Xand Avião revê carreira na pandemia e diz que 'quantidade não é qualidade'
Cantor não parou de produzir e descobriu a força dos streamings
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Assim como aconteceu com toda a classe artística, o cantor cearense Xand Avião, 38, tem amargado preocupações e perdas na pandemia. O forrozeiro interrompeu os shows, chegou a contrair Covid e teve que demitir cerca de 50 pessoas, que ele espera recontratar assim que possível.
Até a esperança de retomar as turnês em 2021 ele está perdendo: “Na virada do ano eu me ajoelhei e pedi pela vacina. Mas pelo andar da carruagem, pelo meu porte, do Wesley Safadão, do Gusttavo Lima, acho difícil que trabalhemos esse ano. Não queria ser pessimista, mas não dará sem vacina”, afirma.
Mas não foi apenas de problemas esse período sem shows. Xand diz que refletiu bastante e, quando retornar aos palcos, não pretende voltar ao ritmo de antes. Segundo ele, a ideia é frear um pouco, afinal “quantidade não é qualidade”. Assim, sua média de 22 shows por mês deve ser reduzida a cerca de 12.
Ele conta que, como o ritmo frenético de antes, acabou negligenciando possibilidades de sua carreira, como os streamings de música e as redes sociais. Na pandemia, ele continuou a entregar novidades a seus fãs, mas por esses meios, o que lhe rendeu números importantes, que ele espera manter.
No Spotify, por exemplo, ele acumula mais de seis milhões de ouvintes mensais de seus hits. As duas músicas mais executadas, segundo a plataforma, são “Basta Você me Ligar - Ao Vivo”, com 180 milhões de plays, e “Algo Mais (Amante) - Ao Vivo”, com 98 milhões.
Já na Deezer, Xand Avião cresceu quase 115% nos últimos seis meses, na comparação com os seis meses anteriores. De acordo com a plataforma, o público que mais o ouve tem entre 26 e 45 anos (45,92%), seguido por quem tem de 18 a 25 anos (25,17%). Ele tem quase 900 mil fãs na plataforma, ou seja, pessoas que favoritaram o artista.
“Antigamente eu não tinha esses números por culpa minha. Quando tudo parou que eu fui perceber que havia uma ferramenta de longo alcance que não estava usando. Tenho uma legião de fãs e meu público está mudando. Preciso acompanhar esse movimento”, destaca Avião.
O mais recente trabalho do cantor é uma versão em forró da música “Apaga a Luz”, lançada do funkeiro MC Topre e sucesso no TikTok. “O ritmo de forró em uma música de funk dá um quê a mais. Fica mais interessante ainda mais acompanhada de um clipe interativo”, afirma ele, que lançou a nova música no último dia 12. Veja alguns destaques da entrevista do músico ao F5.
Você acaba de lançar a versão forró do hit “Apaga a Luz”. O que ela tem de mais bacana?
A gente sempre está ouvindo o que rola pelo país e essa música viralizou. Através do meu produtor, DJ Ivis, que também está se lançando como cantor, conheci o [MC] Topre, o compositor da música. E esse cara perguntou se não tinha como gravar em outro ritmo comigo. Então fui convidado e decidimos fazer a gravação e o clipe em menos de 24 horas. Lançamento com a pegada do Xand Avião.
Como foi feito o clipe em meio à pandemia?
Viajei de Fortaleza até São Paulo. Desci do aeroporto, tomei um banho e filmamos. No caso a gente já tinha feito teste para Covid-19 dois dias antes, pois tínhamos feito um programa na Globo. O clipe foi todo com chroma key [fundo verde onde é possível colocar imagens]. Não gravamos todos juntos. Tem efeitos visuais, ficou bem legal. Essa música é a mais tocada no Tiktok.
A versão em forró deu outra cara à melodia?
O ritmo de forró feito em uma música de funk dá um quê a mais. Fica mais interessante ainda mais acompanhada de um clipe interativo. Aparecem várias pessoas dançando, mas é tudo efeito especial.
Como você vê essa mescla de ritmos?
Isso que me move. Tenho riqueza musical grande por ter trabalhado em rádio, fui locutor em um tempo que tocava até o que não gostava. Então, conheço e ouço pop, rock, samba. Já cantei de tudo. Gosto de passear pelo funk, sertanejo. Há pouco tempo gravei com o grupo As Baías. Gravei até bolero. Adoro beber de outras fontes.
Como a pandemia tem te afetado?
Bateu e está batendo forte. Não conseguimos fazer shows, só lives. O YouTube foi importante nesse período, pois eu nunca tinha usado essa plataforma como poderia. Fiz seis lives que deram o mesmo trabalho de fazer seis DVDs. Mesmo assim, nossa tecnologia avançada não substitui o calor humano com 10 mil pessoas gritando e tirando foto. Já deu um ano e um mês parado, mas sem vacina não tem como trabalhar.
Perdeu muito dinheiro na pandemia?
Perdi muito, porque como cantor rodo pelo país todo. Meu maior ganho é nos shows. Antes tinha a venda de discos, agora não mais. Pouca gente consome DVD. Tínhamos uma estrutura gigante com 50 pessoas empregadas, e todos perderam seus empregos [a tendência é que eles sejam recontratados após a pandemia]. Estamos tirando dinheiro de algum lugar, das economias para segurar até onde dá.
Consegue fazer planos para 2021?
Na virada para 2021 eu me ajoelhei e pedi pela vacina. Mas pelo andar da carruagem, os maiores cantores deverão começar a voltar lá para agosto ou setembro para shows com 100 pessoas. Pelo meu porte, do Wesley Safadão, do Gusttavo Lima, acho difícil que trabalhemos esse ano. Não queria ser pessimista, mas não dará sem vacina.
Como ficaram as suas relações familiares nesse contexto?
Meus pais não moram comigo, são separados e moram em cidades diferentes. Para proteger eles fiquei mais afastado e com saudade. Passei três meses sem vê-los. Atualmente fico só com minha esposa [Isabele Temoteo] e com meus dois filhos com ela [Enzo, 13, e Maria Isabella, 8]. Tenho outros dois [Aguida, 20, e Adryan, 18] que moram com a mãe e demorei mais para vê-los. No passado, após o Carnaval [antes da pandemia], tirei férias e pude viajar para Miami com os quatro juntos. Quando eu voltei, eu e a minha esposa pegamos a Covid-19.
Como lidaram com a doença?
Foi difícil. Agora nessa segunda onda, estou evitando até ir nas cidades onde meus pais moram. Meu pai está em Pau dos Ferros (RN) e minha mãe fica em Natal (RN). Não quero pegar de novo e por isso redobrei as atenções. Até novembro eu não tinha medo, mas agora eu tenho.
O que adora fazer e não conseguiu mais nesse período de quarentena?
Viajar é o que eu mais adoro e estou há mais de um ano sem viajar. Sempre que podíamos a gente viajava pelo Brasil ou para fora dele. Adoro provar da gastronomia dos lugares. Estou tentando aprender a cozinhar agora, inclusive. Gosto de ver filmes, sou viciado em pedalar e quando pego a bike faço 70 quilômetros. Me ajuda a pensar na vida.
A pandemia te trouxe mais discernimento para pensar sua carreira?
A pandemia chegou para dar um start: quantidade não é qualidade. Não vou parar de cantar nunca, mas dá para fazer 12 shows bem acabados. Eu fazia 22 ao mês. E aprendi que todo mundo é igual, não existe preto, branco, pobre ou rico. Vi milionários e pobres morrendo de Covid. Temos de dar mais valor à família. Nunca vivi tão perto da minha e quero continuar vivendo.
Quais projetos profissionais você tinha em mente e foram postergados?
Tanta coisa. Estávamos com gravação de DVD marcada para abril de 2020. A gente ficou sem fazer nada, apenas lives. Fiquei entre os cinco artistas com as melhores lives do país. Mas estou focado em presentear o público com novidades. Todo mês lanço uma música. Alimento as plataformas com novos materiais e clipes. Estou fazendo um compilado de canções para quando acabar a pandemia juntar tudo num DVD.
Seus números nas plataformas de música são muito bons. A que se deve isso?
Antigamente eu não tinha esses números por culpa minha. Fazíamos uma média de 22 shows por mês e não havia tempo para alimentar nossa própria rede. Quando tudo parou que eu fui perceber que havia uma ferramenta de longo alcance que não estava usando. Tenho uma legião de fãs e meu público está mudando. Preciso acompanhar esse movimento.
A música “Não Pode se Apaixonar” já passou das 34 milhões de visitas em um mês. Qual segredo?
Já tive mais esse "vício" de encaixar hits. O Aviões do Forró quando estourou, em 2008, ficou em primeiro lugar no Brasil. E eu queria sempre estar em primeiro. Quando saímos do primeiro lugar e começamos a figurar entre os dez mais tocados me preocupei em achar rápido um novo hit. Nem sempre a gente acerta, mas geralmente, de cinco músicas lançadas sei que três virarão sucesso.
Você virou empresário dos cantores Zé Vaqueiro e Nattan na pandemia. Como lida com esse lado?
Foi culpa da pandemia. Estava sem fazer nada e surgiu o Zé Vaqueiro para eu conhecer, estava estourado, o mais ouvido no YouTube. Nunca tinha agenciado ninguém porque sempre focava na minha carreira. A música ‘Letícia’ já está com mais de 200 milhões de visualizações. Depois, apareceu o Nattan para eu empresariar. Eles são novos e excelentes. Estou dando toques a eles por ter 19 anos de sucesso.
Como deseja estar daqui cinco ou dez anos?
Já estarei próximo dos 50 anos e quero estar cantando ainda, mas bem menos, e ajudando pessoas. Meu filho [Enzo, 13] quer ser cantor. Não sei se vou ajudar, mas ele canta bem. Vou ver se darei uma luz a ele nesses próximos anos.
E pelo lado pessoal, o que deseja?
Já consegui tudo inclusive pelo lado material. Mas quero viver mais com meus filhos e esposa, curtir a vida mesmo e o que a gente construiu.