Nossa Senhora Aparecida é a santa mais popular do Brasil; conheça devotos que a veneram
A Satinha, como é chamada, é celebrada no dia 12 de outubro no país
Com uma história de mais de três séculos no Brasil, Nossa Senhora Aparecida continua sendo a santa mais popular e aclamada do país. E não faltam histórias de devotos que foram agraciados pela Santinha.
A dona de casa Glória Maria Balbino da Silva, 70 anos, conta que quase morreu ao parir sua única filha, há 42 anos. “Desmaiei durante o parto, o bebê não conseguia sair e corria risco de vida. Mesmo fraca, no meio daquela tensão toda, eu consegui ter forças para pedir à Nossa Senhora Aparecida que a criança, que eu nem sabia o sexo, nascesse com saúde. Me deram anestesia geral e usaram o fórceps”, conta Glória.
Uma menina saudável nasceu, e Silva decidiu dar à filha o nome de Elaine Aparecida da Silva, em agradecimento à padroeira do Brasil —conhecida também como protetora das grávidas e dos recém-nascidos—, santa celebrada no próximo sábado, feriado de 12 de outubro.
“Desde então vamos todos os anos para a basílica de Aparecida, agradecer por esse dia e pela vida”, conta Elaine, que hoje é advogada e vive no Itaim Paulista (zona leste). “Outra intercessão da Santinha foi quando fui curada de convulsões inexplicáveis que tive por cinco anos. Minha mãe pediu ajuda à Aparecida, e eu me curei. Ela sempre nos escuta”, agradece a filha.
O cirurgião dentista Luiz Renato de Melo Calças Paz, 43 anos, também se emociona ao contar sua história. “Sempre fui devoto de Nossa Senhora da Conceição Aparecida do Brasil. Lembro, desde pequeno, de minha bisavó ouvindo a rádio Aparecida. Naquela época, às 18h, o papa rezava o Pai Nosso em latim”, conta ele, que há cinco anos tem uma tatuagem da santa no braço.
Paz afirma que não teve uma grande graça alcançada, mas sim diversas pequenas graças, todos os dias. “Para agradecer, faço duas peregrinações por ano até a basílica em Aparecida”, conta ele, que vive na capital paulista. “Em uma delas, a caminhada pela fé, saímos de São Paulo na Quarta-feira Santa, pela via Dutra. Chegamos no Sábado de Aleluia, uma noite antes do lava-pés. É um grupo de umas 40 pessoas, e até idosos e pessoas fora de forma completam o caminho. É inexplicável, contra a razão, contra a ciência. Mesmo destroçados, caminharíamos mais dias.”
Há 302 anos, uma imagem atribuída à portuguesa Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no rio Paraíba do Sul, em Guaratinguetá, por três pescadores. A imagem ganhou um altar e passou a ser chamada de Aparecida devido à sua misteriosa aparição no rio —de acordo com informações do Santuário Nacional, a imagem é, originalmente, uma representação de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal.
A região de Guaratinguetá onde a santa foi encontrada foi batizada de Aparecida, que se tornou um município independente e hoje abriga a basílica.
Nos anos seguintes ao encontro da imagem, a Santinha ganhou devotos nobres, entre eles a princesa Isabel e o marido dela, o conde d’Eu. Após quatro anos de união e dificuldades para gerar um filho, o casal avistou a padroeira do Brasil pela primeira vez.
Passados 17 anos e com três filhos, o casal fez uma segunda visita à santa e, em agradecimento, a princesa doou a coroa de ouro cravejada de diamantes e o manto azul que até hoje vestem a Santinha. Foi então que Nossa Senhora passou a ser conhecida também como a padroeira das grávidas e dos recém-nascidos.
Cantora pediu inspiração à santa para batizar disco
Devota de Nossa Senhora Aparecida desde criança por influência da família, a cantora e educadora musical Miriam Maria, que prefere não revelar a idade, diz ter uma relação profunda com a santa.
“Após 12 anos produzindo meu disco, na reta final eu não achava um nome que fizesse sentido com a obra. Em 2016, decidi fazer uma caminhada de Minas Gerais até Aparecida, andando de 10 a 12 horas por dia, e pedi uma ajuda a ela, uma inspiração. Nada aconteceu. Quando cheguei em casa, um amigo me mandou uma mensagem e, dali, surgiu o nome que eu precisava, “Rama”, que tem a ver com flores e com meu disco anterior”, conta.
Profunda também é a relação da família de Miriam com Aparecida —com a santa e também com a cidade. Izidro de Oliveira Santos, tio dela por parte de mãe, era padre e, nos anos 1970, tornou-se reitor do Santuário Nacional, cargo que ocupou até 1979.
Um ano antes de deixar do posto, em 1978, houve um atentado contra a imagem de Nossa Senhora Aparecida: um homem a tomou da igreja antiga, saiu correndo e acabou derrubando a santa, que foi quebrada em 165 pedaços.
Ficou a cargo da artista plástica Maria Helena Chartuni, à época chefe do Departamento de Restauração do Masp, recuperar a imagem.
“Depois que o trabalho ficou pronto, a Santinha foi levada para Aparecida. A primeira pessoa que a recebeu em mãos foi meu tio Izidro. É muito emocionante saber que minha família faz parte dessa história”, diz Miriam.