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Gloria Pires relembra a vilã Maria de Fátima, de 'Vale Tudo': 'Ela se encaixa no perfil psicopata'

Novela que parou o país com o mistério 'Quem matou Odete Roitman?' volta ao ar no Globoplay

Maria de Fátima (Gloria Pires) em 'Vale Tudo' - Globo

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São Paulo

Em 1988, com então 25 anos, Gloria Pires faria um papel que mudaria a sua vida e a sua carreira: a vilã Maria de Fátima, da novela "Vale Tudo" (Globo). Na trama, ao contrário da mãe, Raquel (Regina Duarte), que sempre batalhou para sobreviver honestamente, a personagem de Gloria é movida por seu desejo quase doentio de subir na vida e tem completa aversão à sua origem e à pobreza. Ela é capaz de passar por cima de tudo e todos para atingir seus objetivos.

Não poupa nem a mãe. Logo nos primeiros capítulos, Maria de Fátima vende a única propriedade da família no Paraná, e foge com o dinheiro para o Rio de Janeiro, deixando Raquel sozinha e desamparada. "O meu entendimento era que a Maria de Fátima era uma personagem cerebral. Eu busquei fazê-la desprovida de empatia, como os psicopatas são, em vez de acentuar os atos condenáveis que ela cometeu contra a própria mãe", afirma a atriz.

Esse antagonismo entre mãe e filha foi um dos ingredientes da novela, que fez grande sucesso e parou o país em seu último capítulo ao revelar o mistério: Quem matou Odete Roitman? Agora, a trama escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères poderá ser vista novamente. A partir da noite deste domingo (19), "Vale Tudo" volta ao ar no Globoplay como parte da iniciativa da plataforma de disponibilizar clássicos da televisão em seu catálogo –a exemplo de "Tieta" (1989), "A Favorita" (2008) e "Explode Coração" (1995).

A novela levou para o horário nobre da Globo a discussão sobre corrupção e o famoso jeitinho brasileiro. Além de Maria de Fátima, a "Vale Tudo" tinha outros vilões, com destaque para a rica e esnobe Odete Roitman, interpretada pela atriz Beatriz Segall (1926-2018). A vilã desprezava o país e tinha frases marcantes, como "O Brasil é um país de jecas, ninguém sabe usar o talher de peixe."

Em determinado momento da história, Maria de Fátima e Odete Roitman se aliam com um objetivo em comum: que a jovem se case com Afonso (Cássio Gabus Mendes), filho da socialite."A diferença maior entre as duas é que Odete Roitman tinha o poder, e Maria de Fátima queria chegar lá. O desempenho das duas atrizes ajudou muito a que alcançássemos o sucesso", diz Gilberto Braga.

Na entrevista a seguir, Gloria Pires relembra os bastidores da trama.


Você tinha apenas 25 anos quando interpretou Maria de Fátima. Qual foi o seu maior desafio na construção dessa personagem tão intensa?
Gloria Pires: Antes de qualquer coisa, preciso dizer o quanto adoro essa novela. O melhor do estilo Gilberto Braga está lá, com todas aquelas tintas do folhetim tradicional. O meu entendimento era que Maria de Fátima era uma personagem cerebral. Eu busquei fazê-la desprovida de empatia, como os psicopatas são, em vez de acentuar os atos condenáveis que cometeu contra a própria mãe.

E como era fora das telas? Após fazer tanta maldade na ficção, você conseguia desligar da personagem quando não estava atuando?
Gloria Pires: Não são as ações más ou boas que pesam na rotina da novela. São os sentimentos que levam àquilo, e nisso é que mora toda a questão do estresse.

E o público, confundia muito a ficção com a realidade? Como era a repercussão nas ruas?
Gloria Pires: Acho que 'Vale Tudo' inaugurou uma questão que eu não havia reparado antes, nas novelas, a empatia do público com a vilania. Isso é muito interessante porque a crítica social que a novela traz é muito próxima.

Como você classifica a Maria de Fátima?
Gloria Pires: Uma jovem mulher ambiciosa e sem empatia. Creio que se encaixa no perfil psicopata.

De todas as coisas que a Maria de Fátima aprontou, qual delas você considera a pior?
Gloria Pires: Sem dúvida, deixar a mãe desamparada.

Teve alguma cena que te marcou mais?
Gloria Pires: Houve uma cena que fiquei bloqueada. Era com o pai, Rubinho [Daniel Filho]. Ela o desclassificava, como 'fracassado' que era, o humilhava.

Qual a importância da Maria de Fátima para sua carreira?
Gloria Pires: Foi um divisor de águas, na vida e na carreira. Foi com ela que passei à idade adulta e também para um outro patamar profissionalmente.