Tony Goes

Ratinho demonstra desespero ao sugerir que deputada seja metralhada

Com audiência em queda, apresentador se rebaixa para ganhar mídia

Ratinho - Fabio Braga - 9 jun.11/Folhapress

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Em janeiro de 2011, a deputada americana Gabby Giffords, do partido Democrata, levou um tiro na cabeça durante um comício. O criminoso ainda baleou outras 15 pessoas, e seis delas morreram –inclusive uma criança de 10 anos. Giffords sobreviveu, mas com sequelas que a fizeram desistir de sua carreira política.

Nos meses anteriores ao atentado, diversos nomes do partido Republicano compartilharam em suas redes sociais um meme em que alguns de seus rivais democratas apareciam sob a mira de um fuzil. A mensagem era óbvia: vamos metralhá-los! Força de expressão? Só até o ponto em que um maluco seguiu a "recomendação" ao pé da letra.

O apresentador Ratinho fez coisa parecida, se não pior. Em seu programa de rádio desta quarta-feira (15), ele atacou covardemente a deputada federal Natália Bonevides (PT-RN). O motivo de sua indignação era um projeto da parlamentar, que propõe que as palavras "marido e mulher" sejam retiradas das celebrações de casamentos civis. O que faz todo sentido, pois o casamento entre pessoas do mesmo sexo existe no Brasil há mais de 10 anos, e nem todo casal é formado por marido e mulher.

"Natália, você não tem o que fazer?", vociferou Ratinho. "Vai lavar roupa, costurar a ‘carça’ do seu marido, a cueca dele. Isso é uma imbecilidade, querer mudar esse tipo de coisa. Tinha que eliminar esses loucos. Não dá para pegar uma metralhadora?"

Não, não dá, porque o Brasil ainda é uma democracia. Aqui as coisas não se resolvem pela violência. Ou, pelo menos, não deveriam.

Ratinho tem todo o direito de discordar do projeto da deputada. Também tem o direito de fechar os olhos e não perceber que o mundo ao seu redor está mudado, e que o projeto de lei proposto por Bonevides apenas reflete uma realidade que já existe há muito tempo. Ser tapado não é crime.

Mas o apresentador não tem o direito de agredir a parlamentar com retórica machista. Ao dizer que ela deveria lavar as "carça" do marido, ele está mostrando que não reconhece as mulheres como agentes políticos, e que elas deveriam se ater às tarefas domésticas.

Como se isso fosse pouco, Ratinho ainda sugere que alguém pegue uma metralhadora para eliminar Natália Bonevides. Bolsonaro, aliás, fazia coisa parecida na campanha de 2018, ao sugerir que a "petralhada" fosse fuzilada. Não aconteceu nada com o então candidato.

Vai acontecer alguma coisa com Ratinho? Talvez. Natália Bonevides vai entrar na Justiça contra ele. A repulsa de boa parte da sociedade também mostra que o apresentador conseguiu enlamear sua imagem ainda mais, como se isto fosse possível.

Mas Ratinho não está nem aí. O que ele quer neste momento é voltar aos holofotes, já que seu programa no SBT perdeu 40% de sua audiência nos últimos três anos e não é mais o vice-líder do horário.

Em franca decadência, o apresentador decidiu apelar. E tentar atrair aquela franja da extrema-direita que é contra os direitos das minorias, a favor da posse indiscriminada de armas e apoiadora fiel de Bolsonaro, por mais rachadinhas que emerjam por aí.

É a cartilha do estrategista político americano Steve Bannon: excite a sua própria bolha, mantenha-a sempre mobilizada, ignore os críticos e a imensa maioria da população. Bolsonaro e seu clã seguem à risca esses mandamentos, na esperança de se eternizar no poder.

Só que a estratégia já se mostrou furada. Donald Trump foi derrotado em 2020, e o mesmo destino parece aguardar o atual presidente em 2022. Fica a dica, Ratinho.