o tempo assistindo a vídeos de limpeza e se sente satisfeito somente com isso", afirma a pesquisadora.
Além disso, ela alerta que esses vídeos podem contribuir para o consumismo, já que promovem uma variedade de produtos e utensílios de limpeza de forma orgânica e eficaz.