Tony Goes

'DNA do Crime' tem grandes cenas de ação, mas o melhor são as relações entre os personagens

Série policial brasileira chega na íntegra nesta terça (14) à Netflix

Cena da série 'DNA do Crime' com Maeve Jinkins, Marcio Borges, Rômulo Braga e grande elenco - Guilherme Leporace e Alisson Louback/Netflix

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São Paulo

Agora é oficial: o Brasil sabe fazer séries de ação. Três meses depois de "Cangaço Novo" estrear no Prime Video, outra grande produção do gênero é disponibilizada na Netflix: "DNA do Crime", criada e dirigida por Heitor Dhalia.

As comparações entre elas são inevitáveis. As duas têm sequências espetaculares de perseguição, muitas explosões, batalhas campais entre bandidos e policiais e uma boa dose de violência. Um mesmo nome até aparece nos créditos de ambas: Aly Muritiba, que dirigiu episódios de "Cangaço" e é um dos roteiristas de "DNA".

Mas as diferenças também são evidentes. "Cangaço Novo" conta como um cidadão pacato se torna o líder de uma facção criminosa no interior do Nordeste. Uma espécie de "Breaking Bad" brasileiro. Também tem um dos melhores personagens do ano, a feroz Dinorá, vivida por Alice Carvalho.

Já "DNA do Crime" assume o ponto de vista dos policiais federais. São eles os protagonistas da trama, a luta contra uma grande quadrilha que toca o terror na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Também é a PF que passa a usar exames de DNA em bitucas de cigarro e restos de comida para identificar os assaltantes e prendê-los mais rapidamente. Mal comparando, a série é uma variante nacional de "CSI".

Os personagens principais são Benício (Rômulo Braga) e Suellen (Maeve Jinkings), dois federais que, a princípio, formam uma dupla pouco entrosada. A principal motivação dele para prender a gangue é um clichê do gênero: ele quer vingar a morte de um colega, morto num ataque a uma penitenciária. Ela também tem uma razão pessoal para se dedicar ao caso, mais sutil e bem mais polêmica: prefere delegar ao marido os cuidados com o bebê recém-nascido, e se dedicar ao trabalho.

Em entrevista para mim no começo deste ano, Maeve contou que não é que Suellen não queira ser mãe. "Mas ela preferia ser pai", sublinha a atriz, lembrando que os homens se envolvem bem menos que as mulheres na criação dos filhos, especialmente quando eles são pequenos.

É até possível dizer que Benício e Suellen são o mesmo personagem, em momentos e circunstâncias diferentes. Assim como ela, ele sempre colocou sua dedicação à PF acima de qualquer coisa. O resultado é que agora vive solitário, com pouquíssimo contato com a ex-mulher e com o filho adolescente, que se ressente da ausência do pai.

Suellen está indo pelo mesmo caminho. É difícil entender como a mãe de um recém-nascido se coloca intencionalmente em tantas situações de perigo, inclusive tiroteios. Esta obsessão gera uma tensão permanente com seu marido, que também é policial, mas hoje trabalha na corregedoria, num escritório.

O principal antagonista da dupla é o bandido Sem Alma, mais uma interpretação impressionante de Thomás Aquino, que tem uma história pregressa complicada. O cara até tentou se emendar. Tornou-se evangélico, casou-se e teve um filho, mas também preferiu voltar para o crime. Ou seja, sua trajetória ecoa a dos dois policiais, mas no sentido contrário.

São essas personalidades complexas, cheias de contradições, que fazem com que "DNA do Crime" seja mais do que um bangue-bangue muito bem realizado. A série também aborda a corrupção no meio policial, além da vaidade de dirigentes e até de cientistas.

A produção brasileira da Netflix mais cara de todos os tempos (até agora) contou com coordenadores estrangeiros de dublês, cenas noturnas envolvendo dezenas de veículos e desafios logísticos nunca enfrentados por aqui.

Mas, no final, o que fisga mesmo o espectador são os personagens bem construídos e a maneira como eles se relacionam entre si. Como em qualquer gênero, aliás.

Os oito episódios da primeira temporada de "DNA do Crime" chegam nesta terça (14) à Netlix.