Fofices

Galinha Pintadinha cresce na pandemia e segue pondo 'ovos de ouro' a criadores

Com bilhões de visualizações, personagem diversifica lançamentos e dribla a crise

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Marcos Luporini, 50, não gosta de chamar a Galinha Pintadinha de sua "galinha dos ovos de ouro". "A comparação não é muito boa porque a galinha dos ovos de ouro morre no final da história", explica em entrevista ao F5. Porém, certamente a personagem animada, criada por ele e Juliano Prado, 49, em 2006, continua dando frutos —mesmo na pandemia.

Na contramão da crise que afetou quase todos os setores da economia, os negócios da Galinha Pintadinha vão muito bem, obrigado. Em 2020, a Bromelia Produções, que detém a marca, observou um crescimento de 25% nas vendas (tanto online quanto presenciais) dos cerca de 500 produtos licenciados que existem no portfólio dela.

Além disso, foram mais 5 milhões de inscritos no canal oficial do YouTube, que já soma 26,3 milhões ao todo. É um crescimento 4,7% superior ao que ocorreu em 2019. Atualmente, trata-se do oitavo maior canal brasileiro na plataforma de vídeos, em qualquer ramo de atividade.

Parte dos números pode ser explicada pela presença das crianças em casa, com boa parte das aulas de escolas e pré-escolas ocorrendo de forma virtual. "É chato dizer, mas a pandemia foi boa para a empresa, para o nosso ramo de atuação", afirma Luporini.

Ele ressalta, porém, que isso só ocorreu porque a empresa fez a sua parte. "A Galinha Pintadinha já nasceu com DNA digital", conta. "Em termos de produção, passamos a trabalhar de casa, mas não teve nada que piorou. Na verdade, uma parte das coisas a gente já fazia usando as ferramentas da internet."

Luporini lembra, inclusive, que o sucesso quase por acaso da personagem se deveu a isso. Quando o vídeo original da Galinha Pintadinha (hoje com mais de 680 milhões de visualizações) foi publicado no YouTube era para mostrar em uma apresentação à qual a dupla de criadores não poderia comparecer.

"A ideia era só economizar no motoboy (risos)", afirma. "Na época, a gente não sabia se ia virar um CD Rom ou um VHS. Eu trabalhava com publicidade e, nos intervalos, fui gravando as músicas. Depois que o Juliano começou a mexer com animação, veio a ideia de fazer um projeto mais nosso."

De lá para cá, foram bilhões de visualizações (são mais de 18 bilhões só no canal principal em português e 33 bilhões no geral) e presença em plataformas de streaming de 15 países. A identidade da Galinha Pintadinha já está tão consolidada que os criadores apostaram, pela primeira vez, no lançamento de uma música nas plataformas de streaming de áudio sem estar acompanhada de um vídeo.

Trata-se do clássico "Nana Neném", que chegou ao Spotify no começo do ano. No serviço, são mais 402 mil ouvintes mensais, ou seja, pessoas que escutaram pelo menos uma música da Galinha Pintadinha nos últimos 30 dias. Sem contar as que escutam várias vezes a mesma canção, caso de muitas crianças.

A música foi escolhida porque "traz boas lembranças para todo mundo", segundo Luporini. "Ela é uma das que são mais pedidas, faz algum tempo que estamos com uma demanda grande por canções de ninar. E quando o público encontra o que estava querendo, o retorno é sempre bom."

Também é um experimento para crescer e diversificar o alcance da Galinha Pintadinha, para não depender muito de uma única plataforma. "O setor infantil está um pouco cercado", explica o criador. "Em 2020, houve um acordo do YouTube e de outras plataformas nos Estados Unidos para tirar algumas funcionalidades dos canais infantis."

Entre as funcionalidades banidas estão os comentários. "Isso é muito ruim para a gente", afirma. "Tinha toda uma outra história da Galinha Pintadinha escrita ali. E isso tudo foi apagado."

Ele também diz acreditar que a proibição da publicidade infantil não seja o melhor caminho para frear o consumo entre as crianças. "A gente está vivendo um problema: as pessoas estão querendo fazer um mundo à parte para as crianças", avalia.

"A criança não pode ficar no celular, mas o adulto passa o dia olhando para a tela e comendo bolacha recheada", compara. "Está faltando encontrar um equilíbrio."

"Entendo a intenção [da proibição], mas foram apertando tanto a publicidade infantil que o resultado é que sumiu da TV aberta o desenho animado", lamenta. "Aí a criança acaba assistindo ao Jornal Nacional."

Falando em crianças, Luporini afirma que a empresa já pensou em lançar personagens voltados para outras faixas de idade. "Temos a ideia, mas, ao mesmo tempo, é uma empresa que gosta de ser pequena, então a Galinha absorve todo o nosso potencial de trabalho", conta.

"A gente nunca teve muito essa visão de 'vamos enriquecer', é mais o 'devagar e sempre'", explica. "A Galinha tem caminhado para ser um clássico, com versões de músicas que todo mundo vai ouvir. O que eu mais quero é ver uma geração apresentando para outra. Já está começando a acontecer."

Ele revela que, inicialmente, os criadores não sabiam que a personagem atrairia mais fortemente o público pré-escolar. "Pensávamos que seria um público um pouco mais velho, em idade escolar", diz. "Incluímos até a bolinha saltitante na letra porque a gente achava que a criança ia ler e acompanhar."

"Agora, sei que muitas crianças maiores também assistem, mas tem aquela coisa de não querer dizer que ainda assiste porque cresceu", entrega. "Não tenham pressa de virar adultos! A gente passa sendo criança só uns 12 ou 13 anos, depois são pelo menos uns 55 anos sendo adulto (risos)."

Sobre os próprios filhos, ele diz que eles assistiram muito quando tinham a idade do público-alvo. "Quando pararam de querer assistir, foi agridoce", confessa. Hoje, Luporini diz que eles já dão sugestões e querem participar da criação.

Entre os projetos que estão no forno, há uma série de livros e videolivros baseados em contos clássicos da literatura, como "O Patinho Feio" e "Os Três Porquinhos". "Sempre houve esse pedido", diz Luporini. "A Galinha vai colocar o Pintinho para dormir e começa a contar as histórias para ele."

O canal também fez parceria com o Ninho das Mães para a produção de conteúdo voltado para a nutrição, com a ideia de humanizar as receitas e ajudar a vida das mães. Mas tem outro feat que Luporini gostaria de fazer na área da saúde.

Ele lembra que, já no clipe original, a Galinha Pintadinha recebe uma vacina do Pavão. Essa brincadeira inclusive aparece nos espetáculos teatrais da personagem. "Já fizemos umas cinco ou seis montagens e, em todas, o Pavão sempre vem com a pena e 'pimba' na bunda da Galinha", diz, aos risos. "Já pensou se a Galinha vira o novo Zé Gotinha? Infelizmente, o Zé Gotinha está meio em baixa."