Musical 'A Cor Púrpura' chega a SP para curta temporada com história de racismo e machismo
'A história é universal: fala do ser humano, em especial das mulheres', diz diretor
O musical “A Cor Púrpura”, em cartaz em São Paulo em curta temporada, logo de início nos transporta ao sul dos Estados Unidos nos primórdios do século passado. A cantoria potente faz parecer que estamos no culto festivo de alguma igreja do estado americano da Georgia, onde a história se passa.
Tudo embalado por um gospel bem animado e cheio de louvor. A plateia participa batendo palmas, erguendo os braços e balançando as mãos.Mas a história de Celie não é nada animada. Baseada no livro homônimo de Alice Walker —levou o prêmio Pulitzer de ficção em 1983—, a peça retrata o tratamento abusivo dado às mulheres negras no início do século passado. Muita coisa, infelizmente, parece igual atualmente.
Com elenco negro, a trama começa quando Celie, de apenas 14 anos, dá à luz o segundo filho. A criança, fruto de abuso sexual cometido pelo pai da adolescente, é retirada de seus braços —assim como aconteceu com a primeira filha dela—, e levada para adoção.
O pai obriga Celie a se casar com Mister, um homem bruto que ficou viúvo e precisa de uma esposa para cuidar da casa e de seus vários filhos. Celie, porém, não é a primeira escolha de Mister porque, segundo ele, ela é muito feia. O preço que a jovem paga por sua “feiúra” é apanhar todos os dias. Sexo? Ela nem sabe que existe prazer naquilo. “Ele só sobe em cima de mim e faz o que tem que fazer”, diz a personagem em dado momento.
O apoio que ela precisa vem da irmã caçula Nettie, a primeira opção de Mister. Mas o pai das irmãs tenta abusar da mais nova também. Ela não aceita e busca ajuda na casa nova de Celie; seu marido acolhe a cunhada. Mas quando Nettie se recusa a ter relações sexuais com Mister, é violentamente expulsa e afastada da irmã por anos.
A cantoria segue alegre e parece amenizar a situação sofrida por Celie. Mas, na verdade, é um canto doído que potencializa toda a crueldade cometida pelos mais fortes contra os mais fracos. A tensão da história é amenizada pelo casal Harpo, filho de Mister, e Sofia, mulher empoderada que não aceita apanhar do marido e cria situações hilárias por seu feminismo.
A sorte de Celie começa a mudar com a chegada de Shug Avery, amante de seu marido. Quando pensamos que as duas vão se estapiar, elas se tornam grandes amigas. A chegada dessa nova personagem vai mudar a vida da mulher pobre, negra e “feia”, que sofreu abusos de vários tipos cometidos por muitas pessoas ao longo de décadas .
“A história é universal: fala do ser humano, em especial das mulheres. É imediata a identificação com o momento do país, onde há tantas histórias de opressão às mulheres. ‘A Cor Púrpura’ é um grande grito de liberdade”, afirma o diretor e idealizador, Tadeu Aguiar.
A história ganhou os cinemas em 1985, com direção de Steven Spielberg e grande elenco, com atores como Whoopi Goldberg (Celie), Danny Glover (Mister) e Oprah Winfrey (Sofia), essa última revelada neste longa.
Um dos melhores musicais do ano, o emocionante espetáculo de Marsha Norman tem músicas de Brenda Russell, Allee Willis e Stephen Bray. A versão brasileira ficou por conta do jornalista Artur Xexéo.