Influenciadores da fé superam famosos ao usar canais digitais para atingir milhões de fiéis
Padres, pastores e monges expandem suas mensagens de forma global
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Padres, pastores e monges com canais no YouTube transformaram a plataforma em uma extensão de seu trabalho bem antes de a pandemia de Covid-19 obrigar os fiéis a acompanharem as celebrações pela internet. Muitos deles levam milhões de seguidores de diferentes religiões à web para ouvir diariamente suas mensagens, superando até mesmo youtubers famosos, como Giovanna Ewbank, do canal Gioh, que tem 4,59 milhões de inscritos.
Em comum, esses religiosos descobriram que podem alcançar um número muito maior de pessoas no ambiente virtual que nos templos e igrejas. E embora inspirem tantas pessoas com seu conteúdo, eles não se consideram influenciadores digitais e encaram as redes apenas como uma extensão do trabalho de difusão sua religião.
Deive Leonardo, 30, é um desses youtubers da fé. Em seu canal no YouTube, onde tem mais de 5 milhões de inscritos, ele fala de Jesus, independentemente de religião. Somando outras plataformas, como TikTok, Facebook e Instagram, ele tem mais de 17 milhões de seguidores.
Deive não é pastor, embora tenha feito curso de teologia após a faculdade de direito. "Sou mais um evangelista, mas, como eu uso a ferramenta digital, a gente acaba sendo chamado de influenciador. Mas me sinto mais um evangelizador", diz ele, que desde 2019 é membro da Assembleia de Deus em Joinville (SC).
Para ele, a vantagem da internet é poder levar a mensagem a pessoas em qualquer lugar do mundo, rapidamente. "Hoje você lança um vídeo na segunda-feira de manhã [no YouTube] e no final do dia já alcançou 300 mil pessoas. No Instagram é mais rápido e alcança 600 mil pessoas em uma hora."
Além das redes sociais, Deive Leonardo costuma viajar a cada dois meses para gravar os conteúdos que são publicados no canal, em diferentes cidades. As gravações são abertas ao público, que pode se inscrever antecipadamente pelo Instagram para acompanhar as apresentações.
De acordo com assessoria, os eventos custam, em média, R$ 100 para assistir a uma sessão de duas horas e seguem todos os protocolos sanitários contra Covid-19. É como se estivesse se apresentando em um stand up. Ele sobe ao palco iluminado, cumprimenta a plateia: "Fala meu lindo, minha linda. Tudo bem com você?" e começa a passar a mensagem.
PASTOR YOUTUBER
Com 6,8 milhões seguidores no YouTube, o pastor Antônio Júnior, 37, diz que o foco do seu canal é falar a palavra de Deus e se orgulha de nunca ter pago para impulsionar o canal. Ele conta que se tornou pastor aos 25 anos pregando para jovens de uma igreja evangélica, em São Sebastião do Paraíso (MG), mas não agradava tanto às lideranças. "Gosto de explicar muito calmo como se eu segurasse a mão da pessoa nas passagens da bíblia."
A virada veio em 2013, quando criou página no Facebook e ganhou 50 mil seguidores em três meses. No mesmo ano, lançou o canal no YouTube e hoje publica diariamente um vídeo de até três minutos para as pessoas ouviram antes de ir trabalhar –no início, Júnior publicava dois vídeos semanalmente.
Já são mais de 2.000 vídeos publicados, alguns deles vistos por mais de 10 milhões de pessoas. "É algo que jamais alcançaria na igreja [em um culto]", diz o pastor, ao ressaltar haver, em média, 300 pessoas nas reuniões.
O pastor Antônio Júnior diz que o sucesso do canal está ligado à maneira como apresenta a Bíblia, aplicada aos dias atuais e sem alterar princípios e valores. Exemplo disso é um vídeo sobre a importância do isolamento social durante a pandemia de Covid-19, no qual cita uma passagem da Bíblia para mostrar que Deus recomendou a quarentena para separar os leprosos das pessoas saudáveis, evitando a disseminação da doença. “A ciência descobriu uma coisa que já estava revelada na palavra de Deus."
Perguntado se acredita ser mais pastor ou youtuber, ele afirma que se considera os dois. “Eu influencio a vida das pessoas com a melhor ferramenta que eu tenho na mão que é a palavra de Deus."
CURSO BÍBLICO NO YOUTUBE
O padre Juarez de Castro já comandava a Paróquia Assunção de Nossa Senhora, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), e tinha programas na rádio e na TV quando decidiu, em 2020, publicar vídeos com mais frequência em seu canal no YouTube, que possui mais de 71 mil inscritos.
Animado com a plataforma, o padre decidiu colocar em prática uma vontade antiga: lançar um curso bíblico online (e gratuito) para explicar palavras e circunstâncias do livro sagrado. "A Bíblia é tabu porque [as pessoas] não compreendem uma linguagem de mil anos atrás."
O padre diz ter ficado impressionado com o alcance de suas publicações. "Isso fez com que eu tivesse uma multidão comigo. Um curso na igreja ou palestra seriam 30 a 40 pessoas, na internet alcança 70 mil, cada vez”, diz.
Para o padre, a grande vantagem é estar em tantos lugares em simultâneo. Ele destaca que o recurso de tradução da plataforma permite que, mesmo que o internauta não fale seu idioma, possa assistir seu curso. "Tenho a experiência de pessoas que começam a me seguir e de repente elas começam a se interessar pela religião e a perceber a igreja de um jeito diferente."
Apesar do sucesso nas plataformas digitais, padre Juarez não se vê como um influenciador digital. "Eu me vejo com muita clareza como padre, não me vejo como influenciador, é uma extensão do sacerdócio. Não dá para fingir que não tem internet e hoje não dá para fazer um trabalho de evangelização sem usá-la."
MONJA CONECTADA
Referência do zen budismo no Brasil, com oito livros publicados, a monja Coen Roshi diz que seu canal foi criado de forma despretensiosa há seis anos, pelo marido da neta. O casal passava uma temporada na casa dela após o nascimento do primeiro bisneto e, após assistir às palestras públicas da monja, perguntou se poderia gravar a apresentação para publicar no YouTube. "Assim nasceu minha relação com o YouTube."
O que eles não imaginavam é que tantas pessoas se interessariam pelos ensinamentos da monja, e o canal possui hoje mais de 1,6 milhão de inscritos. Para a monja, o contato virtual permite acessar um número maior de pessoas enquanto o presencial ocorre com as pessoas da cidade e do país, com algumas exceções. "O [contato] presencial pode ser mais intenso, o online mais extenso."
Com as várias atividades e cursos que ministra, a monja Coen afirma que não tem condições de interagir com todos que deixam comentários no seu canal, mas faz uma live uma vez por mês com alunos de alguns de seus cursos online, como o de introdução ao zen budismo.
“Respondo dúvidas e perguntas mensalmente, através das lives, juntando as várias questões apresentadas. Há também uma equipe de discípulas e discípulos treinados a responder apenas aos participantes do EAD [Ensino a Distância]”, afirma.
Mesmo com tantos seguidores, Coen diz que não é uma influenciadora digital e faz no canal o mesmo que monjas e monges: estimula as pessoas a despertarem a mente para a sabedoria e a compaixão para que sejam capazes de interagir de forma assertiva e bondosa. "Somos seres únicos, complexos e múltiplos. Não deixo de ser mãe, avó e bisavó para ser monja. Não deixo de ser monja para ser influenciadora."
Fonte: YouTube (canais com mais visualizações nos últimos 365 dias)