Quem é Arnold Putra, o estilista indonésio que fez bolsa com espinha humana?
Na internet, ele ostenta vida de luxo e já se gabou de enganar índios brasileiros
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
"Disponível com ossos de costela humanos genuínos costurados à mão", dizia o anúncio de uma jaqueta de couro de cabra com capuz disponível no Unconventional, site britânico especializado em moda produzida por artistas independentes e "avant garde". A descrição parecia enquadrar Arnold Putra, cuja peça estava sendo vendida pelo equivalente a R$ 5.756.
O estilista indonésio acaba de se tornar alvo da Polícia Federal por suposto tráfico internacional de órgãos humanos. Ele seria o receptador de uma mão e três placentas de origem humana vendidas e enviadas pelo correio por um professor de anatomia da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas.
A corporação o descreveu como um "famoso designer indonésio que vende acessórios e peças de roupas utilizando materiais de origem humana". Mas quem é Arnold Putra? De onde veio? Como se tornou famoso?
A realidade é que há poucas informações sobre as origens dele, que é dono de um perfil com mais de 65 mil seguidores no Instagram (a conta, que era pública, foi fechada nos últimos dias). Por meio das redes sociais, ele afirma ter nascido em Jacarta, mas a idade não é informada —sites indonésios estimam que ele tenha entre 20 e 30 anos.
Ele estudou na capital indonésia até o segundo grau, quando se mudou para os Estados Unidos, onde frequentou a Loyola Marymount University, em Los Angeles. Vários veículos de imprensa de seu país de origem dizem que ele vem de família rica, embora não se saiba exatamente de onde adveio a fortuna.
O certo é que Putra ostenta uma vida de celebridade na internet, onde às vezes é chamado de "riquinho do Instagram". Ele costuma mostrar sua coleção de carros de luxo (segundo contou ao tabloide The Sun, a maior da Indonésia) e viagens em jatos particulares, além de usar roupas de grifes famosas nos cliques que exibe nas redes sociais.
Muitas vezes, ele aparece acompanhado da noiva Ariel Brasali, neta de um magnata da indústria da incorporação na Indonésia. A última publicação em que ela marcou a própria localização foi em Cingapura, aliás, local para onde o contrabando brasileiro estava sendo enviado.
Recentemente, Putra compareceu à Semana de Moda de Paris, onde esteve na presença de celebridades como Angelina Jolie, Naomi Campbell e Kate Moss. Nos stories, apareceu sentado no mesmo sofá que Kanye West e com sua então namorada, Julia Fox.
Ele também chamou a atenção pelo figurino escolhido para o evento: uma roupa inspirada no uniforme da Juventude Pancasila, milícia responsável por matar milhares de indonésios nos anos 1960. Após surgir em fotos com o traje, Putra foi muito criticado pelos conterrâneos —exceto pelos membros do próprio grupo paramilitar, que lhe agradeceram.
Putra chamou a atenção do mundo pela primeira vez no ano passado, quando divulgou a imagem de uma bolsa cuja alça seria feita da espinha dorsal de uma criança humana que teria tido osteoporose (o resto da bolsa era de língua de jacarés). Na época, o valor cobrado pela peça era o equivalente a R$ 27 mil e ele afirmou que o material humano havia sido importado "de forma ética" do Canadá.
Sua linha de roupas é especializada em couro e elementos "diferentões", por assim dizer. O designer também afirma usar pele de albinos e órgãos humanos plastinados (técnica para preservação de matéria biológica), entre outros.
Nas redes sociais, ele também costuma publicar imagens de expedições em que pesquisava alguns desses elementos. Há diversas publicações em tribos indígenas de diversas partes do mundo —inclusive na Amazônia brasileira em 2016.
Em uma das imagens, ele relata ter estado com os índios locais e se gaba tê-los enganado dando relógios falsos —não fica claro se em troca de alguma coisa. "Presenteando o chefe da tribo indígena Yagua, da Floresta Amazônica, colocando US$ 3,5 milhões em seu pulso, exceto que é uma daquelas imitações", escreveu.