Televisão

Globo usa inteligência artificial para fazer ator cadeirante andar em 'Justiça 2'

Paraplégico há cerca de 20 anos, Luciano Mallmann aparece em cenas de seu personagem mesmo antes do ataque violento que o faz perder os movimentos das pernas; entenda como

O ator Luciano Mallmann, destaque em 'Elas por Elas' (esq.) e 'Justiça 2' (dir.) - Montagem

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Rio de Janeiro

Em 2024, completam-se 20 anos desde que Luciano Mallmann, 53, sofreu um acidente trágico que o deixou paraplégico. Cadeirante desde então, o ator aparece caminhando na série "Justiça 2", que estreou nesta semana no Globoplay, serviço de streaming da Globo. Milagre? Nada disso.

A explicação passa pela inteligência artificial, segundo Manoela Zozimo, coordenadora de dramaturgia do time de tecnologia da emissora. Ela explica que a IA foi usada para aprimorar um processo de manipulação digital da imagem e colocar o rosto do ator no corpo de um dublê, de modo que ele pudesse fazer cenas andando.

Na trama, Mallmann é Cassiano, um ex-nadador que perde os movimentos das pernas após um ataque violento. O ator aparece tanto nas cenas em que o personagem já é cadeirante quanto nas que o mostram antes de ficar paraplégico.

"A história tinha um personagem que, em algum momento, fica paraplégico. E a gente tinha, queria contar essa história a partir do viés do ator, que ele participasse de todo o processo", explicou Zozimo. "Então a gente usou uma tecnologia que a gente já conhece, que é o deepfake, mas que foi superaprimorada, e conseguimos viabilizar essa história a partir daí."

Para ela, a "cereja do bolo" é quando a inteligência artificial generativa consegue ser atrelada ao processo criativo. "A máquina aprende todos os movimentos e faz uma leitura desse ator, de modo que a gente consegue inserir no dublê a face do nosso ator cadeirante para que toda a história seja contada por ele mesmo, pela atuação dele mesmo, inserida ali no rosto do nosso dublê", afirmou. "No modelo tradicional, a gente tinha muita dificuldade de fazer isso, porque levava um tempo muito grande e tinha um custo muito alto."

Autora da série, Manuela Dias contou que tanto ela quanto o diretor artístico Gustavo Fernandez queriam muito que o personagem fosse vivido por um cadeirante de fato. "A gente acredita muito que a diversidade tem que extrapolar todos os limites e que todo mundo tem que se sentir representado", comenta. "E, a gente, ao mesmo tempo, é claro, queríamos um grande ator."

Mallmann, que se despediu nesta semana do personagem Carlinhos de "Elas por Elas" —novela que ele gravou após o encerramento de "Justiça 2"—, foi apresentado à dupla pela produtora de elenco Marcella Bergamo após manifestarem esse desejo. "Conseguir um elenco diverso é fruto de muito investimento por parte da empresa", destaca Dias.

OUTROS USOS

Segundo Manoela Zozimo, a inteligência artificial também já vem sendo usada para facilitar o trabalho em outros campos dentro da Globo. "Hoje, a Globoplay já tem 40 episódios de séries com audiodescrição feita 100% com inteligência artificial", afirmou.

"Não seria possível fazer sem IA. Não nessa proporção, não nessa escala, não para a gente conseguir entregar da quantidade que a gente vai precisar entregar, porque uma coisa é eu olhar e pensar um programa, outra coisa é a gente pensar toda uma grade", avaliou a coordenadora.

Zozimo foi uma das participantes do painel sobre IA e novas tecnologias do Festival Acontece, promovido pela Globo para cerca de 500 parceiros e convidados. Também estavam presentes Fernanda Jolo, líder do time técnico de inteligência artificial do Google Cloud para a América Latina, o autor George Moura ("Onde Está Meu Coração") e o diretor Fábio Mendonça ("Cangaço Novo").

A apresentação foi da jornalista Aline Midlej, que cometeu uma pequena gafe no começo do painel. Ela deveria interagir com uma suposta repórter, chamada Lígia Melo, que estaria falando com ela ao vivo de outro lugar. No entanto, tratava-se de uma figura virtual, criada pela equipe de tecnologia da Globo.

Como Midlej atrasou suas falas, a personagem acabou lhe respondendo a uma pergunta antes mesmo de que a jornalista conseguisse terminar de formulá-la. "A Lígia tem as suas limitações. Já nós aqui somos ilimitados na nossa sensibilidade, na nossa capacidade de criar", improvisou.

O jornalista viajou a convite da Globo