Estilo

Feitos de PET e até erva de chimarrão, sapatos veganos são tendência entre as novas gerações

Calçados não utilizam produtos de origem animal como couro e lã

Calçado da Urban Flowers - Divulgação

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São Paulo

Muito além dos alimentos, o veganismo tem se estendido para outros itens como roupas e maquiagens. Surfa nessa moda da produção livre de qualquer envolvimento animal os calçados veganos, produto cada vez mais cobiçado pelos consumidores das novas gerações.

A Insecta Shoes, marca de sapatos e acessórios veganos e ecológicos, foi uma das pioneiras do segmento. Ela nasceu com Bárbara Mattivy, que em 2011 abriu um brechó online, que acabou se transformando na loja de calçados.

Na época ela conheceu Pamella Magpali, e as duas se tornaram sócias. "Tínhamos algumas roupas com estampas super bonitas no nosso brechó, mas que estavam separadas para conserto. A Pam então sugeriu que a gente as transformasse em sapatos", diz Bárbara.

Pâmela saiu do negócio após um ano e meio, mas antes disso, as duas descobriram que poderiam fazer de cinco a seis sapatos com apenas uma peça de roupa —o que acaba dando certa exclusividade ao sapato.

Hoje, além das roupas vintage, a Insecta usa garrafas PET e algodão reciclados, borracha reaproveitada e resíduos de produção para transformar em sapatos novos. Com os mesmos materiais, vendem ainda mochilas e, em breve, bolsas e canudos reutilizáveis.

“Não faz sentido usar couro, nem na etiqueta”, diz Bárbara, que é vegetariana. “Para nós, não precisamos explorar animais por uma questão estética, nem por outros motivos”.

Ela explica que produzir um sapato vegano vai muito além de não utilizar couro. Incluem-se na lista lã, seda e pérolas. “A gente poderia também usar produtos que vem do petróleo, mas eles prejudicam o meio ambiente”, complementa Bábara.

Foram essas características que chamaram a atenção da estudante Laura Pacheco, apesar não ser adepta do veganismo. “Eu entrei em contato com a marca porque muitas pessoas que eu sigo são veganas ou procuram produtos ‘cruelty-free’. Mas, apesar de eu admirar essas duas posições, não sou adepta a nenhuma delas”, diz.

Para completar o ciclo, a Insecta também recebe uma média mensal de três calçados usados de volta dos clientes, que vão para a reciclagem. A parte de tecido vira palmilha e o solado vira borracha para outros solados. Nessa dinâmica, a marca cresce 30% ao ano.

Além do e-commerce, a marca tem loja física em São Paulo e Porto Alegre, e pontos de venda fora do Brasil, dentro de lojas do nicho de moda sustentável ou de sapatos veganos.

Compete pelo espaço do e-commerce a marca vegana Urban Flowers, que foi fundada por Cecília Weiler em 2014, quando ela tinha apenas 16 anos. Na época, ela revendia marcas mas logo entrou na onda da produção própria.

Os sapatos veganos da Urban Flowersa são feitos de materiais sintéticos, termoplásticos reciclados e de tecidos que foram descartados pela grande indústria. Até restos de erva de chimarrão são utilizados.

“Muitos fatores envolvem o veganismo. Além de não usar nada de origem animal, há muitos conceitos que são discutidos, como fazer testes em animais ou empresas que compram matéria prima de outras empresas que fazem teste em animais”, diz Patrick Lenz, namorado e sócio de Cecília desde 2017.

Ele explica que a produção, feita no Vale do Sino do Rio Grande do Sul, é pensada fora da caixinha das tendências passageiras, demonstrando uma preocupação com o consumo consciente. “Tentamos fazer algo equilibrado, que a pessoa possa usar hoje e não tenha problema em usar daqui dois anos”, diz.

A produção é voltada exclusivamente para a venda via internet e chega a todo o Brasil, especialmente a São Paulo, onde está maior quantidade de consumidores. “O movimento está vindo para o Brasil com força. Na Europa, ele já é enorme”, lembra Lenz.

Sobre a questão do couro, ele reforça o que diz Bárbara: “O couro é popular, e existe uma crença das pessoas de que nenhum outro material consegue atingir o nível dele. Mas as novas tecnologias conseguiram melhorar bastante isso. Grandes marcas, mesmo não sendo veganas, já estão substituindo o couro por materiais mais baratos e menos poluentes”.

A professora Lucília Santos está entre os que se aproximaram do movimento. Ela explica que, desde 2014, quando comprou seu primeiro sapato vegano, não tem mais nenhum calçado com matéria-prima de origem animal.

“Eu não pensava em questões como a cola ser de origem animal, por exemplo. O surgimento de marcas de sapatos veganos me fez olhar com mais atenção para essa parte dos calçados”, conta.

Ela explica que hoje também tem sapatos de marcas que não são veganas, como a Melissa, mas que eles vêm acompanhados de um selo, com um desenho de vaca, que identifica que o calçado não foi feito com partes de animais.

“Hoje em dia existem muitas opções de sapatos sem nada de origem animal que competem em igualdade com sapatos não veganos. Desde a questão da qualidade até a questão estética”, diz. “Penso que, para as pessoas que estão iniciando ou ‘flertando’ com o veganismo, a existência desses sapatos ajuda a dar esse passo.”