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"Não é a primeira vez que o nome Barbie está a serviço do demônio! Esse era Klaus Barbie, oficial da SS nazista, conhecido como o carniceiro de Lyon (França). Protejam seus filhos de qualquer linha ideológica de Barbie! Da Antiga (sic) ou da atual!".
Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro, conhecido por seu mau domínio da linguagem escrita, conseguiu escrever um tuíte com um único erro, talvez de digitação. No lugar de "Da Antiga", deveria estar "Da antiga", com letra minúscula. Mas tudo bem, um errinho só já é um avanço e tanto.
Weintraub sonhava em se candidatar ao governo do estado de São Paulo com o apoio de Bolsonaro. Quando este não veio, o ex-ministro rompeu com seu antigo chefe e concorreu a deputado federal. Não foi eleito, assim como seu irmão Arthur, que também pleiteou um cargo na Câmara.
Amargando um semi-ostracismo, Abraham Weintraub precisa aproveitar todas as oportunidades para reaparecer na mídia. E resolveu pegar carona no lançamento do filme mais aguardado de 2023, assim como outros nomes da extrema-direita.
Num primeiro momento, deu certo, porque aqui estamos nós falando de um dos ministros mais incompetentes e inábeis da história da República. Mas, a longo prazo, tem tudo para dar muito errado: ao investir contra "Barbie", um sucesso global de bilheteria, os reacionários tiraram as máscaras e mostraram que são mesmo contrários à plena igualdade entre homens e mulheres.
"Barbie" não é um filme para crianças. A classificação indicativa no Brasil é 12 anos e, nos EUA, PG-13 – tanto lá como cá, crianças de menor idade podem entrar se acompanhadas por um pai ou responsável.
Os muitos trailers de "Barbie" já traziam piadas que passam batido pelos petizes. A campanha de marketing tentou deixar claro que o filme era voltado, antes de mais nada, para jovens que brincaram com Barbie na infância, mexendo com suas memórias afetivas. Mas, afinal de contas, a protagonista é a boneca mais conhecida do mundo, e bonecas fazem parte do universo infantil. Uma certa confusão por parte do público era inevitável.
Para líderes evangélicos, "Barbie" "deturpa o conceito da família tradicional", "desvaloriza a figura masculina" e sugere que estar grávida e casada não é uma boa opção para as mulheres.
É bom lembrar que os conservadores dizem que a "família tradicional" é aquela formada por um homem e uma mulher, mas o que eles de fato defendem é a família patriarcal, em que o marido tem poder quase absoluto sobre a esposa e os filhos. Neste ponto, eles têm razão em estrilar contra "Barbie": o grande vilão do filme é mesmo o patriarcado, cuja existência a protagonista descobre quando deixa sua terra encantada para se aventurar no mundo real.
Com a ascensão dos direitos de mulheres, negros, LGBTQIA+, deficientes físicos e outras minorias (que podem nem ser numéricas, mas são minorias políticas), o patriarcado nunca esteve tão ameaçado como hoje. Homens que ascendiam na carreira pelo simples fato de serem homens agora perdem seus empregos para mulheres realmente competentes, e esperneiam.
Outro alvo da ira reacionária foi a presença da atriz trans Hari Nef como a Barbie Médica. Detalhe: muita gente só ficou sabendo que havia uma transexual no elenco do filme depois desses ataques, pois Nef passa tranquilamente por uma mulher cisgênero.
"Barbie" traz muitas piadas sobre a arrogância masculina, e de fato mostra as mulheres agindo de maneira mais esperta e concatenada do que os homens. Mas a mensagem final do filme é óbvia: além de ressaltar que ser apenas mãe é algo plenamente aceitável para qualquer mulher, "Barbie" também reafirma que todos os gêneros têm os mesmíssimos direitos e deveres, e precisam uns dos outros para co nstruir um mundo melhor.
Só que a vontade de lacrar nas redes sociais foi mais forte. A extrema-direita, mais uma vez, desnudou suas ideias retrógradas, seu desejo de continuar oprimindo os que já são oprimidos, sua infinita estupidez. Mas é o tal negócio; se não fossem estúpidos, não seriam da extrema-direita.