Brasileira conta como fez figuração em mais de 100 filmes e séries
De 'The Crown' a 'House of the Dragon', Anna Moreno está em todas
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A lista é extensa: tem “Guardiães da Galáxia”, “Killing Eve”, “Trama Fantasma”, “Ted Lasso”, “Star Wars – O Despertar da Força”, “Everest”, “Tom & Jerry – O Filme”, “Céu da Meia-Noite”, “Mary Poppins” e muitos, muitos outros títulos. Nenhum ator famoso ostenta uma filmografia tão impressionante.
Praticamente não há filme ou série rodado nas cercanias de Londres nos últimos 12 anos de que a brasileira Anna Moreno, 57, não tenha participado. No entanto, ela não é conhecida: seu nome só aparece nos créditos finais, em meio a dezenas de outros. Às vezes, a própria Anna tem dificuldade em se reconhecer na tela.
“Fiquei muito desapontada quando vi “Dumbo”. Eu não me vi em nenhuma cena! Mas trabalhar com Tim Burton foi uma experiência incrível”, conta ela, por telefone. “Já em “Cruella” eu apareço bastante, na cena do baile preto e branco. Só que de máscara...”.
Esse tipo de frustração faz parte da profissão de figurante, que Anna exerce há 12 anos. No Reino Unido, eles são chamados de extras, ou supporting artistes –geralmente, pela sigla SA. É um trabalho exaustivo: não é raro ter que acordar às 4h, enfrentar horas de maquiagem e até mesmo passar frio, quando a filmagem acontece numa locação externa. Mas também é muito divertido.
Anna começou por acaso. Em 2009, ela se inscreveu no site da StarNow, uma grande agência de figurantes, com filiais em diversos países. Pagou uma taxa de cinco libras (o equivalente a R$ 37,50, pelo câmbio atual) e logo foi chamada para seu primeiro trabalho: “Housefull”, um longa de Bollywood que tinha cenas rodadas em Greenwich, na região metropolitana de Londres. Adorou a brincadeira, e não parou mais.
“Antigamente, os estúdios forneciam transporte quando a filmagem era fora da cidade. Hoje, por causa da Covid-19, eu tenho que ir por conta própria, com o meu carro. Eles também gostam de chamar figurantes de uma mesma “bolha” –pessoas que moram juntas, o que diminui os riscos de transmissão do vírus. Aqui em casa, todo mundo faz figuração”.
Anna se mudou para o Reino Unido no começo da vida adulta. Entre idas e vindas, já acumula 25 anos no país. Casou-se com um inglês e tem dois filhos –um rapaz de 24 anos e uma moça de 22– que, embora nascidos no Brasil, se consideram britânicos.
A profissão de extra paga razoavelmente bem. Há uma tabela para filmes de cinema, outra para séries de TV, e uma série de itens que podem aumentar o cachê recebido: número de horas de trabalho, distância do estúdio do centro da capital e por aí vai. Anna tira no mínimo 120 libras por dia, aproximadamente R$ 900 –o que parece ótimo para o padrão brasileiro, mas não tanto quando se leva em conta o elevado custo de vida em Londres.
Mas as histórias acumuladas compensam qualquer sacrifício. Anna já conversou com Meryl Streep, no set de “Florence Foster Jenkins”. Fez três filmes com Brad Pitt, que ela jura ser ainda mais bonito em pessoa. Encarnou uma aristocrata elegante em “The Crown” e uma humilde camponesa em “House of the Dragon”, a prequela de “Game of Thrones” que estreia em 2022.
De vez em quando, ela até ganha uma fala. A mais recente foi na minissérie “This Sceptered Isle”, ainda sem data de estreia. Anna faz uma mulher hospitalizada, e seu colega de cena foi ninguém menos que Kenneth Branagh, interpretando o primeiro-ministro Boris Johnson.
Dá para viver disso? “Dá, mas é meio incerto”, afirma ela. “Às vezes passo um mês sem nada, aí aparecem vários trabalhos ao mesmo tempo”. Anna lamenta não ter participado do terceiro filme da franquia “Animais Fantásticos”, depois de ter aparecido nos dois primeiros. “Fiquei de fora justamente daquele que se passa no Brasil”, lamenta.
Ela tem sorte de ter um tipo físico que a faz ser muito requisitada pelos diretores de elenco. Na próxima semana, será uma freira no filme de terror “Congregation”. Depois, quem sabe?