X de Sexo Por Bruna Maia

'Me descobri lésbica aos 40 anos e hoje não acredito que já gostei de homem'

Mulheres que encontraram amor e prazer sexual com outras mulheres contam suas experiências

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Giovana (nome falso) tem 42 anos e, até dois anos atrás, só tinha se relacionado afetivamente com homens. Aos 29, ela beijou uma mulher e achou o corpo e o toque femininos muito mais interessantes do que imaginava, mas nunca passou disso. Porém, aos 40 anos, ela se apaixonou loucamente por uma mulher durante uma viagem e virou a chavinha.

"O beijo é mais macio... o sexo oral é importante e bem feito, dá prazer de verdade. Sexo entre mulheres é para as duas gozarem. É mais lento, não imagino uma rapidinha com mulher", diz.

Ela conta que experimentou orgasmos muito mais intensos e viu mulheres tendo "squirt" –que é quando um líquido incolor esguicha da vulva, mais especificamente das Glândulas de Skene, localizadas perto da uretra. O fenômeno, que não é lenda de filme pornô, também é conhecido como ejaculação feminina. Ele não é obrigatório para ter um orgasmo, mas tende a acontecer quando a pessoa está bem excitada.

Giovana se apaixonou diversas vezes por homens, namorou alguns, ficou com muitos e transou com vários, mas poucas vezes o sexo foi satisfatório. Hoje em dia, ela sente que viveu uma "heterossexualidade compulsória" e diz não sentir mais desejo por homens. Quando se descobriu lésbica e começou a ter experiência com mulheres, ela não se sentia à vontade para receber penetração com os dedos, justamente porque remetia ao sexo heterossexual. Hoje em dia, ela ainda está explorando as possibilidades, mas não tem vontade de usar dildos e vibradores cujo formato lembre uma rola.

'Rhythm', obra de Tamara Lempicka - Reprodução

Marcela, por sua vez, depois de três relacionamentos com homens, se abriu afetivamente para namorar mulheres aos 29 anos. Ela conta que o sexo heterossexual com seus parceiros era genitalizado demais, rolava pouca lambeção e dedação e beijação e muita "metelança". Ela diz que não gosta da meteção britadeira que muitos moços pensam ser o centro da transa.

Por causa dessa obsessão masculina com a penetração, Marcela muitas vezes se via não querendo trepar e pensava que isso se devia ao fato de que "homens sentem mais vontade de transar". Com mulheres, ela percebeu que isso é uma lenda. Hoje em dia, sente mais tesão e goza muito mais com suas parceiras. Nas ocasiões em que fica com homens, ela busca caras bissexuais ou héteros com mais noção, que curtam sexo menos centrado na piroca deles. "Os caras que eu transo não são ligados naquela metelança louca de quem tá procurando petróleo no útero da mulher".

Pois é rapazes, não custa lembrar que, se sua parceira nunca quer transar, talvez a culpa não seja dela, e sim sua, que deda pouco e chupa errado.

Do ponto de vista afetivo, Marcela diz que sente muito mais conexão com mulheres. As relações são mais profundas emocionalmente. "Pra mim, a melhor preliminar que existe é uma conversa, uma DR, poder falar o que você sente e ouvir o que a pessoa está sentindo". Essa intimidade faz com que ela tenha mais desejo de transar e permite que ela só faça sexo quando tem vontade. "Em relacionamento com homens, várias vezes eu transei sem estar a fim".

As héteras que não confundam as coisas! As lésbicas e bissexuais que se descobriram mais tarde não são pessoas que "cansaram de homens" e "desistiram da heterossexualidade". Não é assim que funciona. O desejo delas pelo corpo, pelo toque e pelo amor de outras mulheres é genuíno e não tem a ver com substituição, compensação e conformismo, ok?

Em inglês, existe a expressão "late-blooming lesbian" para nomear mulheres que se percebem e se assumem lésbicas após os 30 anos —seria algo como lésbica tardia em português. Se tem nome, tem história. O fenômeno de viver uma vida heteronormativa, que frequentemente inclui casamento e filhos, para só então se permitir explorar outras possibilidades é relativamente comum. É ótimo poder expressar a sexualidade desde cedo, mas, para quem tem vontade, nunca é tarde.