Televisão

Eduardo Mossri achou médicos sírios vendendo água na praia em pesquisa para 'Órfãos da Terra'

Descoberto no teatro por 'Cartas Libanesas', ator faz sua estreia na TV

Eduardo Mossri interpreta Faruq na novela das seis da Globo - Divulgação/TV Globo
São Paulo

Veterano do teatro e premiado com a peça "Cartas Libanesas", que estava em cartaz em São Paulo e narrava a imigração sírio-libanesa para o Brasil na Primeira Guerra Mundial, o paulistano Eduardo Mossri, 37, estreia na televisão em um papel familiar a ele: o médico sírio Faruq, de “Órfãos da Terra” (Globo).

“Meu personagem representa uma classe de refugiados que tem instrução e carreira, mas não consegue exercer o seu ofício no Brasil. Claro que é preciso ter um crivo para exercer a profissão aqui, mas é uma boa discussão a se levantar”, afirma o ator, que tem ascendência libanesa. 

Na trama, Faruq chega ao Brasil e não pode exercer a medicina até conseguir a revalidação de seu diploma. "Ele é um médico bem-sucedido e reconhecido internacionalmente em sua profissão, mas é obrigado a sair do país ao perder a mulher e os três filhos na guerra da Síria", conta Mossri.

No Brasil, o personagem foi atendido no campo de refugiados e procurou se informar sobre como pode exercer sua profissão. Mas sem o histórico escolar e outros documentos, ele vê que será um caminho muito difícil a se trilhar. 

Na vida real, Mossri foi atrás de médicos sírios na mesma situação e conheceu apenas uma médica que conseguiu a revalida. "Tem a questão da língua e o fato de que se aprendeu coisas diferentes por lá. Como ela é mais nova e fala inglês foi um pouco mais fácil. Mas conheci um médico que vendia água na praia no Rio de Janeiro, por exemplo", revela o ator.

Na trama de Thelma Guedes e Duca Rachid, Faruq mantém o foco na busca por validar a documentação enquanto aceita vaga de recepcionista na clínica de Letícia (Paula Burlamaqui). Ele a ajuda, mas sofre preconceito dos pacientes dela. "Claro que ele quer se sustentar, mas ele quer ajudar. Ele vê que tem muita gente precisando de apoio e ele não consegue fazer nada", afirma o ator.

A preparação para viver um personagem de origem árabe começou há tempos na vida de Eduardo Mossri. Ele conta que é metade libanês e já tinha familiaridade com o árabe. "Meus avós não me ensinaram a falar a língua, mas ganhei outra chance de aprendê-la pelo viés da arte."

Paulistano e formado em artes cênicas pela USP (Universidade de São Paulo), o ator esteve no elenco de mais de 20 peças ao longo dos últimos 20 anos. Escreveu a peça “Cartas Libanesas”, com a qual ele ganhou prêmios e também a vaga na novela para viver Faruq. "A peça é inspirada em cartas de meus avós e de sírios e libaneses que vieram para o Brasil como imigrantes na Primeira Guerra Mundial”, explica o ator.

Após a estreia em 2015, a peça rodou todo o Brasil e passou por Marrocos e pelo Líbano. “As histórias são um pouco diferentes porque eles eram imigrantes e não refugiados. Mesmo assim, há uma semelhança com o tema. As autoras [Thelma Guedes e Duca Rachid] assistiram a peça e me convidaram para fazer esse papel”, revela Mossri.

Os avós de Mossri, mesmo como imigrantes, chegaram ao Brasil com poucos recursos. Ele conta que seus avós vieram só com a roupa do corpo e, por isso, a "minha família fala com orgulho que eles sustentaram e formaram cinco filhos". "Sou fruto dessa história."

Falar sobre refúgio e mexer com as origens dos brasileiros é uma questão importante, segundo o ator. “Foi o teatro que me trouxe para fazer uma novela e que tem uma história que se funde com a minha ancestralidade. Claro que não vivi nada do que os refugiados vivem, mas é importante lembrarmos que todos no Brasil somos estrangeiros –a não ser que você seja índio", defende o ator.