Chifre é sinal de que o cara tem que mandar melhor (e outras coisas que Otto aprendeu com Reginaldo Rossi)
Músico pernambucano garante que elegância, molejo e inteligência são fundamentais
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Se você não conhece Reginaldo Rossi é porque não tem coração ou não esteve no Brasil nas últimas décadas. O pernambucano, falecido em 2013, é famoso pelas suas composições que não têm nenhum medo na hora de demonstrar vulnerabilidade –e talvez por isso tenham recebido o rótulo de brega.
É dele a memorável "Garçom", que retrata a situação que todo boêmio conhece bem (afogar as mágoas e chorar as pitangas no bar). Além disso, ele é lembrado pela sua capacidade de sedução. Seu olhar penetrante, o timbre da voz e o fato de ele sempre ter algo a dizer me faziam parar o que eu estava fazendo para ouvi-lo quando aparecia na TV.
Um dos brasileiros mais seduzidos por Reginaldo Rossi foi o seu conterrâneo Otto, que montou um show para cantar seu mestre. "Ele é um ídolo pra mim desde que me entendo por gente, ele é Roling Stones, Beatles, ele tem muita elegância", diz o galego. No Festival Arte na Usina, onde se apresentou no último sábado (9) no município pernambucano de Água Preta, ele compartilhou comigo o que aprendeu com o ídolo.
ELEGÂNCIA E EDUCAÇÃO
Otto estava muito estiloso com um macacão vermelho com uma farta gola e detalhes dourados. O look foi escolhido para honrar a tradição de estilo de Rossi, que por sua vez honrava várias tradições, inclusive a de Elvis Presley. Os visuais de Rossi, Elvis e de Otto podem soar pouco discretos e exagerados para você que só usa camiseta de banda e bermuda de sarja, mas eu tenho fé que a moda masculina vai sair do tédio e voltar a ter brilhos e pedrarias. Além de bem vestido, o rei do brega tinha porte, altivez e bons modos. "Ele sempre foi um gentleman, ele era muito elegante e rock n’ roll, tinha atitude demais", diz Otto.
MOLEJO
Muitas vezes a beleza e o carisma de uma pessoa se revelam quando ela está em movimento. É o tal do capital erótico: o jeito de andar, falar e sorrir podem conquistar muito mais do que um rosto perfeito esculpido no melhor dermatologista do país. Mas não é só isso, ser bom de baile também é um recurso. "Quem sabe dançar e suingar como o Reginaldo tem mais chance," disse Otto.
INTELIGÊNCIA
"Sem inteligência é muito difícil, se você quer conquistar alguém tem que ter um bom papo, ele era um cara espirituoso", postulou. Confesso que essa é curiosa, porque já ouvi várias amigas dizerem que, às vezes, é melhor um homem meio burro que te escuta do que um inteligente prepotente. Fato é que, volta e meia, quando eu vejo elas encontram um barbudo falando de filme cult e acabam corneando o burro, esse animal que, em tese, não tem chifre. E, por falar em chifre...
CABEÇA ABERTA
Uma coisa importante da música de Rossi é que a dor de corno estava lá, exposta. Nenhuma vergonha de admitir que levou galha, que foi trocado. "Quando a mulher corneia ele não tem essa de raiva da mulher, ele vai atrás da mulher porque o chifre é um sinal de que estava ruim e ele tem que melhorar, ele tinha paixão pela mulher", comenta Otto.
Sobre esse assunto, a autora dessa coluna, uma feminista que gosta da obra do ícone brega, mas ainda assim vê muito machismo nela, gostaria de destacar aqui um momento em que o músico acertou em cheio na reflexão sobre gênero:
Mas homem adora mentir e enganar a mulher
Homem adora trair, mas a quer bem fiel
Então tem que levar o troco, ele tem que pagar
Sofrendo, chorando e bebendo na mesa de um bar
("O Dia do Corno")