Televisão

Bráulio Bessa diz que 'gosta de abraçar e de ser abraçado por todo tipo de gente'

Com mensagens de autoajuda, escritor faz sucesso no Encontro e na internet

Camilla Feltrin
São Paulo

​Quem assiste ao programa Encontro, apresentado na Globo por Fátima Bernardes, já sabe que sexta-feira sim, sexta-feira não, um homem de chapéu declama cordéis dos mais variados assuntos —desde o amor entre irmãos, passando por mensagens de repúdio ao racismo até chegar a homenagens aos cães vira-latas. Tudo isso com iluminação baixa e trilha sonora calminha.

Nascido em Alto Santo, no Ceará, Bráulio Bessa, 34, se diz inspirado pelo poeta Patativa do Assaré (1909-2002) e conta que foi parar por acaso no matinal da TV Globo. Primeiro como convidado em uma entrada por vídeo em 2014 para falar sobre o preconceito sofrido por nordestinos, depois na plateia e, a partir da terceira apresentação, como responsável pelo quadro “Poesia com Rapadura”.

Oralidade, humor e assuntos cotidianos são algumas das características da literatura de cordel, também presentes na produção de Bráulio. O artista ainda se destaca por uma pegada de autoajuda, que pode ser observada a partir dos títulos de seus livros —“Recomece” (2018), “Poesia que Transforma” (2018) e “Um Carinho na Alma” (2019) são suas três últimas publicações que, juntas, já venderam mais de 200 mil cópias, de acordo com a editora Sextante.

Escrever com "sentimentos" e ser "visceral" fazem parte do processo criativo do poeta, ele diz. "O programa [Encontro] aborda assuntos que precisam ser falados, como suicídio, racismo, homofobia, violência contra a mulher, assédio, autismo e tantos outros. E poder falar disso através da poesia para milhões de pessoas é uma responsabilidade muito grande”, diz ele, que confessa não pesquisar muito sobre os temas. “Em se tratando de poesia, preciso falar o que sinto, o que aprendi ou vivi sobre aquilo.”

 

O bom-mocismo do cearense, que enaltece sempre que possível a esposa, Camila Mendes, a comida tradicional nordestina, a mãe e o respeito entre os seres humanos, no entanto, pode ser alvo de ódio de alguns.

Recentemente, Bráulio relatou ter recebido mensagens de um leitor descontente com um texto sobre diversidade e que teria, inclusive, ateado fogo em seu livro. Com bom humor, o poeta desejou que certa parte do sistema digestivo do reclamante queimasse “para ele parar de se preocupar” com a vida dos outros. O público do artista cearense é diverso, englobando de crianças a idosos.

“Fico muito feliz com isso, porque escrevo para o ser humano, sem fazer distinção de cor, raça, religião ou situação financeira”, afirma. “Gosto de abraçar e de ser abraçado por todo tipo de gente”, completa.

A pecha de “poeta da Fátima Bernardes” não o incomoda, pelo contrário, ele se diz honrado com a ligação com a apresentadora. “Acho isso muito bacana. Estou sendo associado a uma pessoa de quem eu sou muito fã e por quem tenho grande admiração, como ser humano e como profissional”, elogia.

“Fazer poesia no Encontro foi uma quebra de paradigma em cima da poesia popular nordestina e da literatura de cordel. Muita gente achava que era uma poesia limitada, de assuntos e temáticas limitadas, mas não é. É uma modalidade literária como qualquer outra e riquíssima em possibilidades”, avalia

Um dos desejos do poeta para 2020 é continuar no programa. “Enquanto ‘Fatinha’ quiser poesia por lá, eu estarei por lá também.”

FENÔMENO NAS REDES SOCIAIS

Bráulio Bessa lançou recentemente “Um Carinho na Alma”, seu quarto livro de poesia. Porém, mais do que do papel e da TV, é das redes sociais que vem a popularidade do poeta. O cearense é uma espécie de influenciador literário no Instagram, com 2,9 milhões de seguidores —para se ter ideia, o escritor mais famoso do Brasil hoje, Paulo Coelho, tem 900 mil seguidores a menos.

A internet, aliás, foi fundamental para catapultar a fama deste poeta que já ouviu muito o papo de que “poesia não vende”. Outro medidor de seu alcance nas massas: o poeta está em 34 dos 50 vídeos mais assistidos na página do Gshow, o portal de entretenimento da Globo, em 2018.

Isso sem contar as palestras motivacionais que o artista dá. Ele estima que são 25 por mês, muitas delas para a clientela corporativa. Uma empresa especializada em vendê-las anuncia o palestrante como alguém que “tem incentivado a vida de milhares de pessoas do Brasil a serem realizadoras de sonhos”.

O poeta faz sucesso sobretudo na terceira idade, o que explica suas sessões de autógrafo terem fila de prioridade para idosos. E o fato de versar sobre temas universais o ajuda a driblar a polarização que tem pairado sobre a cena cultural —além disso, Bráulio não costuma cutucar esse vespeiro político.

“Escrevo sobre assuntos que têm papel social”, diz. “Estou falando de machismo, de homofobia, dizendo que todo amor é normal. Agora, não vou pegar minha poesia para fazer discurso político.”