Música

Scalene lança disco mais MPB inspirado na pandemia, mas diz que roqueiragem vai voltar

EP 'Fôlego' teve uma das faixas inspiradas nas manifestações antirracistas

Membros da banda Scalene - Matt Magrath/Divulgação

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São Paulo

A banda de rock Scalene resolveu, há dois anos, deixar um pouco de lado a bateria feroz e a guitarra pesada e abrir espaço para as melodias mais calmas da MPB. Foi com essa nova vibe que eles lançaram em 2019 o disco “Respiro” e apresentam agora seu mais novo trabalho: o EP (disco com até seis faixas) “Fôlego”, que vem a calhar no atual momento de pandemia vivido no Brasil e no mundo.

Foi justamente essa uma das maiores inspirações para que quatro das cinco músicas que compõem o álbum fossem produzidas. Segundo o guitarrista Tomás Bertoni, em entrevista ao F5, o disco é uma espécie de continuação do anterior. “Esse disco não existiria sem a pandemia. Querendo ou não, a percepção do momento nos deixou à flor da pele para compor sobre o que sentimos”, diz.

O grupo é formado por Tomás, seu irmão, Gustavo Bertoni, além de Lucas Furtado e Philipe Nogueira. Segundo eles, as faixas que melhor representam esse momento são “Caburé” e “Passageiro”. “Elas abordam bastante as reflexões do momento. Gosto de ter uma visão otimista, mas realista. Creio que conseguimos”, diz Gustavo Bertoni.

Mas não é apenas a pandemia que inspirou esse novo trabalho. Eles contam que os movimentos contra o racismo, que tomaram os noticiários e as ruas em vários países também foram a base para a música “Espelho”. “Baseados principalmente no que rolou com o George Floyd [homem negro morto por um policial branco nos Estados Unidos, em maio] fizemos essa música", conta Gustavo.

"Essa foi a última composição. Tínhamos dúvidas sobre ela, mas conversamos com amigos e percebemos que estava boa. O branco também precisa falar de racismo com respeito”, completa. Além das três citadas, fazem parte de “Fôlego” ainda as músicas “Caleidoscópio” e “Estar a Ver o Mar”, a única feita antes da pandemia. Todas já estão disponíveis nas plataformas de streaming.

Todo o álbum foi gravado remotamente com ajuda de grupos de WhatsApp e supervisão de um produtor. Cada músico gravou de casa a sua parte instrumental. Acabou que eles ficaram empolgados e tiveram até de pegar emprestado instrumentos. “Ficou melhor e maior do que imaginávamos. Queremos que, daqui alguns anos, quem escutar o disco nem perceba que foi feito de casa”, brinca Tomás.

Todo o trabalho ficou pronto em três semanas. Agora, a expectativa deles é para quando poderão voltar a fazer um lançamento oficial e shows.

Apesar da banda afirmar que o estilo mais calmo foi aprovado pela maioria dos fãs, a guitarra pesada e o estilo rock voltarão já no próximo trabalho. Segundo Tomás, a ideia é compor o próximo disco já até o final do ano. “Fazer um trabalho como esse, explorando outros ritmos, é sair da zona de conforto. Foi bom para a nossa confiança como artistas. Mas em breve a roqueiragem vai retornar.”

METADE MÚSICO METADE PAI

O novo EP não é a única novidade na vida do Scalene durante a pandemia do novo coronavírus. Benjamin, o filho de dois meses do vocalista Tomás Bertoni, nasceu em junho. Ele e a mulher, a apresentadora Titi Müller, seguem em casa tentando dar todo o suporte ao pequeno, mesmo que tudo esteja mais difícil.

“A rede de apoio é importante, mas tem sido complicado. Para alguém da família poder vir cuidar do Benja ela precisa passar por exames, quarentenar, é muito demorado. Tudo é mais trabalhoso. É uma tensão que paira no ar o tempo todo”, afirma.

“Infelizmente, estamos focando mais em passar por esse momento da melhor forma do que curtindo mesmo”, completa ele, que afirma estar ainda mais difícil para Titi, já que o desgaste físico e mental para a mulher é muito maior. “Eu mesmo pensei em dar todo o apoio que ela precisa, mas só eu é complicado. As pessoas da família ajudam via FaceTime. Mas estamos nos saindo bem como pais.”

E se o momento é de dificuldade, será que um novo filho entra em pauta? De acordo com Tomás, não por enquanto. “Tentei abordar esse assunto e quase fui expulso de casa”, brinca. “Ainda está muito cedo para pensar nisso. Não sabemos quanto tempo durará essa pandemia. Ano que vem a gente conversa”, afirma.