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Descrição de chapéu The New York Times

Peça sobre J.K. Rowling sobre mulheres trans vai da indignação ao silêncio após estreia

Ausência de protestos em 'Terf', na Escócia, sugere que quando ativistas se envolvem com arte potencialmente provocativa, a ofensa pode desaparecer rapidamente

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Cena da peça 'Terf', sobre a escritora J.K. Rowling - AFP

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Alex Marshall
Edimburgo

Há mais de 3.600 espetáculos no Festival Fringe de Edimburgo deste ano e a maioria terá dificuldade em conseguir sequer uma crítica de jornal. No entanto, meses antes de o festival abrir, uma peça foi alvo de intensa atenção da mídia global: "Terf", um drama de 80 minutos sobre J.K. Rowling, autora de "Harry Potter", e suas opiniões sobre mulheres transgênero.

Antes mesmo de alguém ter lido o roteiro, um jornal escocês chamou a peça, que imagina Rowling debatendo suas opiniões com as estrelas dos filmes de "Harry Potter", de um ataque "obsceno" à autora. Um artigo no The Daily Telegraph disse que "dezenas de atrizes" haviam recusado a oportunidade de interpretar Rowling. E o tabloide Daily Mail relatou que a produção teve dificuldades para garantir um local.

Nas redes sociais e fóruns femininos, "Terf" também provocou discussões indignadas.

A polêmica levantou a possibilidade de protestos pró-Rowling do lado de fora do espetáculo e provocou debates em Edimburgo, cidade que Rowling chama de lar há mais de 30 anos. Mas quando "Terf" estreou na semana passada, mal provocou um murmúrio. A única perturbação em uma apresentação na segunda-feira (29) na sala de baile dos Assembly Rooms de Edimburgo veio de um grupo de retardatários usando uma lanterna de celular para encontrar seus lugares. Cerca de 55 espectadores assistiram à peça em silêncio das primeiras fileiras do local com capacidade para 350 lugares.

Dada a discordância frequente entre algumas feministas e defensores dos direitos transgênero, a polêmica em torno de "Terf" não foi inesperada.

Mas a resposta contida ao próprio espetáculo sugere que menos britânicos estão incomodados com o debate do que a cobertura midiática sugere —ou pelo menos que quando ativistas se envolvem com arte potencialmente inflamatória, a indignação pode desaparecer rapidamente.

O título da peça, "Terf" —um acrônimo para feminista radical transfóbica— é um rótulo pejorativo que críticos de Rowling têm aplicado a ela há anos. Rowling se envolveu em debates acalorados sobre questões de gênero nas redes sociais e publicou um ensaio em 2020 acusando ativistas transgênero de "tentar erodir 'mulher' como classe política e biológica e oferecer cobertura a predadores". Críticos a acusaram de ser transfóbica ou anti trans, o que ela negou. Por meio de um porta-voz, ela se recusou a comentar para este artigo.

Muitos fãs de "Harry Potter" reagiram com angústia às declarações de Rowling, embora ela também tenha uma forte base de seguidores entre mulheres que compartilham suas opiniões. Barry Church-Woods, produtor de "Terf", disse que um punhado de manifestantes em potencial compareceu à estreia da peça. Eles se sentaram com cartazes nos colos, aparentemente prontos para protestar, disse ele, mas nunca os ergueram. A peça, que apresenta visões de ambos os lados, era muito equilibrada para causar sérios transtornos, acrescentou.

Clair Braun, 30 anos, professora de Düsseldorf, Alemanha, que estava visitando o festival de férias, disse que tinha gostado da peça, mas que ela "não era o que esperava". Tudo o que ela havia lido antecipadamente a preparou para um espetáculo "provocativo", disse ela, mas, em vez disso, ela achou "muito contido na crítica".

A discussão em torno dos direitos transgênero tem sido especialmente acalorada na Escócia recentemente. Houve debates sobre um plano do governo para facilitar a mudança legal de gênero, em torno da decisão do serviço de saúde escocês de pausar tratamentos hormonais para menores e em relação a uma lei que entrou em vigor este ano que tornou ilegal "incitar ao ódio" contra pessoas transgênero.

Joshua Kaplan, 45 anos, o dramaturgo americano por trás de "Terf", disse que não sabia o quão acalorada era a discussão na Grã-Bretanha quando começou a trabalhar na peça. Fã de longa data de "Harry Potter", Kaplan disse que a ideia para o espetáculo surgiu em 2020 enquanto corria no Lake Hollywood Park, Los Angeles. Enquanto corria, ele recebeu uma notificação no celular de que Daniel Radcliffe, estrela dos filmes de "Harry Potter", havia escrito um post de blog criticando as postagens de Rowling nas redes sociais. Parecia estar testemunhando uma amarga briga familiar "sendo exibida em público", disse Kaplan em uma entrevista —material perfeito para uma peça.

No palco, Rowling (Laura Kay Bailey) participa de um jantar sofisticado com três atores de seus filmes: Daniel Radcliffe (Piers MacKenzie), Emma Watson (Trelawny Kean) e Rupert Grint (Tom Longmire). Quando as estrelas confrontam Rowling sobre seus comentários nas redes sociais, o jantar cordial se transforma em farsa e desvia para cenas imaginadas da vida de Rowling que não têm nada a ver com pessoas transgênero.

Nos primeiros dias de apresentação, o espetáculo recebeu críticas mistas. Dominic Cavendish, em um artigo para o The Daily Telegraph, chamou-o de "material absorvente, se inconclusivo" que contornava questões científicas e sociais. Allan Radcliffe, em uma crítica no The Times de Londres, disse que o espetáculo "acaba sendo uma jornada longa e confusa em vez da sátira afiada da era online que poderia ter sido".

Na segunda-feira (5), Church-Woods disse que havia tranquilizado o elenco de que as críticas não eram importantes. Independentemente do que os críticos possam pensar, ele disse que os atores tinham "criado um momento cultural". Afinal, a mídia mundial estava escrevendo sobre eles.