Tony Goes

Marina de la Riva mistura influências cubanas e brasileiras em novo disco e show

Cantora estreia turnê neste domingo (3/7), em São Paulo

Marina de la Riva - Divulgação

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As luzes do teatro se apagam, e a banda começa a tocar "Cuba Linda". Depois de alguns acordes, a música muda: agora é "Ela É Carioca". Essa introdução, digamos, bilíngue, serve de deixa para Marina de la Riva. Ela entra no palco para uma audição do show "Raíces Compartidas", diante de uma plateia de convidados, no dia 21 de junho, e transforma Cuba e Brasil numa coisa só.

Nascida no Rio de Janeiro, criada em Baixa Grande da Leopoldina, no norte fluminense, e há 26 anos em São Paulo, Marina é a mais cubana das cantoras brasileiras. Seu pai saiu de Cuba em 1958, pouco antes da revolução. Passou quatro anos em Miami antes de vir para o Brasil, onde se casou com uma mineira e teve cinco filhos (Marina é a número três).

A garota cresceu ouvindo rumbas e boleros, e seu talento musical aflorou cedo. Cantava em festinhas de família, às vezes contra sua vontade. Numa dessas ocasiões, foi notada por uma sobrinha do empresário da noite Ricardo Amaral. Pouco depois, Marina estreava como cantora profissional no extinto bar Flag, em São Paulo. O primeiro disco só veio aos 35 anos.

"Eu fugi o quanto pude da vida de artista", conta ela em entrevista ao F5. "Fui estudar direito no Rio. Meus dois pais fizeram vestibular para o mesmo curso, e não só passaram como caímos todos na mesma classe. Mas eles se formaram, e eu larguei a faculdade no meio."

Marina só terminou o curso no ano passado. Aproveitou o confinamento para retomar os estudos, fez aulas online e se especializou em bioética. Mas não vai exercer tão cedo a nova profissão: o fim da pandemia também marca a retomada de sua carreira musical, suspensa por quase dois anos.

Gravou em outubro de 2021 seu quarto álbum de estúdio, "Raíces Compartidas", lançado em abril passado. No próximo domingo (3), inicia uma turnê por alguns estados brasileiros se apresentando no Sesc Pinheiros, na capital paulista.

O disco foi feito em Los Angeles, com alguns dos melhores músicos de origem cubana radicados nos Estados Unidos. O repertório mistura canções em espanhol e português. Uma das faixas, aliás, aparece em duas versões, uma em cada língua: a salsa de sabor brasileiro "Ai, Ai, Ai", de Ivan Lins e Vitor Martins.

O primeiro single é a clássica "Cachito", um dueto com Ney Matogrosso. Ainda há o standard da bossa nova "Influência do Jazz", "Bésame Mucho" com um arranjo digno de João Gilberto e uma única inédita, composta pela própria Marina: "Y Que Sabes Tú".

"¿Qué sabes tú de los horrores?/¿Qué sabes tú de la realidad?", diz a letra ("o que você sabe dos horrores?/O que você sabe da realidade?"). Pode ser interpretada como um desabafo amoroso, mas também um manifesto político. Cabe feito uma luva –ou uma carapuça– nos influenciadores digitais que mancham reputações alheias, sem nenhuma empatia ou solidariedade.

"O Brasil está convulsionado. Estamos perdendo o respeito", afirma Marina –que, mesmo assim, evita declarar apoio a este ou aquele candidato. Mas ela não se furta às críticas a ditadura que ainda vigora em Cuba, país onde já esteve três vezes.

"Eu vi mortes físicas e mortes internas. Tive parentes fuzilados, minha família foi dilacerada. Quando eu penso em política, eu penso em humanidade. E, assim como o Buda, acredito no caminho do meio. Já vivi os extremos, e nenhum deles vai dar uma vida digna para todos. Só para um grupo de pessoas."

Marina faz questão de ressaltar que seu canto é livre, e que esta liberdade lhe dá forças para seguir. As faixas de "Raíces Compartidas" são longas: algumas superam os cinco minutos de duração. Não foram pensadas para gerar dancinhas no Tik Tok. Mas isto não quer dizer que ela se mantenha distante das novidades.

"Eu ouço de tudo na MPB, começando pelos fundamentais: Caetano, Gal, Bethânia, Chico..." É interessante ressaltar que Marina e Chico Buarque, um apoiador do castrismo, já gravaram juntos, e ele deu muita força no começo da carreira dela. "Também adoro Alice Caymmi, Emicida, Criolo, Céu, Mariana Aydar, Roberta Sá, Nina Becker, Los Hermanos, João Bosco, Iza, Jão, Fabiana Cozza, Pretinho da Serrinha, Rodrigo Maranhão, Pedro Miranda..."

E os cubanos? "São mais difíceis de acompanhar, porque estão muito dispersos. Tem muitos exilados. Mas eu sou louca pelos rappers de Cuba, que criticam o regime e fazem rádios piratas. Também gosto muito da Haydée, filha do Pablo Milanés, do movimento San Isidro, de Alex Cuba, de Yotuel."

Esse mix de influências se reflete em "Raíces Compartidas", mais um passo importante no tema que domina a carreira de Marina de la Riva: construir pontes e revelar atalhos entre as culturas do Brasil, de Cuba e de toda a América Latina.