Prêmio da Música Brasileira confirma que Brasil não sabe fazer premiações
Edição pífia, vazios no palco e problemas de som prejudicaram a 30ª edição da festa
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Mesmo quando tudo dá certo, uma cerimônia de premiação costuma aborrecer o espectador. Os discursos de agradecimento são longos demais. As piadas dos apresentadores, sem graça. Os números musicais, desnecessários.
Quando dá errado, o que era para ser uma celebração se transforma em tortura. Foi o que aconteceu com quem se dispôs a acompanhar o 30º Prêmio da Música Brasileira, transmitido ao vivo nesta quarta (31/5) pelos canais no YouTube da própria premiação e do influenciador Felipe Neto.
Criado em 1987 pelo empresário José Maurício Machline, a premiação já passou por vários nomes de patrocinadores. Já foi Sharp, Caras, Tim. Não aconteceu em 2000 e 2001. A última cerimônia foi em 2018 —não foi realizada em 2019, 2020, 2021 e 2022. Sua volta, depois desse hiato, deveria ter sido triunfal. Não foi.
Esforço não faltou. O Theatro Municipal do Rio estava forrado de celebridades, inclusive a venerável Fernanda Montenegro. Looks luxuosos desfilaram pelo tapete vermelho, que ganhou uma transmissão de mais de duas horas. Mas os problemas pipocaram assim que começou a cerimônia em si, pouco depois das 21h30.
Lázaro Ramos e Felipe Neto fizeram o possível para transmitir ritmo e empolgação, mas o roteiro não ajudava. Um texto longuíssimo logo no início esfriou a plateia, que já não era das mais animadas. O som mal equalizado fazia com que quem estivesse em casa ouvisse apenas Lázaro aplaudindo, como se ele fosse a única pessoa presente ao teatro.
O som, aliás, estava um desastre. No primeiro número, em que Maria Bethânia e Gloria Groove dividiram os vocais de "O Meu Amor", mal se ouvia a voz das cantoras. Beira o imperdoável um prêmio de música oferecer números com uma mixagem tão ruim. A qualidade só melhorou lá pela metade da cerimônia, quando Tim Bernardes, Zé Ibarra e Fran subiram ao palco. Pelo menos fomos poupados da desafinação de Marina Sena, que cantou antes deles.
O repertório dos artistas era quase todo composto por hits de Alcione, a grande homenageada da noite. Passagens da vida da Marrom foram interpretadas pela atriz Lilian Valeska e completadas por imagens num telão. Um tributo merecidíssimo e algo tardio para uma das maiores vozes que este país já teve.
Já há alguns anos a moda nas premiações brasileiras é juntar um monte de indicados no palco, de diferentes categorias, e soltar os prêmios todos de uma vez, sem dar muito destaque a ninguém. É injusto com os vencedores, mas, por outro lado, evita que os agradecimentos se alonguem.
A cerimônia seguiu aos trancos e barrancos, com apresentadores sem saber direito o que fazer e o som de microfones vazados invadindo o áudio principal. Ninguém ensaiou antes? Nos EUA, esse tipo de programa é rigidamente cronometrado, justamente para evitar os vazios no palco. No Brasil. fica tudo com cara de ação entre amigos. Até hoje não aprendemos como fazer premiações transmitidas pela TV.
E ainda teve a presença de dois executivos das marcas patrocinadoras do evento, que foram entregar alguns dos troféus. A cabotinagem explícita só não piorou porque nenhum dos dois passou vexame.
Lá pelas tantas, alguém achou que seria uma boa ideia colocar duas imagens na tela ao mesmo tempo. De um lado, o palco do Municipal; do outro, Lúcio Mauro Filho e Felipe Vassão no saguão do teatro, comentando o que viam. Só que esses comentários eram os mais banais possíveis, do tipo "que lindo", "que maravilha", sem nenhuma informação que prestasse. E o áudio virou uma geleia geral, com todos falando ao mesmo tempo, um por cima dos outros.
Nem Alcione foi poupada. A cantora encerrou a cerimônia, interpretando alguns de seus maiores sucessos e homenageando Rita Lee com "Pagu". Mas ela mesma ficou perdida num dado momento, entre uma música e outra, quando baixou um silêncio constrangedor e ninguém dava a deixa do que a Marrom deveria fazer.
Foi, enfim, uma noite árdua para o telespectador. Parecia que não havia um diretor-geral, ou mesmo alguém com a consciência de aquilo é um programa de TV, não uma quermesse improvisada. Os técnicos de som, então, talvez estivessem fazendo greve. Vou pensar duas vezes antes de perder tantas horas do meu tempo no ano que vem.