Tony Goes

'As pessoas com deficiência não ficam mais em casa', diz influenciador cego Fernando Campos

Ativista da luta contra o capacitismo, ele celebra os avanços graças à internet

Influenciador Fernando Campos fala sobre acessibilidade - Instagram @fernandocampos

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São Luís

Fernando Campos não nasceu cego. Quando pequeno, no entanto, ele teve —retinoblastoma o mesmo tipo de câncer ocular que atinge Lua, a filha do apresentador Tiago Leifert. Fernando fez quimioterapia e radioterapia, e ainda foi se tratar nos Estados Unidos. Mas o tumor continuou a crescer, e a família tomou uma decisão radical para salvar sua vida: fazer a enucleação dos globos oculares. Ou seja, extirpar os dois olhos do garoto.

"O que me deu uma grande vantagem: eu pude escolher a cor dos meus olhos", ri Fernando, que usa próteses oculares com íris verdes. "Cada um luta com as armas que tem!"

Nascido em Natal (RN) há 30 anos, Fernando Paiva Campos é jornalista, palestrante, influenciador digital e, pasme, surfista. Viajou sozinho por muitos países da Europa, e narrou essa experiência no livro "Enxergando Além do Atlântico" Também fez teste para interpretar um jovem cego na temporada de 2011 de "Malhação", mas o diretor alegou que ele iria tropeçar nos cabos e preferiu contratar um ator que enxergasse.



No perfil de Fernando no Instagram, com mais de 280 mil seguidores, ele busca desmistificar a vida dos deficientes visuais, além de promover a inclusão e a diversidade. Mas a luta contra o capacitismo não é sua única bandeira. De casamento marcado com Bruno, ele também defende as pautas LGBTQIA+.

"Quando eu era pequeno, não havia nenhuma pessoa com deficiência na TV. Hoje a internet horizontalizou todo mundo e ofereceu oportunidade para muita gente. Isso vai muito além de mim".

De fato, as redes sociais deram espaço e fama não só a ele, mas a muitos outros ativistas da causa anti-capacitista, como Ivan Baron e Pequena Lô –assim como Fernando, também presentes ao São João da Thay, a grande festa beneficente organizada pela influenciadora Thaynara OG em São Luís (MA), onde foi feita esta entrevista.

"A gente está chegando a todos os lugares. As pessoas com deficiência não ficam mais em casa. Queremos ocupar os espaços e mostrar que nós podemos ser ativos na sociedade. Queremos que parem de nos tratar como coitadinhos".

Fernando celebra o fato de estar fazendo ações promocionais, as chamadas "publis", para muitas marcas diferentes. "Que bom que nos descobriram, né? Porque, só no Brasil, somos 40 milhões com algum tipo de deficiência física. Quarenta milhões de consumidores. Se as marcas não nos atenderem, estarão ignorando uma parte gorda do mercado".

"Eu recebo muitas mensagens de crianças e adolescentes cegos dizendo coisas como ‘eu quero ser igual a você’. Algumas mães dizem ‘meu filho vai operar o olhinho amanhã e vai perder a visão. Eu estava desesperada, mas ao ver você curtindo a vida, namorando, trabalhando, me deu uma perspectiva de futuro para o meu filho. Eu sei que agora ele vai ser ativo"’.

"Um dia, se não morrermos antes, todos nós vamos precisar da acessibilidade. Então precisamos criar desde já um ambiente acessível, tanto online quanto no mundo físico. Até hoje eu não consigo fazer algumas compras sozinho na internet, porque alguns sites não são claros para mim".

Fernando não tem lembranças visuais, mas diz que sua cor favorita é o amarelo. "Quando eu era pequeno, eu gostava do nome. Hoje eu tenho ideia do que é o amarelo, porque as pessoas me descrevem. É uma cor quente e alegre, e eu sou muito da alegria", conclui ele.

O colunista viajou a convite da organização do evento