Para elenco, Covid em 'Amor de Mãe' deixou a trama histórica: 'Lurdes é o Brasil'
Novela terá salto de seis meses e personagens vivendo em pandemia
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Bebê fofo sorrindo para o computador, elogio a novos cortes de cabelo, brincadeiras e declarações de saudade. Foi assim, como uma reunião de família em tempos de pandemia, que atores de “Amor de Mãe” (Globo) se reuniram com a imprensa em uma coletiva virtual. “É que a gente está com saudade”, afirma Regina Casé.
O encontro aconteceu na terça passada (23) para falar do retorno da novela nesta segunda (1º) ainda como retrospectiva --os episódios inéditos começam no dia 15. Regina Casé, que dá vida a Lurdes estava lá, com todo seu núcleo: Magno (Juliano Cazarré), Ryan (Thiago Martins), Érica (Nanda Costa) e Camila (Jéssica Ellen), além do “quase intruso” Sandro (Humberto Carrão), como ele mesmo diz.
Após meses se vendo diariamente, em gravações que aconteciam até aos sábados e tarde da noite, a família de Lurdes foi forçada a se separar em março de 2020 por causa da pandemia. Inicialmente, a paralisação duraria 15 dias, depois até o final de junho, o que também não aconteceu. O reencontro foi apenas para setembro, quando voltaram as gravações.
Enquanto o elenco permanecia em casa, aflito, esperando o desfecho de seus personagens, a autora Manuela Dias não parou de trabalhar. Na verdade, teve quatro dias para organizar sua vida à pandemia, com a casa em reforma e a filha sem aulas, revela ela, presente na coletiva. Depois disso, roteiro e mais roteiro.
“Por alguns dias eu pensei em não colocar a Covid na trama, porque ia parar por apenas 15 dias, mas logo ficou claro que não tinha como. A experiência ia ser muito mais longa e intensa do que imaginávamos no início, aí comecei a curtir, pensar como cada um dos personagens ia reagir a essa realidade”, diz Manuela Dias.
Segundo a autora, assim que começou a ser discutido um protocolo de segurança para retomar as gravações, ficou claro que a Covid teria que entrar na história, para fazer sentido medidas como a divisão de núcleos, distanciamento e uso de máscaras. Ainda assim, não sumiram os carinhos e abraços que o nome da novela pede.
Para deixar tudo possível, emissora e equipe criaram uma "operação de guerra", com testes semanais para detectar a doença, acrílicos para separar atores em cena, pessoas responsáveis pelo uso de máscara e álcool nas gravações e isolamento dos atores em hotéis quando o roteiro pedia cenas que violassem esse distanciamento.
Regina Casé brinca e diz que Tamires se tornou membro da família, ao recordar a funcionária que auxiliava os atores na hora de pôr e tirar máscaras durante todas as cenas. “Ela vinha toda hora, higienizava, colocava e tirava máscara”, recorda a atriz. Até no vídeo de divulgação da segunda fase da novela a jovem aparece.
Quanto a história, os personagens vão se adaptar à Covid como o resto do mundo fez. “A força do destino vai achando seu caminho. Nesta pandemia, além de tentar ficar vivo a gente tentou realizar os nossos sonhos pessoais. Então a Lurdes vai continuar a encontrar os meios dela para encontrar Domênico”, afirma a autora.
Ainda segundo Dias, a busca de Lurdes foi uma de suas grandes preocupações na hora de mudar o roteiro e incluir a doença, mas no fim ela diz ter gostado do resultado. Para o elenco, que também diz ter ficado apreensivo com a entrada da doença no roteiro, a trama agora ganhou um caráter histórico, documental.
“Lamentei muito o fato de a novela ter parado. Faríamos uma coisa muito linda se tivéssemos seguido aquele trabalho, tudo que a Manu tinha pensado para todos nós. Mas por outro lado, a gente fez algo ainda mais lindo, que vai ficar histórico”, afirma Juliano Cazarré, que teve sua quarta filha durante a pandemia e apresentou a pequena Maria Madalena aos colegas na coletiva.
Regina Casé foi só elogios ao novo roteiro, apesar de ter sido resistente a ele no começo. “No fim, achei uma coisa ótima! Ficou mais do que realista, mais do que naturalista, ganhou uma característica documental. Marca, não só a época, mas as emoções. Isso eu diria que é um pós-naturalismo, e a Manuela fez com maestria.”
“Se a Lurdes já era humana, a pandemia deixou ela mais humana. Deixou de ser uma mulher nordestina na periferia do Rio de Janeiro e agora ela é o Brasil, vivendo o que todos estamos vivendo. Preocupada em como ganhar dinheiro, como seu filho vai trabalhar, como ela vai ao médico. Emoções novas que estamos aprendendo a lidar a duras penas. Isso conferiu à novela uma dimensão muito maior.”
Mesmo com a avaliação positiva do caminho que a novela e as gravações tomaram, os atores apontam algumas saudades que persistiram nesta segunda fase, como as mesas fartas de Lurdes, que geralmente se transformavam em bate-papos que se estendiam para muito além das gravações. Pelo novo protocolo não era possível mais comer em cena.
Outro momento de descontração perdido foi o dos pagodes aos sábados de manhã. Regina Casé conta que o camarim se tornava uma festa com música e dança entre atores, cabeleireiras e maquiadoras. "Esse momento era muito bom. Elas ainda me mandam mensagem para falar que elas têm saudade do nosso pagode”, afirma a atriz.
“ESPERANÇA FRUSTRADA”
“Amor de Mãe” foi a primeira novela a suspender as gravações por causa da pandemia, e a primeira a retornar aos estúdios, seis meses depois. Segundo o elenco, um momento cheio de emoções. Para Humberto Carrão, muita apreensão, mas alívio também. Já Nanda Costa diz que teve esperança de que a vida estivesse voltando ao normal.
“Primeiro teve a beleza de encontrar as pessoas de novo. Foram seis meses dentro de casa, e dava uma impressão de tudo estar voltando ao normal. Na época, a gente imaginava que quando a novela voltasse à programação teríamos festa para celebrar, imaginando o fim da pandemia, o que não veio”, diz Carrão.
O ator classifica como violento o fato de que, após um ano de pandemia, o elenco tenha que fazer coletiva de divulgação de forma online. “É terrível que a gente esteja agora em uma situação ainda pior. É bom que a Manu tenha colocado a Covid na novela. Imagina voltar mostrando vida normal com 1.200 pessoas morrendo por dia”.
Com a Covid na trama, Manuela Dias optou por dar um salto no tempo. A história continuará seis meses depois do final da primeira fase, quando Thelma (Adriana Esteves) matou Rita (Mariana Nunes) para manter em segredo que seu filho, Danilo (Chay Suede), é, na verdade, Domênico, filho roubado de Lurdes.
A autora decidiu por não dar uma data, mas um número: 9.000. A história será retomada no momento em que o Brasil registrava 9.000 mortes provocadas pela Covid-19 –hoje esse número ultrapassa a 250 mil. Personagens estarão isoladas e suas preocupações, voltadas a pandemia. Camila, por exemplo, estará dando aulas online.
Nanda Costa afirma que o salto no tempo ajudou a retomar sua personagem. “Depois de tudo que a gente vive e passa, nós acabamos voltando diferente. Eu fiquei preocupada. Por isso, a passagem de tempo ajudou muito, deu uma tranquilidade. Não sabemos exatamente o que esses personagens passaram."
Já Humberto Carrão diz que não imaginava ter problemas em reassumir o papel de Sandro, mas se surpreendeu. “Tinha toda uma construção de corpo. Quando a novela parou meu personagem já estava se transformando, e na primeira vez que fui gravar tive a impressão de estar fazendo o primeiro Sandro."
Os demais personagens afirmam que tiveram um retorno mais tranquilo nesse sentido. “Passaram-se seis meses, achei que não ia conseguir retomar igual, imaginei que sairia um sotaque gaúcho, mas assim que coloquei aquela roupa e aqueles óculos a Lurdes voltou. Os óculos, a bolsa e a toalhinha são mágicos”, diz Regina Casé, em tom de brincadeira.