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O capítulo de terça-feira (6) de "Renascer" (Globo) foi o primeiro a se passar inteiramente na segunda fase da novela. Agora o coronel José Inocêncio está na casa dos 50 anos, e é vivido por Marcos Palmeira. Fez mais ou menos as pazes com seu filho caçula, João Pedro (Juan Paiva), a quem culpa pela morte de Maria Santa (Duda Santos). Mas a trégua entre os dois está prestes a acabar.
O pivô da discórdia é Mariana (Theresa Fonseca), por quem João Pedro se encanta na casa de Jacutinga (Juliana Paes). O rapaz nem precisou conversar com a moça para levá-la a morar na sede da fazenda de seu pai.
Zé Inocêncio deveria se enfurecer com tal atitude impetuosa, mas também acha uma certa graça em Mariana. Ela desperta no "coronézinho" algo que estava adormecido há muito tempo, e é por isso mesmo que a novela se chama "Renascer".
Só que Mariana não é flor que se cheire. Logo em sua primeira noite na casa, ela vasculha gavetas em busca de documentos, e também descobre o diabinho que Zé Inocêncio mantém preso numa garrafa. É a antítese de Maria Santa, que exalava doçura e ingenuidade. Mariana tem um plano.
Em ritmo acelerado, o capítulo já revelou qual é esse plano. Mariana conta a todos que é neta do coronel Belarmino (Antonio Calloni), assassinado na primeira fase sabe-se lá por quem. Sente que sua família foi injustiçada, e quer recuperar as terras que foram de seu avô.
Mesmo depois dessa confissão, Zé Inocêncio permite que a neta de seu inimigo continue sob o seu teto. Ele ainda não se deu conta, mas está se apaixonando por ela. O problema é que Mariana já anda trocando beijos com João Pedro.
Mas, afinal, qual é a dela? Qual dos dois ela prefere, o pai ou o filho? Ou é tudo fingimento, já que seu maior objetivo é vingar sua família?
Ou seja, trata-se de uma personagem dúbia. Algo com que o público brasileiro não está acostumado. Gostamos que as protagonistas de novela sejam mulheres "guerreiras", batalhadoras, de caráter à prova de bala. Mariana não é nada disso.
O curioso é que estamos muito mais dispostos a aceitar os pecadilhos dos personagens masculinos. O próprio Zé Inocêncio é um exemplo. Passou mais de 10 anos sem praticamente dirigir a palavra a João Pedro, que precisava muito de um pai. E ainda guarda um cramulhão no armário, bem ao lado do altar à Virgem Maria. Nada disso afeta a popularidade do protagonista de "Renascer".
Em 1993, quando a Globo exibiu a primeira versão da novela de Benedito Ruy Barbosa, Adriana Esteves quase desistiu da carreira de atriz. A rejeição a Mariana, que ela interpretava, se transformou em rejeição à própria Adriana –e isso num tempo em que ainda não existiam as redes sociais.
Adriana Esteves entrou em profunda depressão. Recusou um papel na novela "Quatro por Quatro" e pediu demissão da Globo. Permaneceu três anos fora de circulação. Reapareceu em 1996, na novela "Razão de Viver", do SBT. No ano seguinte, estava de volta à Globo.
Para evitar uma crise semelhante com Theresa Fonseca, a emissora cercou-se de cuidados. Além disso, o público de hoje sabe diferenciar melhor o intérprete do personagem.
Ainda assim, "Renascer" corre o risco de perder audiência por causa de Mariana. Isso faz com que justamente o triângulo amoroso entre pai, filho e recém-chegada, a trama central da novela, também seja seu ponto mais vulnerável.
Claro que ainda é cedo para soltar um diagnóstico. O capítulo desta quarta introduzirá novos personagens –como a transexual Buba (Gabriela Medeiros), que também tem o potencial de causar polêmica.
O excelente texto de Bruno Luperi e a produção esmerada fazem de "Renascer" um produto luxuoso da nossa TV. Mas nada disso adiantará muito se os números do Ibope não corresponderem às expectativas.