Igreja onde será missa de Gal Costa é cenário de um dos mais tristes episódios da MPB
Foi na Paróquia de Nossa Senhora da Paz que Pixinguinha sofreu um infarto fulminante, em 1973, durante desfile da Banda de Ipanema, que o homenageia todos os anos
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Marcada para o início da noite desta terça-feira (15), a missa de sétimo dia de Gal Costa será celebrada numa igreja centenária do bairro de Ipanema, na zona sul do Rio, onde a música, a política e a fé se entrelaçam em momentos históricos -e nem sempre felizes.
Foi na Paróquia de Nossa Senhora da Paz, na esquina das ruas Joana Angélica e Visconde de Pirajá, que Tom Jobim e Stuart Angel, militante político morto pela ditadura, foram batizados, e onde Juscelino Kubitscheck e Dona Sarah se casaram, em 1931.
Primeira missa Iê-iê-iê no Brasil, ao som de covers dos Beatles? Opa. Foi lá também, em 1966, ano da última turnê da banda. "Os jovens irão à igreja se houver quem os atraia para lá", disse o padre responsável à época, para justificar a vanguardista atividade extralitúrgica.
Sete anos depois, um episódio, ainda que trágico, acabou por inserir de vez a igreja ipanemense no rol dos pontos de relevância cultural da cidade. Pixinguinha morreu ali. Lá dentro, no altar. E a história que se passa nos comoventes momentos após a sua morte repercutem até hoje em um dos mais tradicionais blocos de rua da cidade. Poderia ser o roteiro de um filme, um livro bem escrito, uma série caprichada, mas aconteceu mesmo.
Dois sábados antes do carnaval de 1973, Pixinguinha vestiu seu melhor terno e saiu de casa, no bairro de Inhaúma, para ir à cerimônia de batizado do filho de um amigo, na Nossa Senhora da Paz. Levava como presente para o bebê uma partitura manuscrita de Carinhoso. Estava feliz, ao lado do filho, Alfredinho, e se preparava para assinar seu nome no livro da igreja. De repente, não mais que de repente, ele cai, em pleno altar. Infarto fulminante.
A Banda de Ipanema fazia seu desfile pré-carnavalesco neste dia, e a notícia da morte de Pixinguinha começou a circular entre os foliões, que já percorriam as ruas do bairro. "Quisemos cancelar o cortejo, mas já não dava mais", lembrou, em recente entrevista, Cláudio Pinheiro, irmão de Albino Pinheiro, fundador da banda.
Quando estavam a três ruas da igreja, um temporal tratou de dar um tom ainda mais dramático àquele dia, e os integrantes partiram, instrumentos em punho e lágrimas nos olhos, em direção à paróquia. "Paramos ali na frente e decidimos homenageá-lo. A partir desse momento, começou a tradição. Todo desfile nosso, paramos naquela esquina e tocamos ‘Carinhoso’." E é assim até hoje.