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Brasil é 'vice' em tempo gasto em redes em ranking dominado por 'emergentes'

Globalmente, as pessoas gastam quase 150 minutos por dia nas mídias sociais - BBC News Brasil/Getty Images
Fernando Duarte

Uma nova pesquisa detectou que o tempo gasto nas redes sociais globalmente aumentou quase 60% em média nos últimos sete anos.

A empresa de pesquisa GlobalWebIndex, com sede em Londres, analisou dados de 45 dos maiores mercados de internet do mundo e estimou que o tempo diário médio que cada pessoa dedica a sites ou aplicativos de mídia social aumentou de cerca de 90 minutos em 2012 para 143 minutos nos primeiros três meses de 2019.

Existem grandes variações regionais e nacionais. Em termos regionais, a América Latina é onde mais se utiliza redes sociais no mundo –a média diária é de 212 minutos, enquanto, o nível mais baixo foi registrado na América do Norte, com 116 minutos.

As Filipinas são o país onde as pessoas passam mais tempo nas redes sociais: 241 minutos por dia, enquanto, no Japão, são apenas 45 minutos.

O Brasil vem em segundo no ranking, com 225 minutos, um aumento em relação a 2018, quando o tempo médio gasto com isso foi de 219 minutos.

Os países mais "sociais"*

Tempo médio gasto com mídia social

Ranking País Minutos (2019) Minutos (2018)
1 Filipinas 241 248
2 Brasil 225 219
3 Colômbia 216 214
4 Nigéria 216 206
5 Argentina 207 197
6 Indonésia 195 203
7 Emirados Árabes 191 180
8 México 190 194
9 África do Sul 190 178
10 Egito 186 185
12 Arábia Saudita 186 172
13 Turquia 185 172
18 Rússia 148 141
19 Índia 145 148
22 China 139 120
25 EUA 117 125

Em quase metade dos países, tempo de uso caiu

Mas, talvez surpreendentemente, a pesquisa com cerca de 1,8 milhão de pessoas também revelou que esse tempo permaneceu o mesmo ou diminuiu em quase metade dos países (20).

O GlobalWebIndex diz que os dados apontam que muitas pessoas "estão tendo uma melhor percepção do tempo que passam diante das telas".

"Os usuários de internet agora passam mais de seis horas online por dia, e um terço desse tempo é dedicado às redes sociais", disse Chase Buckle, gerente de tendências da empresa.

"Com as crescentes preocupações em torno de privacidade e moderação de conteúdo, a presença das redes sociais no cotidiano se tornou uma questão importante. A quantidade de tempo diário que dedicamos a elas é um dos indicadores mais visíveis disso."

Das nações pesquisadas, a Tailândia registrou a maior queda no uso diário, de 194 minutos para 171 minutos, entre 2018 e 2019. No Vietnã, caiu 10 minutos em comparação com o ano passado.

Nas Filipinas, a média foi de mais de quatro horas diárias nas redes sociais - BBC News Brasil/Getty Images

'Superaplicativos' são populares na Ásia

A média na China é agora de 139 minutos por dia nas redes sociais, 19 a mais do que em 2018. Houve um aumento de 14 minutos na Arábia Saudita e de 13 na Turquia.

"Na Ásia, o cenário das redes sociais é bastante único. Os 'superaplicativos' - programas de rede social que vão muito além do papel principal - são populares. Permitem que usuários não apenas se conectem com colegas, mas também façam qualquer coisa, desde pagar contas de serviços públicos, reservar restaurantes, pedir táxis e pagar por itens em lojas", explicou Buckle.

"Na China, o WeChat domina o cenário das redes sociais, e cada vez mais atividades estão migrando para o aplicativo, dando aos consumidores mais e mais razões para usar no dia-a-dia."

Dados demográficos

O aumento do tempo gasto nas plataformas parece ser sustentado por uma faixa etária específica, de 16 a 24 anos.

São essas pessoas que gastam mais tempo por dia online - o GlobalWebIndex aponta um uso diário de rede social de pouco menos de 180 minutos, em média, em 2018.

Quanto mais jovem a população, maior será o tempo de uso geral de um país, e é por isso que os países emergentes lideram o ranking de "tempo gasto online".

"Os usuários jovens permanecem entre os mais engajados em geral, em comparação com outras faixas etárias. A realidade é que eles continuarão sendo os mais engajados", acredita Buckle.

Preocupação com a saúde mental

Especialistas alertam que o tempo de uso mais longo está associado a uma série de problemas de saúde mental.

O tempo gasto nas redes sociais aumentou na maioria dos países pesquisados - BBC News Brasil/Getty Images

"Pesquisas indicam que as pessoas que passam mais tempo usando as redes sociais são menos felizes", diz Ashley Williams, professora da Harvard Business School.

"O uso excessivo de tecnologia pode ser problemático. Em casos extremos, está ligado à depressão, acidentes e até morte."

Os riscos potenciais parecem ter desencadeado mudanças comportamentais: o uso de aplicativos de "bem-estar digital", que limitam ou rastreiam o tempo gasto, estão aumentando.

O estudo GlobalWebIndex mostrou que usuários "pesados" das redes sociais são mais propensos a usar essas ferramentas - incluindo os mais jovens.

"Eles são muito familiarizados com o mundo digital, mas isso também lhes permite regular com mais facilidade o tempo de uso. Mais de dois terços daqueles entre 16 a 24 anos admitem estar constantemente conectados, e mais de um terço também diz que a tecnologia torna a vida mais complicada. Há uma clara consciência do impacto da tecnologia em suas vidas ", observou Buckley.

Jovens de 16 a 24 anos são os usuários de rede social que mais passam tempo neste tipo de serviço - BBC News Brasil/Getty Images

O que é ideal?

Não existe um "número mágico" oficial para o tempo que as pessoas devem passar online. A Organização Mundial da Saúde publicou suas primeiras diretrizes em abril do ano passado - e são voltadas para crianças menores de cinco anos.

Um estudo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, publicado em dezembro passado descobriu que limitar o uso das redes sociais a 30 minutos por dia mostrou "reduções significativas na solidão e na depressão" em um grupo de 143 estudantes que participaram de um experimento.

Mas alguns especialistas acreditam que a questão é mais complexa. "As redes sociais são incrivelmente diversas - sites diferentes oferecem uma variedade de recursos diferentes. Isso torna extremamente difícil generalizar sobre os efeitos", explica Andy Przybylski, psicólogo do Instituto de Internet da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

BBC News Brasil

*Fonte: GlobalWebIndex, 2019