Tony Goes

Racistas atacam 'A Pequena Sereia' preta, mas presença negra no showbiz é irreversível

'A Mulher Rei' marca virada histórica, na frente e atrás das câmeras

Halle Bailey é "A Pequena Sereia" na live-actionl da Disney - Disney

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A gritaria começou três anos atrás, quando a Disney anunciou que a atriz preta Halle Bailey seria a protagonista da versão live-action de "A Pequena Sereia". As redes sociais se encheram de comentários imbecis, do tipo "vocês arruinaram minhas memórias de infância!".

Semana passada, foram divulgadas as primeiras fotos de Halle Bailey caracterizada como a sereia Ariel. Os racistas voltaram à carga. A reclamação mais frequente foi "sereia preta não existe!". Aham, sereias não existem, seus burros. Aliás, também não existe racista inteligente.

Essa corja pode espernear à vontade, porque não vai mudar o rumo da história. Estamos vivenciando um momento de virada no mundo da comunicação: os negros começam a ocupar lugares de destaque, em frente e atrás das câmeras.

O exemplo mais fulgurante desse movimento é o filme "A Mulher Rei", que chegou nesta quinta (22) aos cinemas brasileiros. Antes da estreia, sua estrela e produtora, Viola Davis, passou pelo Rio de Janeiro, onde foi festejada como a figura fundamental que de fato é.

Assisti a "A Mulher Rei" e saí empolgado do cinema. Trata-se de um filmaço, em todos os sentidos. Viola Davis tem razão ao dizer que o longa merece ser visto não por sua importância política (que é imensa), mas por ser entretenimento de primeira linha (e é).

Outra coisa me chamou a atenção: pelo menos metade do público presente à sala era formada por pessoas pretas. Elas estão cada vez mais presentes inclusive nas plateias, e nós brancos temos não só que nos acostumarmos com isto, como também aplaudir.

Pois é, o mundo e o Brasil estão mudando. Apesar dos esforços dos reacionários da extrema-direita em nos arrastar de volta ao século 17, a realidade se impõe. Somos um país de maioria preta, e uma parcela considerável dessa população já tem um razoável poder aquisitivo e acesso à informação.

Isto se reflete no showbiz e na publicidade. Ainda estamos longe do ideal, mas é nítida a maior quantidade de personagens pretos nas novelas da Globo (Record e SBT, para variar, ainda não acordaram). Aliás, a emissora carioca vem investindo na formação de diretores e roteiristas pretos. Plataformas de streaming também vêm buscando novas narrativas pretas, que espelhem a diversidade do país.

Alguns anos atrás, seria impensável ver negros protagonizando comerciais de bancos ou automóveis. Agora, filmes assim estão no ar. Os racistas seguem espumando de ódio, mas em vão. A propaganda não faz nada por caridade: se há negros nas peças publicitárias, é porque faz sentido monetariamente.

Nos Estados Unidos, a inclusão e a representatividade estão mais avançadas do que aqui, e olha que os negros não chegam a 15% da população de lá. A ótima sitcom "Abbott Elementary", ambientada numa escola pública e disponível na plataforma Star+, é um belo exemplo disso.

Criada e estrelada por uma mulher preta, Quinta Brunson, a série foi indicada a sete prêmios Emmy nas categorias cômicas e ganhou três: melhor roteiro, melhor produção de elenco e melhor atriz coadjuvante, para Sheryl Lee Ralph.

E vem aí "Pantera Negra: Wakanda para Sempre", que estreia em novembro. A continuação do filme de 2018 da Marvel, um autêntico divisor de águas, deve ser um dos maiores blockbusters do ano, consolidando a presença negra em todos os ramos da indústria do entretenimento.

Por tudo isto, não adianta reclamar de "A Pequena Sereia" preta. A história não caminha em linha reta, mas tampouco costuma andar para trás. Como dizem os próprios reacionários: o choro é livre.