Tony Goes
Descrição de chapéu Eleições 2022 jornalismo

Lula atropela Renata e Bonner e quase transforma entrevista em comício

Âncoras do JN foram interrompidos diversas vezes pelo candidato do PT

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Renata Vasconcellos entrou para os trending topics do Twitter antes mesmo de abrir a boca. A apresentadora do Jornal Nacional (Globo) surgiu na tela usando vistosos sapatos vermelhos. Não faltou quem concluísse daí que ela estava deixando implícito seu apoio a Luís Inácio Lula da Silva (PT), o candidato à presidência da República nas Eleições 2022 entrevistado nesta quinta (25) pelo telejornal.

Então começou a sabatina e, como de costume, a blogosfera rachou ao meio. Fãs de Jair Bolsonaro acusaram a dupla de âncoras de pegar leve demais com o ex-presidente. Já os adeptos do petista acharam que Bonner e Renata tentavam encurralar Lula a qualquer custo.

Se era mesmo este o objetivo, os dois fracassaram redondamente. O candidato, ainda mais rouco que de costume, transformou seu perceptível nervosismo numa espécie de ira santa. Deu respostas longuíssimas, escapou com garbo de algumas saias justas, ficou vermelho como um pimentão e, por mais de uma vez, encarou a câmera, dirigindo-se diretamente ao espectador.

Candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao Jornal Nacional - Reprodução/TV Globo

Também deu uma canseira nos apresentadores. Ignorou diversas tentativas de Renata Vasconcellos de interromper suas divagações, quando estas se alongavam. A jornalista foi acusada na internet de praticar "Lulaterrupting", uma brincadeira com "manterrupting" –o termo em inglês que se refere, de maneira negativa, ao hábito de alguns homens de não deixar uma mulher falar.

Verdade que as questões poderiam ter sido melhor calibradas. Renata perguntou se Lula voltaria a escolher o primeiro colocado da lista tríplice elaborada pelos procuradores na hora de escolher um novo PGR. O candidato desconversou, mas deu a entender que sim. Renata insistiu no assunto –que, convenhamos, não é uma das maiores preocupações da nação neste momento.

Já William Bonner escorregou ao cobrar de Lula responsabilidade por atos de Dilma Rousseff. É claro que todo mundo sabe que a ex-presidente só chegou ao Planalto por causa do apoio de seu antecessor. Mas a pergunta permitiu ao candidato praticamente zombar do âncora, ao lembrá-lo de que, um dia, Bonner também será substituído no Jornal Nacional. "Rei morto, rei posto", riu Lula, e a frase imediatamente virou meme nas redes sociais.

Já foram três das quatro entrevistas, e todas com climas muito diferentes. A belicosidade explícita de Bolsonaro, na segunda (22) deu lugar a uma conversa amena com Ciro Gomes na terça (23).

O que vimos nesta quinta foi outra coisa. Um político experiente, que entrou em combustão controlada: depois de uma fala mais inflamada, Lula baixava o tom e se dirigia de maneira leve aos apresentadores. Em nenhum momento foi grosseiro, e tampouco atacou a Globo.

Diante de um homem disposto a reconquistar a presidência e coroar sua biografia, William Bonner e Renata Vasconcellos tiveram a performance mais apagada desta semana até agora. Lula falou o que quis e foi pouquíssimo contestado.

Em defesa dos entrevistadores, cabe dizer que nem sempre é possível controlar um entrevistado. Às vezes, de um ponto de vista jornalístico, é até melhor deixá-lo falar sozinho. Outras vezes, a história se desenrola incólume à frente dos nossos olhos, à revelia de qualquer interferência