Especial da Globo para Dia da Mulher dá voz a histórias reais de mulheres anônimas
Programa tem formato documental e feito majoritariamente por equipe feminina
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"Mulheres, não se calem." A frase é da ambulante Gleice Araújo Silva, 29, mais conhecida como Ruana, e resume uma das principais mensagens do "Falas Femininas", programa especial que a Globo exibe nesta segunda-feira (8), em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Ruana e outras quatro mulheres anônimas, de diferentes cidades do Brasil, são as protagonistas do especial, que faz parte do Projeto Identidade. A ideia, segundo a emissora carioca, é levar para a TV discussões de temas importantes vinculados a datas do calendário, a exemplo do "Falas Negras", exibido em novembro de 2020, com 22 atores interpretando depoimentos reais de figuras históricas que lutaram contra o racismo.
Desta vez, a proposta é contar histórias de mulheres reais. E escutar o que elas têm a dizer. "Apesar de serem as mais numerosas proporcionalmente na nossa população, são as menos vistas, as menos ouvidas, as menos representadas. ‘Falas Femininas’ quer ampliar essas vozes, ao mesmo tempo em que serve como um espelho, para que elas enxerguem e reconheçam seu próprio valor", diz Patricia Carvalho, que dirige o especial ao lado de Antonia Prado.
A busca pelas cinco personagens começou em novembro de 2020. Em formato documental, a equipe acompanhou o cotidiano das cinco mulheres em suas cidades de origem. Posteriormente, elas se encontraram nos Estúdios Globo, em São Paulo, em um bate-papo mediado por Fabiana Karla.
"É um projeto de muita emoção, força, verdade e superação. A sociedade insiste em dizer [para as mulheres] que elas não são importantes. E nós dizemos: 'Não, vem cá, me dá a sua mão, a gente quer contar a sua história e mostrar a sua importância, sim", afirma a atriz e humorista, que fez parte da equipe de criação do "Falas Femininas".
Fabiana Karla afirma que todo o time por trás das câmeras do especial é majoritariamente feminino, o que inclui roteiristas, câmeras, produtoras, além de uma trilha sonora formada só por mulheres, com destaque para Elza Soares.
Para a rapper e estudante universitária Carol DallFarra, 26, a mais nova entre as cinco retratadas, o especial reforça como a sociedade precisa ter um olhar mais cuidadoso com as mulheres, e não mais naturalizar que elas fiquem sobrecarregadas –o que se acentuou na pandemia do novo coronavírus. "E isso é urgente. Não temos mais tempo para não valorizar essas mulheres e essas vidas com um olhar de mais atenção. Temos que entender que é a mulher que move o mundo."
“A mulher brasileira é o pilar social, financeiro e afetivo de diversos lares. Batalhadoras e determinadas, elas seguem uma rotina longa e exaustiva, sem perder o brilho no olhar e a esperança de um futuro melhor", diz a diretora Antonia Prado.
"É justamente a essa mulher que o especial presta sua homenagem; à mulher ‘comum’, várias vezes invisível para sociedade, mas cheia de vida e histórias para contar. Queremos que elas se reconheçam em toda sua força, potência e beleza", acrescenta.
O especial também terá exibição no GNT, na quarta (10), às 23h30, logo após o Saia Justa. Ao final do encontro em São Paulo, as protagonistas participaram de um ensaio fotográfico –as fotos podem ser vistas na galeria de imagens.
CONHEÇA AS CINCO PROTAGONISTAS:
> Carol DallFarra, 26
Nascida em Bonsucesso, criada em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, trabalhou para pagar o próprio cursinho pré-vestibular, e hoje, estuda na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro], onde está concluindo o curso de geografia. Sua trajetória estimulou a própria mãe, Eliane, a voltar para a escola. As duas são muito amigas. Dall, como é chamada, escreve poemas e é slammer.
"Tudo bem nós termos que criar a nossa própria oportunidade, até falo isso no programa, mas eu gostaria que nem toda a mulher tivesse que fazer isso, tivesse que ser forte o tempo inteiro, tivesse que se reerguer o tempo inteiro. Seria bacana que a gente tivesse espaços que fossem acolhedores para nós, e mais oportunidades."
> Cristiane Sueli de Oliveira, 44
A auxiliar de enfermagem, que atua na linha de frente contra a Covid-19, nasceu e mora em São Paulo. Está separada há dois anos, mora com os quatro filhos e se divide entre a rotina no hospital e o cuidado com eles. "Espero que, por meio desse programa, as mulheres comecem a enxergar e se espelhar na gente que elas podem, sim, falar, sem medo. A gente tem que se impor, mostrar realmente o que somos."
> Gleice Araújo Silva, a Ruana, 29
Mora em Salvador com o marido e as três filhas e tem uma barraca de drinks na praia. Fora da alta temporada, complementa sua renda cozinhando em eventos ou por encomenda. "A minha maior preocupação com as minhas três filhas é a violência. A gente vê aí quantos e quantos feminicídios acontecem. Eu tenho muito medo. Tento passar para elas a importância do papel da mulher na sociedade, não deixar que ninguém as calem e não deixar que ninguém abuse delas."
> Maria Sebastiana Torres da Silva, 59
A agricultora da cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí, não frequentou a escola porque tinha que trabalhar na roça, mas aprendeu a tocar sozinha uma sanfona que encontrou abandonada. E conciliou o trabalho na lavoura com apresentações em festas para conseguir dinheiro para criar os filhos.
Teve nove, sete estão vivos, é avó de 14 netos e continua a trabalhar como agricultora. Em 2019, entrou em uma escola para alfabetização de adultos, onde aprendeu a escrever seu nome. "A mulher é para ganhar três salários em cima do homem, porque a mulher é guerreira. O homem chega da roça e vai deitar, nós vamos por pé da pia."
> Sebastiana do Santos Oliveira, a Tina, 47
Nasceu na Bahia, onde desde cedo começou a trabalhar em casa de família como empregada. Quando um dos irmãos se mudou para São Paulo, pegou o mesmo rumo. Na capital paulista, faz faxina em residências, empresas, cozinha para eventos. Atualmente, mora com os dois filhos. "Ser mulher é esperança, é amor. Ser mulher é fé, é não desistir, é muita coisa forte."