Isolamento social estimula artistas e anônimas a assumirem os fios grisalhos
Mulheres aproveitam a quarentena para deixar o cabelo natural
Desde os 27 anos, a hoje aposentada Elisabete Roza Villa Rios pinta o cabelo para cobrir os fios brancos. São mais de 30 anos fazendo tintura a cada 20 dias. Agora, aos 58 anos, e estimulada pela quarentena (e a impossibilidade de ir ao salão) e por uma tendência cada vez maior de mulheres que resolveram assumir os fios grisalhos, ela também decidiu parar com a pintura.
"Já estava cansada de toda hora ter que pintar o cabelo. Como está sendo divulgado que o cabelo branco está na moda, pensei: quero ver como o meu fica", relata ela, que diz admirar a postura da atriz Cassia Kis, 62, que há anos usa os fios grisalhos. No período de isolamento social, outras artistas também deixaram o cabelo natural como Fafá de Belém, 63, Tatá Werneck, 36, e Suzana Alves, 41.
"Estou curtindo o resultado. Agora estou louca para fazer um corte arrepiado", afirma Rios. Assim como a aposentada, a professora e veterinária Fernanda Fidelis Gonsales, 40, tem fios grisalhos desde antes dos 30 anos. Mas ela resolveu assumir os brancos em 2017, cansada de ter de retocar a raiz a cada 15 dias.
"Eu era uma escrava do meu cabelo, tinha que mudar compromisso para poder ir ao salão e fazer a tintura". Para facilitar na transição, na época, ela raspou o cabelo de um lado, e deixou a outra parte bem curtinha. Com isso, conta que se livrou de um outro problema: o alisamento.
"Quando deixei o cabelo natural, eu pirei e pensei: 'Não quero mais alisar, não quero mais tingir. Meu cabelo é assim, se você não gostou, paciência, sinto muito'. Esses padrões de beleza impostos são complicados: todo o mundo tem que ser magra, ter o cabelo comprido, loiro e liso. Para mim, foi muito libertador não ter que pintar mais", diz.
Agora na quarentena, o seu desafio tem sido deixar os fios crescerem, o que quebra outro mito: o de que cabelo grisalho precisa ser curto e ter um corte moderno para ser estiloso. "Já escutei isso de algumas amigas, de que o cabelo branco comprido vai me envelhecer. Mas estou amando meu cabelo maior."
Gonsales conta que quando ela começou a deixar os fios grisalhos, escutou de muitos amigos homens que ela estava parecendo mais velha. "Eles falavam: 'Você parece ter 38, 39 anos'. E eu dizia: 'Mas essa é a minha idade. O que eu posso fazer, eu estou envelhecendo'".
Outra coisa que Gonsales diz ouvir muito, mas de mulheres na casa dos 60 anos, é que o branco fica bem nela por ela ser mais jovem. "No Brasil, se você tem cabelo branco, você é acabado, você é velho. Mas qual é o problema de ter cabelo branco? Eu vejo que as pessoas ao meu redor tem muito preconceito, e as mulheres sentem insegurança em relação a aceitar isso."
Para ela, no entanto, tudo é uma questão de se sentir bem. Quando ela tinha 28 anos e o seu cabelo começou a ficar muito grisalho por causa de algumas situações estressantes que ela passou, Gonsales conta que não pensava em assumir a raiz branca. Com o tempo, porém, ela diz que foi se conhecendo melhor e se aceitando do jeito que é. "Se para você é importante colorir, não tem problema. O que eu fico um pouco triste é com essa cobrança externa. Mas acho que cada um tem que ser feliz", conclui.