Contra lábios rachados e descamação, saiba como proteger a pele na estação mais fria do ano
Inverno é propício para surgimento de problemas como dermatite e psoríase
Pele ressecada, lábios rachados e vermelhidão por todo o corpo. Problemas como esses são comuns quando a temperatura começa a cair e o corpo reage, pedindo por atenção redobrada. Em casos mais graves, esses problemas evoluem para doenças como a psoríase, os eczemas e a dermatite atópica, enfermidades que podem causar coceiras, lesões, vermelhidão e até manchas na epiderme.
É o que acontece com a estudante Vitória Letra, 20: "Sempre tive a pele seca e dermatite, que eu descobri no calor –minha pele chegava a ficar em carne viva. Eu trato, mas quando chega o frio ou o tempo fica mais seco, a pele começa a cortar e ficar bem áspera, irritada e descascando."
Ela conta que descobriu o problema na adolescência, quando, em vez de espinhas, tinha as regiões da boca, olhos e nariz ressecadas e avermelhadas. Além do rosto, o dorso da mão e a região dos braços também sofrem com a mudança de estação.
A dermatologista Karla Assed diz que a pele fica mais ressecada durante o inverno porque se perde menos água e ainda é preciso lidar com a falta de exposição ao sol. Ela reitera a importância de manter o uso do protetor solar mesmo no frio, uma vez que a radiação está presente em dias nublados ou de chuva. O ideal, segundo a Sociedade Brasileira Dermatologia, são filtros a partir do 30.
Também é possível fazer uma reposição da vitamina D, cuja absorção é facilitada pela exposição ao sol, com alimentos derivados do leite, como iogurte e queijo, diz o dermatologista Guilherme Ito, da Cia. da Consulta.
Um dos perigos do inverno para a pele é o mau hábito de alguns brasileiros de tomar banhos muito quentes. Segundo Ito, os banhos devem ser mornos ou frios, demorando menos de cinco minutos. É preciso evitar esfoliações e usar buchas ou esponjas, no máximo, uma vez por semana. "Nossa pele tem proteção natural, e no inverno ela fica prejudicada por diferentes fatores, que deixam ela mais vulnerável, piorando alguns problemas”, conta Ito.
A dermatologista Mayara Bravo, da Clínica Karla Assed Curitiba, completa: "A transpiração corporal diminui e essa oleosidade, que hidrata a pele e funciona como uma barreira de proteção, é reduzida. Por isso, ela fica mais suscetível a doenças, como o eczema e a dermatite".
Depois do banho, é necessário caprichar na hidratação, usando produtos voltados para cada tipo de pele (mais seca ou mais oleosa). Normalmente, a pele das extremidades, como braços e pernas, é mais seca, e no rosto, mais oleosa.
Assed ndica produtos que contenham pasta de amônia, manteiga de karité, ureia, pantenol ou nicotinamida entre suas substâncias. Ela diz que a hidratação fica ainda mais intensa quando são usados óleos junto aos hidratantes, pois o produto permanece por mais tempo. "Eles [os produtos] podem ser usados separadamente: no banho, com o corpo molhado, passar o óleo; e depois, por cima, o hidratante”, diz. O indicado é reforçar o uso em extremidades como pés, cotovelos e nariz.
As peles secas acabam sendo as mais prejudicadas e, por isso, os óleos podem ser usados inclusive no rosto – algo não indicado para as peles mais oleosas–, afirma a dermatologista. “Em peles mais acneicas, o hidratante tem que ser óleo-free. Mas no corpo, geralmente, não tem tanto problema usar esses óleos."
Também merecem atenção os lábios, uma vez que os maus hábitos de puxar as “pelinhas” e de passar a língua neles podem ressecá-los mais e até abrir feridas. “A saliva tem acidez e algumas enzimas que prejudicam a mucosa. O ideal é usar protetor labial e produtos específicos para lábios”, diz Ito. “E, além disso, aumentar a ingestão de líquidos como águas, chás e sucos – no mínimo dois litros por dia."
A regra da pele oleosa vale para os cabelos, uma vez que dermatites seborreicas podem se intensificar no inverno e, a depender do caso, leva até à perda de cabelo ou diminuição do ritmo de crescimento dos fios, uma vez que cria placas. O ideal nessa época, segundo Assed, é usar xampus que ressecam o couro cabeludo, e um hidratante para a ponta dos fios.
A biomédica Daniela Baglioni, 25, também tem, desde criança, a dermatite atópica, problema genético que é mais comum na fase das crianças, melhorando na adolescência, mas que não raramente acompanha pessoas em outras idades. Para ela, a inflamação também aparece no verão por conta do suor, mas piora no inverno pelo fato da pele ficar mais seca e em contato com certos tipos de tecidos.
“Mantas de poliéster me dão muita coceira. Tem blusões que não consigo nem usar”, conta. “Quando fui ao médico, me disseram que quem tem dermatite teria uma barreira a menos na pele. Ela fica realmente mais fina e, no frio, fica muito seca. No rosto, na região do pescoço e nas dobras dos braços e pernas, fica muito ressecada e começa a coçar, além de descascar”.
Para tratar dos problemas de pele e amenizar a “vermelhidão”, Baglioni usa hidratantes hipoalergênicos e corticoides com frequência. “Não tem muito o que fazer. Tenho que passar pomada sempre”, diz.
A estudante Vitória Letra também faz uso da substância. "Se a dermatite ataca –o que acontece pelo menos uma vez ao ano– vou ao dermatologista e ela me deixa usar um remédio com corticoide por pouco tempo. Quando melhora, vou mantendo com um hidratante e cremes dermatológicos."
Assed diz que o uso de corticoide não é sempre indicado porque pode trazer efeitos colaterais, além de facilitar a formação de espinhas e o aparecimento de vasos roxos. O médico Guilherme Ito acrescenta que “a psoríase e a dermatite são doenças em que evitamos ao máximo usar corticoide via oral ou injetável, porque podem ter efeito rebote". "Pode ter uma melhora, no início, mas quando acabar o uso, o problema volta dez vezes pior. Indicamos mais o uso de pomadas com corticoide, que não causam esse efeito."