Por que geração millennial depende dos pais para enriquecer
No que concerne dinheiro, os millennials têm um caminho difícil pela frente. Essa é a história que ouvimos: os millennials afundados em dívidas de empréstimos estudantis –que devem ultrapassar 1 trilhão de libras (R$ 4,7 trilhões) no Reino Unido nos próximos 25 anos– e lutando para pagar aluguel com custos de vida globalmente crescentes e salários mais baixos.
Os números corroboram essa história. A riqueza vem caindo a cada geração, e os millennials estão financeiramente em pior situação do que as anteriores. Mas nada disso surpreende. Há anos sabemos que a crise financeira global de 2008 atingiu duramente a geração de millennials (os que ficaram adultos no início do século 21), com muitos se graduando em meio a uma economia global conturbada –da qual alguns países sequer se recuperaram totalmente.
O lento aumento salarial, os altos custos de moradia e a ausência de poupança para a aposentadoria significam que os millenials vão correr atrás do prejuízo até a aposentadoria. Isso se eles conseguirem parar de trabalhar. O Fórum Econômico Mundial estima que até 2050, quando a geração millennial nos oito maiores mercados de pensão do mundo começar a se aposentar, o deficit da previdência será de US$ 427 trilhões (R$ 1,5 quatrilhões). O montante é seis vezes maior que o de 2015, de US$ 67 trilhões (R$ 250 trilhões).
Impulsionando este deficit estão itens como a expectativa de vida mais longa, a desaceleração de um longo período de crescimento e as baixas taxas de retorno da poupança, juntamente com os baixos níveis de educação financeira.
Esse cenário não traz uma imagem muito esperançosa para o futuro, mas talvez exista um cenário que não seja tão sombrio. Será que uma herança inesperada vinda da geração mais rica – os baby boomers – reverteria a sorte dos millennials?
ABRIGO DA TEMPESTADE
Ao contrário dos millennials, os baby boomers são a geração mais rica da história –e permanecerão assim até cerca de 2030. De acordo com um relatório de transferência de riqueza do Banco Real do Canadá, quando esse grupo repassar seus ativos para membros mais jovens da família, os analistas esperam que eles deixem US$ 4 trilhões (R$ 15 trilhões) em riqueza para a geração seguinte no Reino Unido e na América do Norte.
A expectativa é de um "boom de herança" dos baby boomers para os millennials da família. Portanto, a solução para os problemas de dinheiro dos millennials seria esperar que a geração mais abastada de baby boomers saia de cena para herdar seus ativos?
Esse é o argumento de Paul Donovan, economista-chefe global do UBS Wealth Management, que no início de 2018 previu que os millennials se tornarão a geração mais rica da história. Em entrevista ao Business Insider, ele argumentou que a riqueza não evapora da economia.
E, como os baby boomers são uma geração maior do que a de millennials, a riqueza se consolidará à medida que for transmitida pelas gerações. De forma simplificada: menos pessoas, a mesma quantidade de riqueza distribuída entre elas.
TODOS NA FAMÍLIA
Mas não é assim tão simples, afirma Moritz Schularick, professor de economia na Universidade de Bonn, na Alemanha. Ele argumenta que o modelo de transferência de riqueza intergeracional, no qual a geração millennial se tornaria a geração mais rica por herança, faz sentido apenas para o grupo do 1% mais rico do mundo.
"Aplica-se a pessoas que têm tanto que não conseguiriam gastar toda sua riqueza", explica o pesquisador. "Pessoas normais - e modelos econômicos padrões - presumem que as pessoas economizam para a velhice e, em seguida, usam suas economias [e] riqueza quando já não têm mais renda. No final de suas vidas, há alguma herança, mas não tanto assim".
Lowell R. Ricketts, analista-chefe do Centro de Estabilidade Financeira das Famílias do Banco Central de St. Louis, concorda. Ele diz que apenas uma minoria das famílias dos baby boomers repassará uma "riqueza significativa". Os dados de junho de 2018 do Federal Reserve dos EUA confirmam isso: entre 1995 e 2016, apenas 2% das heranças eram de US$ 1 milhão (R$ 3,7 milhões) ou mais.
Embora alguns ativos, por natureza, mantenham seu valor ou até mesmo se valorizem, diz Ricketts, não podemos supor que os baby boomers manterão seus ativos até o momento da herança. "Uma casa pode ter que ser liquidada na aposentadoria para manter um padrão de vida. Portanto, mesmo que esses ativos não desapareçam da economia, isto não significa que eles serão retidos ou repassados".
PLANO B
Mesmo que a transferência de ativos de fato se concretizasse e impactasse de forma significativa a riqueza do millennial, diz Ricketts, o tempo é um fator crucial. No relatório Demografia da Riqueza, do Fed da cidade americana de St. Louis, pesquisadores escreveram que o acúmulo de riqueza americana para as famílias chefiadas por alguém nascido na década de 1980 está 34% abaixo da expectativa.
"Essas famílias estão se aproximando de importantes marcos financeiros (posse de imóveis, criação de filhos, poupança para a aposentadoria) com menor acúmulo de riqueza", diz Ricketts. "Uma herança inesperada no futuro não ajudará essas famílias a cumprir suas obrigações financeiras atuais. Em outras palavras, a promessa de uma transferência futura não resolverá o pagamento exigido para uma hipoteca".
Se você está entre os millennials que cruzam os dedos por uma entrada-surpresa de dinheiro, então o modelo de Donovan provavelmente não se aplica a você. Esperar por uma herança inesperada não pode ser seu plano A –e, mesmo que esta seja uma realidade, você provavelmente terá que esperar por muito tempo.
À medida que as gerações mais velhas continuam a ter dificuldades com a poupança para a aposentadoria e a viver mais com menos, os millennials que querem poupar para a aposentadoria podem continuar flertando com uma opção testada e comprovada: poupar dinheiro com investimentos de baixa volatilidade.
O lado positivo das altas taxas de juros na economia não é tão emocionante quanto encontrar-se rico, com certeza. Mas os millennials não estão acostumados a aceitar o que conseguem? O benefício a longo prazo das taxas de juros mais altas na economia certamente não é tão satisfatório quanto ganhar um bom dinheiro de repente, claro. Mas os millennials já não estão acostumados a aproveitar o que têm na mão?