Como sentir tesão quando o mundo está acabando?
O apocalipse orgíaco e hedonista é uma promessa falsa da ficção científica?
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Parte do país queimou nas mãos de agroterroristas, outra parte está viciada em bets, meu estado de nascimento segue sofrendo consequências de uma enchente massiva e, para completar, minha gata tricolor teve uma crise de artrose e não consegue andar.
Tinha uma época que eu era cínica demais para ser apocalíptica, mas, por esses dias, sinto mesmo que o fim do mundo chega e é estranho, por algum motivo achei que ele ia ter mais sexo e menos burnout.
Na minha cabeça, parece fazer sentido que as pessoas, ao verem que não resta mais muito tempo de vida ou que a vida está demasiadamente insuportável, joguem tudo para o ar e passem os dias buscando prazeres efêmeros como sexo, drogas e música eletrônica.
É bem verdade que tem gente que se dedica tanto a isso que compra passagem de ida para Berlim e nunca mais volta. Alguns, acabam fritando na noite paulistana mesmo, que é o mais próximo do pós-apocalipse em neon que temos por aqui. Mas, para maioria desses guerreiros, a conta do aluguel chega e obriga o baladeiro a trabalhar de ressaca –ou largar a farra, mesmo que isso exija um período em alguma clínica de reabilitação.
Outra possibilidade que eu vislumbrava é que se enfiassem todos em sítios e fizessem surubas rituais intermináveis, estimuladas por psicodélicos ao som de tambores e sopros surrados que sobraram dos carnavais.
Tenho certeza de que esse cenário parece o de um retiro tântrico desses que rolam em Boipeba, mas, na minha imaginação distópica, as pessoas simplesmente vão para suas aldeias copulantes e de lá nunca mais saem. Não precisam voltar para casa e ficar vendo anúncios da próxima reunião orgástica parcelada em 12 vezes no cartão nas telas dos seus celulares.
Tem outra! Quando li "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, eu era muito jovenzinha e achei que aquele mundo era uma utopia. Nele, o sexo é incentivado como uma forma de entretenimento social e é livre de tabus. O lema é "todos pertencem a todos".
Olhando assim parece mesmo uma eterna folia! Só que, na prática, o sexo era desvinculado de qualquer emoção, vínculo ou intimidade. Para completar, a sociedade era dividida em um rígido sistema de classes e, para evitar altercações e revoluções, o governo fornecia uma droga chamada SOMA, que reduzia sentimentos negativos e deixava todo mundo em um estado de satisfação superficial.
Pensando bem, parece um mundo em que você sai do seu subemprego que você só aguenta à base de sertralina e vai para um date do Tinder.
Ah, sim, também cogitava a possibilidade que nós todos deixássemos de ser bundões e virássemos guerrilheiros "bad ass" revolucionários para evitar que estados ou corporações malvadas destruíssem recursos naturais. Um grande esquadrão lésbico para combater o patriarcado agrícola, tipo "Mad Max: Estrada da Fúria", mas com mais língua e dedo e menos areia.
Nessa realidade alternativa, cada um teria seu respectivo par, ou trio, ou grupo de combatentes e viveria um apaixonado amor bélico. Mas acho que essa chance a gente já perdeu, né? Ou será que ainda dá tempo? Me digam que dá, porque é impossível mudar o mundo sem libido.