Tony Goes

Série 'Uncoupled' ri das agruras de um gay de meia-idade recém-descasado

Co-criador Darren Star também assinou 'Sex and the City' e 'Emily in Paris'

Gilles Marini e Neil Patrick Harris em cena da série 'Uncoupled' - Divulgação

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O despertar da homossexualidade masculina nunca foi tão explorado como agora pelo cinema e pela TV. Os jovens que estão se descobrindo gays têm todo um mapa da mina à disposição, que inclui filmes como "Me Chame pelo Meu Nome" e séries como "Love, Victor", do Star+, e "Heartstopper", da Netflix.

Duas décadas atrás, homens gays em outra fase da vida, dos 30 aos 40 e poucos anos de idade, se viam refletidos na pioneira "Queer as Folk". Mas a nova versão da série, em cartaz no Starzplay, diminuiu muito a idade dos protagonistas, e está mais preocupada em promover a diversidade.

Até os homossexuais mais velhos são lembrados de vez em quando, como na minissérie polonesa "Queen", da Netflix. Mas há todo um segmento dessa população que costuma ser ignorado: os gays de meia-idade, que se aproximam ou já ultrapassaram o meio século de vida.

Trata-se de uma geração que cresceu sob o espectro da AIDS, lutou por direitos e visibilidade e hoje se vê meio jogada para escanteio, num mundo que só valoriza a juventude. E é justamente essa relativa inadequação à modernidade que pode fornecer farto material para a comédia.

"Uncoupled", da Netflix, é a primeira série que ri das dores dessa turma. A premissa central é poderosa: Michael, um bem-sucedido corretor imobiliário vivido por Neil Patrick Harris, é abandonado de uma hora para a outra pelo namorado, com quem vivia há 17 anos. Subitamente solteiro, ele precisa se adaptar a "novidades" como os aplicativos de pegação e o PrEp, o comprimido que impede que o HIV se instale no organismo.

Um dos co-criadores da sitcom é um ícone do gênero, o roteirista Darren Star. Foi ele quem transformou as colunas de jornal de Candace Bushnell na série "Sex and the City", da HBO. Também é o responsável por um sucesso recente, "Emily in Paris", da Netflix. Em "Uncoupled", fez parceria com Jeffrey Richman, que escreveu diversos episódios de "Modern Family".

Star repete na nova série algumas das características de seus trabalhos anteriores. A cidade –no caso, Nova York– é quase um personagem, e surge resplandecente na tela. Todo mundo é rico, elegante e inteligente.

O protagonista também tem três amigos íntimos, com quem compartilha risadas e segredos. Os de Michael são sua colega corretora Suzanne, feita por Tisha Campbell, mãe solteira de um jovem adulto; Stanley, papel de Brooks Ashmankas, um dono de galeria acima do peso ideal e com uma enorme carência afetiva; e o meteorologista Billy, interpretado por Emerson Brooks, dono de uma voracidade sexual comparável à da Samantha de "Sex and the City".

Com a ajuda deste trio, Michael volta a frequentar boates e bares gays, em busca de companhia. Conhece vários rapazes interessantes, um mais lindo do que o outro, e todos a fim dele, o que é bem pouco realista. Mas Michael não tarda a encontrar defeitos em seus pretendentes: um é pegajoso demais, o outro não usa camisinha, e assim por diante.

Esse plot é repetido até ficar monótono e tornar Michael um chato. Além do mais, ele continua obcecado pelo ex, que nunca explicou por que quis se separar. Há uma linha fina entre a dor e o humor de cada situação, que os roteiristas nem sempre conseguem manejar a contento.

De qualquer forma, o personagem é um dos melhores da carreira de Neil Patrick Harris, que só saiu do armário na vida real quando já era uma celebridade. Em "Uncoupled", ele não se priva de aparecer nu em ousadas cenas de sexo, e usa seu carisma para jogar luz nas ambiguidades vividas por Michael.

O elenco ainda conta com Marcia Gay Harden, que ganhou um Oscar de atriz coadjuvante por "Pollock", como Claire, uma milionária recém-divorciada. Ela pede para Michael ajudá-la a vender seu imenso apartamento, e não se afasta dele depois que o negócio é concluído. Na verdade, Claire se sente muito sozinha, e está precisando se enturmar.

No fundo, esta é a mensagem central de "Uncoupled": amigos são mais importantes do que namorados. Os amores vêm e vão, mas amizades sólidas ajudam a superar quase tudo na vida. Trata-se de uma verdade que, a duras penas, muitos gays de meia-idade aprendem com o tempo.