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Como ser mais querido pelos seus colegas, virtualmente

É possível criar vínculo com os colegas de trabalho por videoconferência?

Videoconferência - BBC Brasil

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Zaria Gorvett

BBC News Brasil

Está tudo indo bem, você começa a ver os sorrisos esboçarem. Até que, do nada, sua conexão cai. Quando você volta para a reunião, o tema da conversa mudou –agora eles estão falando sobre o tempo. E você nem sequer teve a chance de contar a eles sobre a bola de fogo do tamanho da sua cabeça.

Criar vínculos com colegas no mundo real é fácil –seja no "mesão" na hora do almoço ou nas rodadas intermináveis ​​de café. Mas a vida não é mais tão simples.

Agora que uma parte das pessoas está trabalhando de casa, as únicas ferramentas à disposição são videoconferências, aplicativos de serviço de mensagem e email –indiscutivelmente as formas de comunicação mais frias já inventadas. Para piorar a situação, os primeiros dias da pandemia revelaram de cara os perigos das videoconferências.

Teve a funcionária que sem querer foi ao banheiro diante das câmeras, os animais de estimação que seguiram o exemplo, a chefe que inadvertidamente ativou um filtro transformando sua cabeça em uma batata e uma série de nudes não intencionais.

Com esses contratempos em mente, é difícil relaxar diante da tela –quanto mais esboçar qualquer carisma. Mas então, como podemos fazer novos colegas, ou até mesmo conquistar sócios e clientes, neste novo mundo de trabalho virtual?

Há cinco regras simples:

SORRIA

Em 1936, o escritor americano Dale Carnegie publicou um livro que mudou o mundo. Como fazer amigos e influenciar pessoas vendeu mais de 15 milhões de cópias, tornando-se um dos livros de negócios mais populares de todos os tempos.

O bilionário investidor e filantropo americano Warren Buffett leu quando tinha 15 anos e diz que deve seu sucesso a ele. Tanto é que tem uma cópia emoldurada do certificado que recebeu de um dos cursos de Carnegie em seu escritório.

Entre as dicas de Carnegie está a importância do sorriso. Ele ressalta que se você parece satisfeito em ver alguém, essa pessoa ficará feliz em vê-lo - e especula que é por isso que todo mundo ama cachorro. "Eles ficam tão contentes que pulam para nós. Por isso, naturalmente, nós sentimos satisfação em vê-los", diz um trecho do livro.

Embora esse seja um conselho que costuma ser útil –apesar de um pouco óbvio–, no caso da videoconferência há uma oportunidade única: enquanto normalmente você teria que sorrir individualmente para cada pessoa na sala de reunião, em uma chamada de vídeo, você pode cativar 10 ou 20 pessoas com seu sorriso de uma vez só.

"Se você não tem um sorriso natural", diz o ex-fotógrafo Nicholas Boothman, autor do livro Como convencer alguém em 90 segundos, "aprendi com modelos de moda que repetir 'great great great' tem o mesmo efeito".

Embora as videoconferências sejam surpreendentemente cansativas –e podem sem dúvida drenar sua energia –é melhor não parecer entediado ou de saco cheio.

ENCONTRE ALGO EM COMUM

No escritório, contamos com uma série de experiências compartilhadas para criar laços com outras pessoas. Nos deliciamos com as guloseimas que os colegas trazem das férias, reclamamos do metrô lotado e relembramos alegremente aquele incidente na festa de fim de ano.

Embora possamos não perceber que é isso que estamos fazendo, encontrar algo em comum é um dos primeiros passos para estabelecer essa conexão.

"Quando recebo briefings de empresas, a maioria muito simpática, grandes CEOs são capazes de encontrar algo em comum até mesmo pelo telefone, em cerca de 15 segundos", diz Boothman. "Se você conseguir que alguém diga, 'uau, eu também', então é isso."

Boothman colocou em prática sua tática de conquista desde o momento em que atendeu o telefone, puxando uma conversa sobre a onda de calor que ambos estávamos vivendo, a milhares de quilômetros de distância. Falar sobre o tempo pode ser superficial e clichê, mas funciona.

Portanto, embora atualmente estejamos restritos a chamadas de vídeo, aplicativos de serviço de mensagem e e-mail, ainda há um vasto mundo de assuntos relacionados ao clima e à pandemia a serem conversados.

ESTEJA A POSTOS

Embora você possa estar impressionado com sua habilidade recém-descoberta de conduzir reuniões de negócios virtuais na cama ou preparar o jantar enquanto faz a última ligação do dia, essa pode não ser uma boa ideia.

"As videoconferências do Zoom não são feitas para passar o tempo", lembra Sally Hogshead, ex-executiva da área de publicidade e autora do livro Fascinação: Os 7 segredos para cativar o mundo à sua volta. "Elas são feitas para estimular a conexão e construir ideias. Portanto, é importante que estejamos totalmente presentes."

Hogshead recomenda se preparar para reuniões virtuais da mesma forma que você faria para qualquer outra. Isso geralmente significa começar com uma pesquisa online. Se for conhecer um colega ou colaborador novo, descubra qual é a história dele, o que o interessa ou motiva. Se você for fazer um brainstorming, escreva algumas ideias de antemão.

Também é vital conhecer o software que você está usando - se for bater um papo via Zoom, descubra que recursos a ferramenta possui e use-os a seu favor.

Para o happy hour da equipe, por exemplo, Boothman sugere adicionar um fundo virtual que diga às pessoas algo sobre você ou algo engraçado. Um homem viralizou porque colocou como papel de parede um vídeo reproduzido repetidamente dele próprio caminhando desajeitadamente e invadindo a reunião do Zoom.

Outras pessoas usaram imagens de bares reais, da série de televisão americana The Office e daquela vez que os filhos de um especialista interromperam uma entrevista ao vivo para a BBC News. Os fundos virtuais do Zoom têm a dupla vantagem de bloquear qualquer distração e evitar que colegas fiquem avaliando a sua casa. "Tem muita gente que não quer saber o quão boa a sua vida é", diz Boothman.

Embora possa ser tentador impressionar os colegas com seu jardim impecável ou cozinha ultramoderna ao fundo, ele recomenda escolher um plano de fundo que seja simples e neutro, como uma parede ou uma estante.

Se você está tentado a usar fundos virtuais, o ideal seria uma tela verde (tipo Chroma Key) para ter um bom resultado –ou ter uma folha branca que possa pendurar– para evitar que o fundo entre e saia de foco. Esses detalhes vão ajudar sua audiência a se concentrar no que você está falando, para que acompanhem suas histórias, riam de suas piadas e fiquem devidamente impressionados com suas ideias.

Dê crédito às pessoas por suas conquistas

"Tem bajulação, que é algo do tipo: 'aquela camisa deixa você bonita'", diz Hogshead, "e isso ou é clichê ou não é sincero, e não ajuda a estabelecer uma conexão." Mas há o reconhecimento, que é algo bem diferente. Trata-se de distribuir elogios que as pessoas merecem e fazer com que tenham visibilidade.

Dar o devido crédito às pessoas é uma das formas mais eficazes de influenciá-las, sem se tornar um vilão. Não diga a elas o que fizeram de errado - e, sim, o que fizeram certo. "Isso as faz querer fazer mais (coisas certas)", acrescenta Hogshead.

Esse não é apenas um bom conselho na área de gestão, mas uma maneira clássica de cativar as pessoas em quase todas as situações. Se alguém fizer uma observação inteligente em uma chamada de Zoom, diga a ela na hora. Se tiver uma grande ideia, idem.

Reconheça os colegas por sua preparação para a reunião ou até mesmo por sua capacidade de receber feedback. Hogshead enfatiza a importância de evitar elogios corriqueiros, que não terão muito impacto.

"Reconheça os colegas de uma forma que não seja tão óbvia a ponto de ser algo que ouvem o tempo todo", diz ela. "Meu marido tem olhos azuis incríveis, e as pessoas sempre comentam sobre isso. Ele fica lisonjeado, mas isso não cria uma conexão."

CONTE HISTÓRIAS

Os homens contam histórias há milhares de anos. Recentemente, cientistas descobriram uma pintura em uma caverna de 43 mil anos, retratando oito pequenas figuras semelhantes a humanos caçando dois porcos, que acredita-se ser a narrativa mais antiga do mundo.

Supõe-se que as narrativas evoluíram como uma forma de se relacionar com outras pessoas, transmitindo informações e dando sentido ao mundo ao nosso redor. Embora tenhamos trocado as fogueiras por escritórios –e agora por ambientes de trabalho virtuais–, a narração de histórias ainda é considerada fundamental para a forma como nosso cérebro funciona.

O psicólogo Jerome Bruner acredita que os fatos são até 22 vezes mais memoráveis ​​quando apresentados na forma de história –e em um mundo que está cada vez mais saturado de informações, a capacidade de elaborar uma narrativa é crucial para ser ouvido.

Embora contar histórias não gere uma conexão por si só, jornalistas e executivos de publicidade sabem há décadas que é o primeiro passo para chamar a atenção de alguém. Assim que forem fisgados, você pode demonstrar o quão engraçado, inteligente ou interessante você é.

"Às vezes, quando faço entrevistas por telefone com empresas que estão me sondando como palestrante", diz Boothman, "haverá cerca de oito pessoas em uma teleconferência e vão perguntar: 'Como você está?'. E eu direi: 'Ah, estou na minha fazenda no Canadá. Meu Deus, olha os cavalos vindo do vale para o pasto...' E aí você entra direto na imaginação deles. Eles conseguem visualizar isso."

Boothman explica que uma maneira fácil de melhorar sua narrativa é adicionar informações sensoriais ou fazer comparações. "Um dos melhores do mundo nisso é Warren Buffett", afirma. "Quando descreveu a última crise financeira, ele disse: 'Só quando a maré baixa é que você descobre quem está nadando pelado'."

Era uma referência aos bancos que haviam feito empréstimos que não eram capazes de pagar, esperando que ninguém notasse porque o mercado continuaria em crescimento. Ele é amplamente citado até hoje - e, sem dúvida, são descrições como essa que contribuem para o status lendário de Buffett e explicam por que as pessoas pagam milhões por um almoço privado com ele.

Em um mundo em que as pessoas estão sendo demitidas por Zoom –ou pior ainda, por email– e a próxima reunião cara a cara com seu chefe pode não acontecer antes de 2021, pode parecer que estamos cada vez menos humanos, reduzidos a um cargo ou assinatura de email.

Mas embora muitas formas usuais de se relacionar com os colegas de trabalho estejam atualmente fora de alcance, Boothman e Hogshead concordam que é perfeitamente possível pelo Zoom –só é diferente.